Cine The Playoffs: Meu nome é Rádio
A fábula real do esporte como fator positivo de mudança na vida de um deficiente mental e seu treinador
Ele anda com seu carrinho de supermercado pelos arredores da escola secundária T. L. Hanna, na cidadezinha de Anderson, Carolina do Sul. Entre as quinquilharias que carrega está um velho rádio de pilha. Enquanto observa o treino do time de futebol americano do colégio, uma bola oval passa por cima da grade que o separa dos estudantes. Ao invés de devolvê-la, o rapaz pega a bola para si e guarda-a como uma relíquia.
Essa é a primeira impressão que o treinador Harold Jones (Ed Harris) tem de Radio (Cuba Gooding Jr.), um jovem deficiente mental que sofre o preconceito e a alienação por parte dos habitantes da cidade. Quando, em uma segunda oportunidade, Jones salva o rapaz de um abuso infligido pelos atletas do time, tem início uma relação de companheirismo e amizade poucas vezes vista em um filme com essa temática.
Essa é a premissa do competente Meu nome é Rádio (Radio, 2003, Dir,: Michael Tollin), baseado na história real de James Robert Kennedy retratada pela primeira vez no artigo de Gary Smith de 1996 publicado na revista Sports Illustrated. À época em que a trama começa, Radio tem 23 anos e nenhum contato real com outro ser humano a não ser sua própria mãe, com quem mora desde que nasceu.
Com dificuldades em entender, ser entendido e, por conta disso, de se relacionar, o rapaz surpreende os alunos e grande parte do corpo docente do colégio Hanna ao comparecer aos treinos do time convidado pelo próprio técnico, que enxerga em Radio uma oportunidade de compensar uma omissão cometida em um passado distante.
Aos poucos, Jones e Radio desenvolvem mais do que uma rotina de aprendizado mútuo, e avançam para o campo do afeto e da cumplicidade. Em momentos distintos, essa situação coloca o treinador em uma posição antagônica com o melhor atleta do Hanna Yellow Jackets, a comunidade local e sua própria família, que, a princípio, parece não entender por qual caminho o pai quer seguir com seu protegido.
O futebol americano – e, em muitos momentos, o basquete também – entra na equação da história como a “liga” que une Radio a seus novos companheiros que se tornam amigos e, cada um a seu tempo, admiradores de sua persistência e força de vontade. A evolução de Radio é indescritível, algo a que a atuação de Gooding Jr. – um habituée de filmes esportivos – se presta de maneira bárbara.
Mesmo que, em muitos momentos, os fatos e ações do filme percam um pouco de seu tom verossímil, terminamos a sessão acreditando piamente em tudo ao que assistimos sobre Jones e seu pupilo (as cenas documentais durante os créditos finais tem aí sua grande utilidade), e sorrimos a cada risada desengonçada de Radio, como se estivéssemos aprendendo a amar um pouquinho mais o ser humano e, de quebra, o próprio esporte.
Assista ao trailler de Meu nome é Rádio: