Apesar das críticas, a contratação de Jay Cutler faz sentido para os Dolphins
A decisão de Miami de tirar Cutler da aposentadoria foi muito questionada, mas foi correta e explicamos por que
O Miami Dolphins certamente causou algumas interjeições de espanto ao anunciar no dia 6 de agosto a contratação de Jay Cutler. Aos 34 anos e recém-aposentado, Cutler fechou com o time por US$ 10 milhões, em contrato válido por um ano. No ano passado, que parecia ser o último da carreira, foram apenas cinco jogos disputados, em virtude de lesões.
A equipe da Flórida ficou sem o quarterback titular Ryan Tannehill, que não joga mais nesta temporada, em decorrência de uma hiperextensão no joelho esquerdo, o mesmo que já havia sido afetado por uma ruptura parcial do ligamento cruzado anterior, em dezembro do ano passado. Diante desta situação, Miami decidiu agir de maneira prudente e tratou logo de contratar um quarterback com experiência e disponível no mercado. Eis que entra Jay Cutler na história.
“Mas afinal, o que teria levado os Dolphins a contratarem um jogador tão controverso?”, perguntaram-se muitos. Não é segredo para ninguém que Cutler passou longe de ser unanimidade durante as oito temporadas no Chicago Bears, tanto entre comentaristas quanto entre os próprios companheiros de time. Demonstrava certo desinteresse pelo esporte, lidando com problemas de maneira aparentemente descompromissada, levando muitos a questionarem o profissionalismo do quarterback. Esse comportamento o afetava até mesmo dentro do vestiário, onde não era uma das figuras mais populares entre o resto do elenco.
Cutler não era a única opção disponível para os Dolphins. A equipe ainda conta com Matt Moore, backup de Tannehill e que volta e meia é citado como o melhor quarterback reserva da NFL. Quando assumiu a posição no fim da temporada passada, após a lesão de Tannehill, Moore não decepcionou: nas quatro partidas que disputou ao fim da temporada regular (três como titular), completou 55 dos 87 passes tentados (63,2% de aproveitamento) para 721 jardas, oito passes para touchdown e três interceptações, com um ótimo rating de 105,6. No wild card dos playoffs, foram 29 passes completados em 36 tentados (um excelente aproveitamento de 80,6%) para 289 jardas, um touchdown e uma interceptação, com rating de 97,8. A favor do quarterback de 33 anos está o fato de jogar no time desde 2011, além de ser uma alternativa, no mínimo, mais barata.
No mercado de free agents, evidentemente, o primeiro nome a ser citado foi o de Colin Kaepernick. O polêmico ex-quarterback dos 49ers ainda não conseguiu fechar um contrato para esta temporada, em meio a especulações de que os protestos que fez no ano passado, ao ajoelhar durante a execução do hino nacional americano, são o principal motivo pelo qual times têm hesitado em procurá-lo. Com o anúncio da contratação de Cutler, não foram poucas afirmações de que Kaepernick seria uma opção melhor.
O valor do contrato oferecido a Cutler também foi alvo de questionamentos. Pagar US$ 10 milhões é um preço significativo para uma equipe que deve enfrentar problemas com o salary cap em 2018. Ainda que o contrato seja válido apenas para este ano, elimina a possibilidade dos Dolphins contarem com esse dinheiro no ano que vem como carryover de 2017. Vale lembrar que o contrato de Jarvis Landry é válido somente até o final da atual temporada.
Com todos esses argumentos contrários, é natural que a pergunta apareça: afinal, vale realmente à pena para os Dolphins contar com Cutler nesta temporada?
A resposta é sim.
O fator principal, que pesou tanto para o jogador quanto para a equipe, é a presença do head coach Adam Gase. Coordenador ofensivo dos Bears na temporada 2015, Gase foi responsável por o que muitos consideram a melhor temporada da carreira de Jay Cutler: em 15 jogos, foram 3.659 jardas, com 21 passes para touchdown. As interceptações, que foram um problema constante ao longo dos anos em Chicago, caíram para 11. Uma razão de 1,91 touchdown para cada interceptação lançada, com alguma folga, a melhor da carreira. O rating, de 92,3, também foi o melhor do quarterback. Os sacks, outra eterna dor de cabeça nos Bears, caíram significativamente, com média de 1,93 por jogo.
Em Miami, Cutler chega já conhecendo o sistema de Gase. Contará com um bom grupo de wide receivers, liderado por Jarvis Landry, além do recém-contratado Julius Thomas como tight end. Há ainda um excelente running back em Jay Ajayi para dividir a produção ofensiva e atrair a atenção da defesa adversária, graças a uma utilização mais constante do jogo terrestre.
Há ainda de se considerar alguns fatores aqui. O principal é a escassez de bons quarterbacks no mercado, ainda mais para uma situação tão específica quanto essa. Citar os contratos de Mike Glennon e Brock Osweiler seria covardia, mas se os dois valem, respectivamente, 15 e 18 milhões por temporada, investir 10 mi em uma opção provavelmente melhor torna-se aceitável, sem contar que o preço está bem abaixo do valor de mercado para um quarterback de calibre e experiência semelhantes ao de Cutler.
Apesar dos altos e baixos (que podem também ser atribuídos aos problemas dos Bears no ataque), não há muito o que discutir quanto ao talento. A força no braço acima da média e o estilo agressivo, capaz de criar jogadas extremamente difíceis, são características marcantes do quarterback, e ainda o credenciam como uma escolha para ser titular do time. E, tendo Matt Moore de backup, os Dolphins contam com alguma segurança na posição.
Pode ser que o contrato de Cutler ainda venha a assombrar Miami na próxima temporada, e esse será o principal problema. Ao analisar a situação sob diversos pontos de vista, no entanto, fica evidente que essa era a melhor alternativa dentre as que foram apresentadas aos Dolphins. A aposta carrega alguma dose de risco, é verdade, mas oferece mais segurança em outras frentes. Nessa emergência, em que sair sem prejuízo era impossível para Miami, o salary cap apertado será o preço pago, problema que pode ser contornado por meio de trocas.
Apesar da idade e da quase aposentadoria ao fim da última temporada, não há dúvidas de que o quarterback sente que ainda tem alguma coisa a provar após ser dispensado pelos Bears. Com Adam Gase na sideline e tendo à disposição um sistema em que se sente à vontade, talvez esteja aí a faísca para reacender a chama de Jay Cutler.
O que, à primeira vista, parecia ser um péssimo negócio para os Dolphins foi, na verdade, uma excelente solução. No domingo, teremos a primeira chance de vê-lo em ação pela franquia, em duelo fora de casa, contra o Los Angeles Chargers, pela Semana 2 da NFL – o jogo de abertura foi adiado para a Semana 11, por conta do furacão Irma.
(Foto: Hannah Foslien, Thomas B. Shea/Getty Images)