ANÁLISE TÁTICA: o ataque do Baltimore Ravens
Como o ataque dos Ravens obtém tanto sucesso através do jogo corrido? Tentamos explicar pra você
Não há um time mais quente no momento que o Baltimore Ravens, e todo este hype em volta da equipe se dá pelas atuações explosivas de Lamar Jackson e do jogo terrestre da equipe. Após dois títulos conquistados por conta de uma defesa absolutamente dominante, a franquia aposta alto no outro lado da bola para chegar a mais um Vince Lombardi.
Após atropelar os Dolphins no início da temporada, os Ravens não eram levados a sérios, afinal, uma derrota para os Chiefs evidenciou problemas nos dois lados da bola e deu a impressão de que o time dominaria apenas adversários mais fracos. Algumas semanas depois, a equipe atropelou New England e Houston, em jogos nos quais os adversários sequer tiveram chances.
Com uma incrível média de 203 (54 a mais que o segundo melhor) jardas por partida conquistadas pelo jogo corrido, a grande chave do sucesso é justamente a eficiência pelo chão, mas com isto é possível? Como que os comandados de John Harbaugh obtêm tanto resultado no jogo terrestre?
Separamos alguns fatores que explicam a eficiência do jogo corrido e o impacto que isto traz ao jogo de Baltimore.
(Foto: Reprodução Site/Baltimore Ravens)
1) O fator Lamar:
Obviamente, não poderíamos começar a análise sem apontar o grande responsável pelo efeito no time: Lamar Jackson. O quarterback foi selecionado no Draft 2018, assumindo o time quando Harbaugh desistiu de acreditar que Joe Flacco poderia voltar aos melhores tempos. Mesmo com o playbook pensado em um QB sem mobilidade, Lamar conseguiu impactar o ataque a ponto de fazer uma corrida e levar a divisão. Nos playoffs, contudo, uma derrota no primeiro jogo.
Em 2019, já definido como QB número 1, o playbook trouxe variações para aproveitar toda a habilidade atlética única de Lamar. Neste ponto, vale destacar o confronto contra os Texans, pela Semana 11 desta temporada. Em duas terceiras descidas, o time alinhou em empty backfield (sem RBs ou FBs), dando a leitura inicial para a defesa adversária de que a jogada seria um passe. Na primeira, o time converteu as seis jardas que precisava através um passe no TE. Na segunda, a defesa naturalmente abriu mais espaços, tentando cobrir todas as zonas de passe, e Lamar aproveita a abertura do gap B para correr as quatro jardas que faltavam.
O fator Lamar é justamente isto: o jogador adiciona possibilidades, pois Joe Flacco e até mesmo grandes QBs (Brady, Stafford, Rivers) não converteriam esta descida correndo. Ou seja, teriam de arriscar passe numa janela mais fechada, ou sofreriam um sack pela demora em se livrar da bola.
2) O Heismann Backfield:
Poucos times da NFL conseguem agregar tanta qualidade atrás no backfield quanto os Ravens. Por isto, surgiu a ideia do “Heisman Backfield”, que reúne 3 jogadores que venceram o prêmio de melhor jogador universitário lado a lado no ataque de Baltimore.
A partir disto, Mark Ingram (2009), Robert Griffin III (2011) e Lamar Jackson (2016) alinham e têm uma grande variedade de jogadas possíveis. Contra os Bengals, na Semana 10, Jackson recebeu o snap, fingiu um handoff para Ingram (o que paralisa o LB adversário, responsável por Ingram) e correu pro lado oposto.
Ao se deslocar, o QB pode fazer um pitch para RGIII ou pedir que seu backup até mesmo lidere o bloqueio para sua corrida. No caso, Lamar fez o pitch e RGIII seguiu com a jogada e conquistou o first down. Isto acaba por confundir a marcação e abre muitas possibilidades ao ataque.
https://www.youtube.com/watch?v=iHDHGKxtrCw
Este tipo de variação é o que explica que o time não recaia sobre as mesmas formas de corrida, impossibilitando as defesas de se prepararem para todas as possibilidades de corridas adversárias. E este é mais um dos fatores que explicam a média incrível de 5,7 jardas por tentativa de corrida (ou seja, em média, a cada duas corridas, se conquista um first down).
O Heisman Backfield é uma demonstração ótima de como esse ataque pode variar através de seu backfield para obter sucesso. Este dinamismo é uma das chaves para o sucesso.
3) Movimentações e Bloqueios:
De nada adiantaria o backfield ser recheado de qualidade se a linha ofensiva falhasse em seus bloqueios. Normalmente, o sucesso de um jogo terrestre é atribuído à OL, pois ela abre os gaps que precisa e realmente pavimenta o jogo por terra.
Contudo, nos Ravens, isto vai além. Os fullbacks e tight ends cumprem muito bem o seu papel de bloquear os jogadores adversário, o que é esperado, mas nem todo time obtém sucesso com esses bloqueadores. Os recebedores, por sua vez, aparecem tão comprometidos com os bloqueios quanto os demais, fazendo toda a diferença na forma como se abrem espaços para as corridas.
Além dos acerto nos bloqueios, as movimentações pré-snap acabam ajudando bastante na liderança das corridas. No jogo contra o New England Patriots, na Semana 9, isto ficou evidente. No vídeo abaixo, você pode conferir a variedade de bloqueios e movimentações, e todas elas acabam congelando a defesa dos Patriots por tempo o suficiente para abrirem espaços.
Por exemplo, na corrida abaixo desenhada para o lado direito, a linha faz sua movimentação para ocupar a DL, enquanto o RT Orlando Brown sai direto para ocupar o LB Andrews. A corrida inicial de Lamar atrai Kyle Van Noy o bastante para que o pitch para Mark Ingram seja eficiente. Com isto, o bloqueio do fullback dos Ravens acerta em cheio o safety adversário e Ingram avança para o first down.
https://www.youtube.com/watch?v=G8CCsKu6bIY
Este tipo de eficiência, tão comum aos Patriots, foi decisiva para o domínio absoluto da equipe sobre os atuais campeões, resultando numa expressiva vitória por 37 a 20. E, por mais este fator, os Ravens parecem imbatíveis neste momento.
4) Tempo de Posse:
Você já deve ter ouvido sobre a importância de controlar o relógio na NFL. Ora, a melhor maneira de fazer isto é correr com inteligência. Quando se consegue proteger a bola e ganhar jardas pelo chão, naturalmente o seu time terá maior posse de bola que o adversário.
Entretanto, corrida não te dá apenas posse de bola. Um bom jogo terrestre acaba por cansar a defesa adversária, que fica muito mais tempo em campo e, ao final do duelo, já não consegue mais ocupar gaps e aplicar tackles com a mesma eficiência. Você se surpreenderia se eu dissesse que o líder em posse de bola é o Baltimore Ravens? Aposto que não.
O time, em média, fica com a bola por quase 35 minutos nas partidas, limitando os adversários a 25 minutos de posse. Com isto, além de maiores chances de marcar, a equipe se impõe fisicamente sobre os oponentes e obtém vantagem para o último quarto de partida. Apesar de ser um pouco mais consequência do que causa, o tempo de posse também explica o sucesso da franquia até o momento.
Após essa breve análise, fica a pergunta: quem será capaz de levantar uma parede e impedir os Ravens de correrem até o título?
Obs: para todos aqueles que chamavam Lamar Jackson de running back, o candidato a MVP já conseguiu conectar passe para 9 jogadores diferentes anotarem TDs. Além disto, é o único quarterback na história a ter o rating perfeito em dois jogos na mesma temporada. Este “RB” é o bom o bastante pra você?