ANÁLISE TÁTICA: como os Packers impuseram jogo corrido e defesa para vencer os Cowboys
Entenda como Aaron Jones foi tão efetivo e como Dak Prescott jogou tão mal no clássico da última rodada
A quinta semana da NFL nos trouxe um duelo entre duas das mais tradicionais equipes na história da NFL, Green Bay Packers e Dallas Cowboys. As duas equipes se encontraram em um jogo entre as principais forças da NFC neste início de temporada. Porém, graças a um ótimo gameplan ofensivo e uma defesa eficiente e sem piedade dos erros dos donos da casa, o jogo fugiu do equilíbrio desenhado antes da bola rolar. O placar final foi 34 a 24 para Green Bay, porém os 10 pontos de diferença não demonstram a realidade da atuação dominante que a equipe visitante teve.
Matt LeFleur (head coach dos Packers) seguiu o plano de jogo do seu ex-patrão Sean McVay no divisional dos playoffs de 2018. Naquele jogo, Todd Gurley e C.J. Anderson combinaram para 238 jardas. No domingo, Aaron Jones combinou para 182 jardas totais entre o ar e chão, botando a bola na end zone 4 vezes e envolvendo a temida defesa de Dallas. Os sucessos dos RBs nesses jogos são graças ao sistema de bloqueio em zona da “escola McVay/Shanahan”, que não chama atenção como os ataques “air raids” históricos da NFL nos últimos anos, mas foi o principal fator nas campanhas de Super Bowl dos Rams e Falcons nos últimos anos.
Nesse esquema os bloqueadores de Green Bay não precisavam necessariamente vencer o duelo contra os defensores, e sim guiá-los em uma certa direção, aproveitando da agressividade dos linebackers dos Cowboys para pegar o time no contrapé com handoffs fora do tempo normal para Jones, e com traps que mostrava falsos espaços para os defensores nas jogadas. Com isso, corredores se abriam para Aaron Jones, que com um corte deixava os defensores avançando fora de posição para se reposicionar e atacar o jogo terrestre. Estabelecendo o jogo pelo chão, Aaron Rodgers não precisava se expor muito e a partida foi completamente controlada por Green Bay.
No lado defensivo, Green Bay se aproveitou da fragilidade gritante na OL dos Cowboys, alinhando seu principal pass rusher, Zadarius Smith, diante do left tackle reserva adversário Cam Flemming. Smith, muito rápido e forte para Flemming, que nesse ponto não parece ser um LT de nível da NFL, pressionou e agrediu Dak Prescott durante todo o jogo. Forcando sacks decisivos e interceptações do QB de Dallas, ficou evidente que Dak mantinha a atenção em Smith durante todas os dropbacks e não conseguia ler corretamente a defesa, se precipitando e prejudicando o ataque dos Cowboys.
Uma atuação ofensiva anêmica de Dallas, que só começou a aparecer no final do terceiro quarto, com o jogo praticamente definido e os Packers visivelmente tirando o pé do acelerador. Uma atuação que põe em cheque o ataque de Kellen Clemens (OC dos Cowboys). Cotado para ser HC nos próximos anos, Clemens não conseguiu encontrar nenhum ajuste ofensivo durante o jogo. Um time que duas semanas atrás parecia ser uma das principais forças da NFL, desapareceu diante de duas fortes defesas em New Orleans e Green Bay, levantando a questão se realmente os Cowboys são tão fortes como esperávamos ou se somente estavam se aproveitando das limitações dos adversários.
A verdade é que Dallas tem uma das melhores linhas ofensivas da NFL quando todos estão saudáveis, isso facilita demais a vida de Dak Prescott e Zeke Elliot. No entanto, com as contusões de Tyron Smith e Lael Collins nas posições de tackle, a proteção caiu muito de rendimento. O resultado tem sido um Dak perdido em grandes pontos do jogo e um Zeke pouco efetivo por grande parte das partidas. Clemens precisa mostrar uma forma de ajustar o time nessas adversidades com seu planejamento e ainda aproveitar as melhores armas ofensivas do time. Claro que qualquer time na NFL vai ter uma queda de rendimento caso perca seus dois tackles. A queda é compreensiva, porém Dallas não pode tentar operar da mesma forma como opera com seus tackles de alto nível e acreditar que vai manter o mesmo nível ofensivo. Isso para mim é o grande erro dessa comissão técnica.
Do outro lado, Mike Pettine (DC dos Packers) merece os méritos de ter arrumado essa defesa. Green Bay este ano vem com um front seven de alta velocidade, que consegue perturbar o QB durante grande parte da partida, com ênfase em abrir espaço para que Zadarius Smith consiga ter duelos mano a mano contra bloqueadores. Na secundária, Jaire Alexander vai se firmando como o principal nome do grupo, com um faro para turnover. A interceptação no drop de Amari Cooper foi decisiva para estabelecer o ritmo do jogo.
O Green Bay Packers nesse momento parece ser uma das principais equipes da NFL. Caso Pettine consiga manter a consistência defensiva durante a temporada e o relacionamento LeFleur e Rodgers evolua em um nível em que QB e HC confiem plenamente um no outro, esse time tem potencial de Super Bowl.
Por Raphael Fraga
(Foto: Richard Rodriguez/Getty Images)