A AFC está inferior à NFC e não é a primeira vez que isso acontece
Na coluna desta semana, Raphael Fraga traz a contextualização histórica e a análise sobre qual o lado mais competitivo da NFL
Em 1966, as duas grandes ligas de futebol americano fecharam um acordo de unificação que mudaria a trajetória do esporte para sempre. Quatro anos depois tivemos a primeira temporada da NFL e AFL unificada, um período que ficou conhecido para sempre como “O Merger”, a unificação das duas ligas.
Mas para os especialistas da época, a AFL (atual AFC, Conferência Americana) era bem inferior à NFL (atual NFC, Conferência Nacional). Isso foi reforçado pelas partidas entre as duas equipes nos primeiros anos após o acordo em 66 e seguiu no dois primeiros Super Bowls erguidos pelos Packers.
No Super Bowl III, o New York Jets de Joe Namath surpreendeu a todos quando venceu o antigo Baltimore Colts, dando o primeiro título à conferencia que representava a AFL. Durante a década de 70, a situação se inverteu um pouco com as grandes equipes dos Steelers, Dolphins e Raiders.
Porém, durante as décadas de 80 e 90, a NFC mais uma vez voltou a dominar a liga. Liderados pelos 49ers de Walsh, Montana e depois Young, a Conferência Nacional travou grandes rivalidades internas neste período; primeiro com os Giants de Bill Parcells e depois com os Cowboys de Aikman, Smith e Irving. Durante muito tempo a final da NFC já era considerada o jogo para definir o campeão do Super Bowl, que era consenso geral de que não reunia os dois melhores times da liga.
Após 13 anos sucumbindo ao domínio, a AFC voltou a vencer graças aos Broncos de John Elway em 98 e 99. A virada do milênio nos trouxe a era Brady-Belichick, Payton Manning e Big Ben Roethlisberger, que juntos conquistaram nove anéis, sem contar os dois títulos do Baltimore Ravens. Assim, trazendo mais equilíbrio ao histórico confronto – hoje a NFC tem 27 conquistas contra 24 da rival.
Mas o argumento que trago a vocês é que os times da AFC muitas vezes possuem um caminho bem mais fácil para a principal partida do ano e, como sempre temos uma equipe representando cada conferencia, um grande time pode maquiar a verdadeira força de uma conferência vencendo o grande jogo.
Um jornalista da NFL, Dan Hanzus, rotulou a supremacia de New England como o “Throne of Ease” ou seja, “O Trono da Facilidade”. É verdade que nesse milênio os Patriots têm estabelecido a maior dinastia nos esportes americanos – dos últimos 16 anos, eles conquistaram a AFC Leste em 14 ocasiões (8 consecutivas), um recorde na NFL.
Mas devemos destacar que Buffalo não vai aos playoffs desde 1999, a maior seca da NFL. Já Miami, depois de Dan Marino, se perdeu completamente, teve somente cinco recordes positivos e uma campanha 0-2 nos playoffs de um time que oscila temporadas razoável com temporadas horríveis. Enquanto o NY Jets, talvez o maior rival de New England nesse período, flertou com relevância durante os primeiros dois anos de Rex Ryan e depois se afogou em problemas internos raramente trazendo um time competitivo para playoffs.
Com seis jogos relativamente fáceis no schedule todo ano e com a vaga nos playoffs raramente ameaçada, os Patriots dão um passo enorme para chegar aos playoffs com a vantagem de jogar em casa. New England perdeu os últimos três jogos de AFC Championships definidos fora de casa. Isso não significa que a equipe de Tom Brady não teria tanto sucesso em uma divisão mais difícil, porém é válido imaginar um destino diferente caso disputasse uma divisão mais competitiva.
Ano passado nos playoffs da AFC, tivemos um Miami Dolphins roubando vaga, um Houston Texans sem J.J. Watt e com Osweiler atrás do center e um Okaland Raiders que, sem o Derek Carr, não ameaçava ninguém. Kansas City Chiefs e Pittsburgh Steelers definiram o round divisional com um belo “Quem quer perder para os Patriots” sonolento que levou os Steelers para final da conferencia sem marcar um TD.
Enquanto isso no lado da NFC, tivemos o Detroit Lions, que simplesmente não consegue ganhar nos playoffs mesmo tendo uma boa equipe. Em 2016 tiveram do seu lado Seattle Seahawks (último time da conferência campeão do Super Bowl), New York Giants, Green Bay Packers, Dallas Cowboys e Atlanta Falcons, todos em alto nível.
Podemos dizer com confiança que, tirando os Lions, todos os times dos playoffs da NFC fariam um jogo extremante competitivo contra os Patriots no Super Bowl. Alguns estariam até mais preparados para vencer do que os Falcons, mesmo estes tendo atropelado seus adversários e aberto 28 a 3 na final. E tirando New England, qual time da AFC teria jogado de igual para a igual com os representantes divisionais da NFC?
A verdade e que hoje a AFC tem caído muito de qualidade, difícil imaginar um time que não seja os Patriots representando a conferência em mais um Super Bowl. O grande rival parece ser os Steelers, uma equipe que oscila muito durante o ano, como vimos diante dos Packers. Para se ter ideia, se a temporada acabasse hoje, teríamos um cenário de playoffs que contaria com os Bills (que estão desesperados para pode tankar o ano), Titans (que já perderam pros Dolphins e levaram 40 pontos dos Steelers), Chiefs (que se transformaram numa espécie de Browns após enganar todos com o melhor time da liga por seis semanas) e Jaguars (que não têm QB e vêm de uma derrota para o fraco Arizona Cardinals).
Enquanto isso na NFC, temos seis times apresentando recordes positivos e jogando um futebol americano de altíssimo nível. Sem contar uns quatro ou cinco times de muito talento que tropeçaram em algum ponto do ano e correm por fora. Se tirarmos os dois melhores times da AFC, seria fácil imaginar o meio de tabela da NFC (Seattle, Detroit, Dallas, Washington) chegando nos playoffs caso estivessem na conferência oposta.
A AFC tem dois pilares das grandes forças da conferência chegando no final da carreira. Me surpreenderia se Big Ben voltasse para mais um ano… como ficariam os Steelers sem ele? Brady prova mais uma vez que é um ser sobrenatural jogando o melhor futebol americana de sua carreira com 40 anos, mas é difícil imaginar ele atuando nesse nível por muito tempo.
Isso tudo significa que eu vejo os times da AFC como inferiores? Jamais, a NFL é uma liga de ciclos, tudo é estruturado para que os piores consigam melhorar e que os melhores tenham dificuldade de se manter no topo. Mas olhando os jogos da elite da AFC em declínio e dos jovens times promissores jogando muito abaixo da expectativa, podemos dizer que a Conferência Americana beira mais um precipício. E se podemos tirar algo da historia da liga, é fazer uma previsão olhando o que temos em campo hoje, com o surgimento de jovens estrelas como Carson Wentz e Jared Goff. Tudo indica mais um domínio da NFC nos próximos anos.
Um dado adicional: até a semana 12, os times da NFC venceram 28 jogos contra adversários da AFC. Já os representantes da Conferência Americana levaram a melhor 18 vezes – dessas vitórias, três foram dos Patriots e três dos Steelers, um terço do número total.
(Fotos: Divulgação NFL; Kevin C. Cox/Getty Images)
*Por Raphael Fraga
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