[TP NA HISTÓRIA] Quando Kareem era Lew: a mais impactante carreira da história do basquete universitário
Kareem Abdul-Jabbar ainda era chamado de Lew Alcindor e colecionou momentos brilhantes em UCLA
As grandes ligas norte-americanas reservam grandes histórias e personagens singulares, mas muitas vezes isto tudo acaba sendo pouco conhecido dos fãs brasileiros. Diante disso, dentro de nosso blog, trazemos a vocês, caros leitores, o “THE PLAYOFFS NA HISTÓRIA” ou, simplesmente, “TP NA HISTÓRIA”, uma série especial de posts que apresenta fatos históricos dos esportes americanos. Você não vai querer perder, né? Fique ligado na série!
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Kareem Abdul-Jabbar dispensa maiores apresentações. O pivô marcou época na NBA entre 1969 e 1989 defendendo o Milwaukee Bucks e, depois, o Los Angels Lakers, colecionou recordes e mais recordes, como o de maior cestinha da história da liga e do maior número de prêmios MVP, tanto que, com base em estatísticas, muitos o consideram como o maior jogador de basquete da história.
O que muita gente não sabe é que Kareem também teve a mais impactante carreira da história do basquete universitário norte-americano. Em seus tempos de universidade, o pivô ainda não havia se convertido ao islamismo, por isso, era chamado de Lew Alcindor, seu nome de nascença. E, jogando por UCLA entre 1966 e 1969, colecionou momentos, feitos e números que dificilmente virão a ser superados por algum outro jovem no college.
Incluído no hall da fama do basquete universitário em 2007, Kareem Abdul-Jabbar, jogando como Lew Alcindor, foi três vezes campeão da NCAA (ou seja, venceu as três temporadas em que atuou), foi duas vezes eleito o melhor jogador do ano e apareceu no primeiro time da “seleção do college basketball (First Team All-American) em três oportunidades. Aliado a todas estas premiações, acumula ainda uma média de 26,4 pontos e 15,5 rebotes por partida, sem contar o fato de ter saído derrotado apenas em dois dos 88 jogos que fez junto aos Bruins.
Na abertura da série “TP na História”, revisamos as três temporadas de Lew (ou Kareem) no college, destacando os fatos importantes de cada uma e, claro, o desempenho daquele que viria a ser tão importante para o basquete como um todo.
1966-1967: Para começar, um 30-0, título e prêmio de melhor jogador
Depois de brilhar no high school pela Power Memorial (escola de Nova York), Lew chegou à UCLA em 1965, então com 18 anos. Dada as regras da NCAA na época, os calouros não poderiam disputar as partidas da temporada regular, com isso, aquele jovem de quase 2,20 m de altura ficou ausente da maior parte dos jogos, contudo, utilizado pelo técnico John Wooden na pré-temporada deu, logo de cara, mostras de seu talento ao marcar 31 pontos e pegar 21 rebotes na partida de abertura do recém-construído Pauley Pavillion, que contou com uma vitória do time de calouros da universidade por 75 a 60 sobre a equipe que viria a representar os Bruins no basquete naquele ano.
Passado seu ano de freshman, em 1966, enfim, Alcindor pôde entrar em quadra e não decepcionou de forma alguma. Aproveitando-se de sua estatura para passar por cima de qualquer defensor, o pivô enterrava com enorme facilidade e cada partida representava um show à parte. Diante disso, UCLA passou por cima de seus adversários com uma propriedade inigualável, tanto que foram 30 vitórias em 30 jogos e, destes, apenas em um (contra UCS no meio da temporada regular, quando o triunfo veio apenas na prorrogação) houve algum tipo de dificuldade, no mais, o êxito veio acompanhado sempre de largas vantagens.
Depois do título, que veio após uma vitória sobre Dayton por 79 a 64 e da eleição de Lew Alcindor como melhor jogador daquele ano, a NCAA ficou abismada com a forma como a qual os Bruins conquistaram o título. A média de 29 pontos e 15,5 rebotes daquele jovem sophmore fez a entidade ligar o sinal de alerta e, buscando retomar a competitividade e frear o gigante Lew, proibir as enterradas (regra que permaneceu até 1973), mais eficiente jogada da universidade de Los Angeles dada a estatura de seu principal jogador.
1967-1968: Mais uma temporada de sucesso e o “Game Of The Century”
A temporada 67-68 começou com Big Lew e UCLA seguindo a mesma tônica da última temporada. De cara, embalaram uma sequência de 11 vitórias arrasadoras, mas justamente no 11º jogo dessa sequência, contra California, Alcindor foi disputar um rebote com um adversário e acabou sofrendo uma lesão na sua córnea esquerda que o tirou das duas partidas subsequentes, contudo, os Bruins colecionaram novos triunfos, o que deixou tudo no mesmo lugar.
Com 13 vitórias nos 13 primeiros jogos da temporada regular, a equipe de John Wooden tinha um jogo histórico pela frente contra Houston, outra equipe invicta até aquele momento e que contava com Elvin Hayes (o pivô seria eleito o melhor jogador daquela temporada ao ter média de 36,8 pontos por partida). Para completar, a volta de Lew Alcindor dava ares ainda mais grandiosos ao jogo, o qual viria a ser a primeira partida de uma temporada regular da NCAA a ser transmitida ao vivo pela televisão e ganharia o status de Game Of The Century.
E o jogo do século, de fato, foi importantíssimo para o basquete universitário. Em um grande confronto, Lew sentiu falta do ritmo de jogo e viu Hayes brilhar, comandando os Cougars a uma vitória por 71 a 69 em uma partida disputada do início ao fim. Muito além de ter agradado os fãs da modalidade, o Game Of The Century mudaria para sempre o patamar do college basketball, já que o interesse tanto da televisão como das pessoas em geral aumentou bastante.
Conhecendo sua primeira derrota em UCLA, Alcindor se motivou para o restante da temporada e buscou não se abalar com a derrota para Houston, mesmo que a universidade de Elvin Hayes tenha passado a ser a nova queridinha dos especialistas. Embora muitos tenham pensado que a instituição sediada em Los Angeles fosse fraquejar, esta se motivou, embalou, não conheceu mais nenhuma derrota e, com um recorde de 27-1, chegava a semifinal nacional para encarar novamente Hayes e cia.
Com um trabalho singular da defesa que anulou Hayes, os Bruins se vingaram com muita propriedade ao vencer a partida pelo sonoro placar de 101 a 69. Na final, 78 a 55 sobre South Carolina com 34 pontos e 16 rebotes de Lew, que acabou não sendo eleito o jogador do ano (ganhou “apenas” o de melhor jogador da fase final), mas, com média de 26,2 pontos e 16,5 rebotes, foi fundamental na conquista, até porque manteve a sina de ser o grande destaque em praticamente todas as partidas.
1968-1969: O tri-campeonato e o fechamento de um ciclo
O ano de 1968 começou com todos cientes de que aquela seria a última temporada de Lew Alcindor, futuro Kareem Abdul-Jabbar, na universidade e, claro, isso gerava em todos uma enorme expectativa sobre o que o pivô poderia armar em seu último, tanto para se despedir de UCLA com classe, como também para chamar atenção dos dirigentes da NBA visto que haveria de encarar o Draft ao fim daquela temporada.
As coisas começaram dentro do esperado para a equipe, que seguia sob a batuta de John Wooden, e, de cara, alcançaram 23 vitórias seguidas, até que uma derrota para a grande rival USC quebrou a série invicta. Todavia, esteve longe de quebrar o embalo de mais uma grande temporada dos Bruins com Big Lew jogando o fino, mesmo que tenha terminado o ano com as mais inferiores – entretanto, ainda altas – médias de seus tempos de college (24 pontos e 14,6 rebotes).
Seguindo este pique e com um quinteto o qual é considerado um dos melhores da história do college basketball (além de Alcindor, contava também com nomes como Lucius Allen e Mike Warren), sem maiores surpresas, UCLA chegava pela quinta vez entre 1963 e 1969 a uma final e veio também o quinto título, o terceiro consecutivo. O adversário da decisão foi Purdue, na partida que representava o último jogo de Lew Alcindor na universidade, e a despedida veio em grande estilo com 37 pontos, 20 rebotes, uma vitória por 92 a 72 e, além do troféu de campeão, o prêmio de melhor jogador daquele ano.
Encerrado o ciclo em Los Angeles da melhor maneira possível, Lew foi escolhido pelo Milwaukee Bucks como primeira escolha geral do draft de 1969, converteu-se ao islamismo, virou Kareem Abdul-Jabbar e escreveu seu nome na história colecionando atuações de alto nível que culminaram na conquista de seis títulos da NBA pelos próprios Bucks e também pelo Los Angeles Lakers, sem contar os seis prêmios MVP e as 19 aparições no All-Star Game. Uma lenda ao longo de toda a carreira.