Técnico do Junior College nos EUA, Vandinho conta sua trajetória em entrevista exclusiva
Conheça um pouco da história de Vandinho, único head coach brasileiro em uma equipe de College nos Estados Unidos
São Paulo-SP – Na última quinta-feira (21), membros da Federação Paulista de Basketball (FPB) e convidados, como o presidente da CBB Carlos Nunes e o técnico de Osasco e ex-técnico da seleção brasileira Ênio Vecchi, reuniram-se em um edifício em São Paulo para a apresentação da Divisão Especial do Campeonato Paulista Adulto Masculino 2016, sob a batuta do presidente da federação, Enyo Correia.
Entre os convidados, alguém pouco conhecido da imprensa brasileira, mas de grande prestígio como técnico dentro dos Estados Unidos estava lá e bateu um papo com o The Playoffs. Adjalma Becheli, mais conhecido como Vandinho, atua como head coach do time masculino da Utah State University Eastern (USU Eastern), localizada em Price, Utah, equipe do Junior College norte-americano que participa da Division I da NJCAA (National Junior College Athletics Association) e está no Brasil de férias, ou quase isso. “Fui convidado para ficar com a seleção feminina da Austrália como assistente durante o período dos Jogos”, disse o técnico.
Nascido em Assis, interior de São Paulo, Vandinho trabalhou nas categorias de base de Paulistano, Círculo Militar e Ypiranga e nos adultos de São José do Rio Preto, Brusque e Blumenau antes de conseguir realizar o sonho de viver o basquete nos EUA. A convite do ex-jogador Rafael Araújo, o Babby, descoberto pelo técnico ainda na base e ajudado por ele próprio a chegar nos EUA, Vandinho foi para ser assistente em USU Eastern, em 2008.
“Teve um ano em que fui visitá-lo (Babby) onde ele estava jogando, no Arizona Western (Junior College) e conheci o armador do time, chamado Chris Craig. Cheguei a convidá-lo para jogar profissional no Brasil depois da sua carreira universitária, mas perdi contato. Quando o Babby estava no Utah Jazz, eles se reencontraram, e o Craig, então head coach da Utah State University, acabou comentando com o Babby se ele não queria convidar aquele técnico brasileiro para o ajudar na Universidade. Foi aí que o Babby me ligou. Não pensei duas vezes, na época eu estava em Blumenau – SC e acabei indo para lá”, comentou o técnico.
Como assistente em USU Eastern, por quatro anos, Vandinho teve temporadas boas e uma grande bagagem: experiências como assistente ofensivo e defensivo, tanto no masculino como no feminino antes deconcorrer à vaga de head coach. “Nesses quatro anos (como assistente), nós tivemos uma temporada muito boa em 2010, quando acabamos sendo o terceiro nacional, perdendo a semifinal para o time do Texas, que tinha o Jae Crowder (atualmente ala do Boston Celtics). Foi aí que o Chris (Craig) recebeu uma proposta para ir para Colorado, já na NCAA. Nessa oportunidade o outro assistente acabou assumindo e eu fui ajudar no feminino. Pouco tempo depois abriu a vaga de head coach e 158 treinadores do mundo todo aplicaram para a vaga”, diz Vandinho.
Mesmo estando já dentro de USU, como assistente, Vandinho comentou que o tratamento na fase final do processo é exatamente o mesmo entre todos os candidatos. “No final sobrou eu e mais dois e nessa fase foi até interessante. Na primeira parte, que era uma entrevista por telefone, eu comentei com um dos recrutadores da vaga, ‘Legal, e eu posso ir no escritório de vocês?’, eles falaram, ‘Não, não, você vai pro seu escritório que a gente liga para você’, daí estranhei ‘Nossa, mas eu já estou aqui e vocês não vão falar comigo?’, ‘Você não pode ter nenhuma regalia. Se os outros foram por telefone, a sua também vai ser'”, disse o técnico.
A fase final é bastante específica e universidade procura saber o máximo do técnico e seu programa. ” Você começa o dia com o chanceler (reitor) e ele quer saber como você trabalha, o que você faz, sua filosofia de jogo e tal. Depois disso você vai com o pessoal de Recursos Humanos e eles te apresentam o dinheiro disponível, além de situações hipotéticas e questionam como você lidaria com elas. Em seguida vai com o xerife do Campus, o presidente da associação dos professores, o presidente da associação dos alunos, diretor atlético, entre outros. É bastante específico porque o head coach lá não é só dentro da quadra, mas sim dentro de toda a comunidade. Eles querem saber o quanto que eu agregaria, se o meu programa é vencedor, se eu consigo cativar o pessoal para estar com o time, se meu programa é chamativo para angariar patrocínios, entre outras coisas”, comentou Vandinho.
Antes dos três finalistas, Vandinho passou por pelo menos cinco fases anteriores e contou um fato interessante de uma das fases. “Você manda seu currículo com suas referências e eles ligam para verificar se batem. As referências que eles queriam eram três head coaches da Division I com no mínimo oito anos de experiência. Eu tinha duas, os head coaches de Washington State e BYU e faltava a terceira, que eu não conseguia. No último dia, um amigo meu me ligou informando que tinha acabado de virar head coach em Portland State e poderia ser a última referência, e assim pude continuar no processo”, falou Vandinho.
O técnico quer continuar por lá e a melhor notícia que poderia ter recebido veio na terça-feira (19). “A minha melhor notícia do ano eu recebi na terça. Meu visto de trabalho vai vencer no fim da próxima temporada e eu estava praticamente me preparando para sair, inclusive tinha indicado assistente para o meu lugar. Só não sairia se conseguisse virar cidadão americano, a partir do green card. Foi um processo que envolveu meu advogado e a universidade como patrocinadora, mas ele mesmo estava pessimista. No fim, na terça ele me ligou e confirmou que tinha conseguido o green card”, finalizou o técnico.
Nesta sua curta estadia no Brasil no momento, Vandinho ministrou clínicas de basquete em Criciúma – SC e no Guarujá – SP, ajudando no fomento de projetos de basquete nas comunidades das regiões.
(Foto 1: Reprodução Facebook / USU Eastern Athletics)
(Foto 2: The Playoffs / Gabrieli Mello)