Vitória dos EUA no Mundial de Basquete confirma hegemonia contra estilo europeu
Norte-americanos mostraram, no Mundial de Basquete, que possuem todas as armas para atropelar qualquer estratégia
No último domingo (14/09), após uma esmagadora vitória sobre a seleção da Sérvia, a equipe dos Estados Unidos atingiu seu 5º título em Mundiais de Basquete, igualando-se à extinta Iugoslávia como os dois maiores vencedores da competição. O que, à primeira vista, pode parecer algo esperado, antes era duvidoso e os norte-americanos por vezes não eram colocados como franco favoritos, muito por conta da falta das principais estrelas da NBA.
A preparação começou, a dispensa de Kevin Durant aconteceu, a grave lesão de Paul George, um dos líderes restantes do time, veio e a desconfiança sobre o time de Coach K só aumentava, mesmo com a gradual evolução e os bons resultados da equipe nos amistosos. Porém, apesar de pouco a favor, o que mais contribuía para o pé atrás com o Team USA não era o time em si, mas os adversários, mais precisamente, os fortes times europeus.
Com um time jovem (média de idade de 24 anos, a menor entre todos da competição) e inexperiente (nenhum jogador do elenco possuía, ao menos, um anel de campeão da NBA), porém com uma comissão técnica gabaritada e vitoriosa, o time dos Estados Unidos partiu para o Mundial sob a sombra da Espanha e cotado ao lado de outros, como França, Brasil e até Lituânia e Argentina. O que gerava essa desconfiança? Por que mesmo após ótimos resultados nas últimas competições classe A (Mundial e Jogos Olímpicos) os EUA não eram tidos como os grandes favoritos?
Muito dessas respostas caíam sobre os próprios jogadores, os quais, como dito antes, eram jovens e inexperientes, sendo muitas vezes tratados como o time B do país, e poucos deles (apenas Stephen Curry, Rudy Gay e Derrick Rose) tinham feito parte do elenco campeão do Mundial de 2010. Mas, o que mais assombrava o jovem elenco norte-americano era de fato seus adversários do velho continente e as dificuldades que estes poderiam impor, com seus ataques controlados, jogo em equipe e grande número de variações defensivas, fatores que em si, não são do costume dos EUA e pouco são praticados na principal liga do mundo, a norte-americana.
Na transição ofensiva, os times europeus levam a bola com muita tranquilidade, sem acelerar o jogo, aproveitando-se de muitas trocas de passes a fim de conseguirem um arremesso livre e equilibrado, muitas vezes no estouro do cronômetro de posse. Já os EUA fazem o inverso, procuram roubar a bola e sair em velocidade, finalizando as jogadas, em muitas ocasiões, antes mesmo dos 5 segundos de posse de bola. Na defesa, os europeus baseiam-se na zona, estilo defensivo que dificulta (para não falar que impossibilita) as jogadas de um-conta-um, típicas do basquete norte-americano, e que por muito tempo foi proibido na NBA, sendo de fato algo que, se os norte-americanos já sabem lidar, ainda não é muito comum em seu basquete.
Prova disso tudo são: o sucesso do San Antonio Spurs, último campeão da NBA e o mais europeu dos times da liga, com vários jogadores estrangeiros e um técnico, Gregg Popovich, que emprega muito bem o estilo de jogo supracitado; e a recente vinda de um técnico europeu: David Blatt para o Cleveland Cavaliers. Dados os fatos e mais o Mundial sendo em solo europeu, era de se esperar um pé atrás. Mas o que fez o time de Coach K superar tudo isso e se tornar campeão com facilidade? O que faltou aos europeus para domarem os norte-americanos?

Tom Thibodeau, Monty Williams, Jim Boeheim e Mike Krzyzewski, comissão técnica do Team USA. (Foto: USA TODAY Sports)
Diferentemente dos jovens da equipe de jogadores, a comissão técnica do Team USA nunca foi posta em cheque por ser inexperiente, pelo contrário, continha profissionais de respeito, e adivinhem só, sendo todos os assistentes especialistas em defesa, tamanha a preocupação nesse quesito. O comandante principal, Mike Krzyzewski, o Coach K, também técnico de Duke na NCAA, é muito vitorioso em sua carreira, tendo ganhado 4 títulos no basquete universitário, e desde 2006, pela seleção norte-americana, 4 dos 5 ouros disputados em competições classe A.
Ao seu lado, Krzyzewski tinha a companhia de Tom Thibodeau, técnico do Chicago Bulls e especialista em defesa, Monty Williams, técnico do New Orleans Pelicans e também especialista em defesa e Jim Boeheim, técnico de Syracuse na NCAA e especialista em defesa por zona. Como visto durante o torneio, a preparação surtiu efeito e o jogo dos Estados Unidos baseado em defesa agressiva e contra-ataques foi o que se houve de mais fatal para os adversários. Além disso, a sempre difícil de superar defesa por zona já era coisa do passado. Esquecendo as jogadas individuais e com excelentes chutadores de fora, o Team USA massacrou os europeus quando estes apostavam nesse estilo defensivo, castigando-os mais na zona do que na individual muitas vezes.
Por fim, como alguma resposta ao último questionamento, seria injusto dizer que faltou algo aos europeus e aos demais para desbancarem os Estados Unidos. Levando qualquer competição com o comprometimento que Coach K conseguiu trazer aos jogadores das seleções desde a sua chegada, o Team USA será favorito sempre. Isso porque conta com os maiores talentos, com grandes técnicos, com uma preparação de base séria e competente e com uma liga absurdamente forte e competitiva, só para ficar no básico. Isso tudo e com motivação, aí fica praticamente impossível parar a seleção norte-americana e nem mesmo o forte basquete das seleções europeias seria capaz em condições normais.