Por que está tão difícil para armadores não americanos na NBA?
Calderón, Huertas, Prigioni, Laprovíttola... Todos sofreram com novo estilo que liga exige dos homens que cuidam da bola
Esqueça aquele armador que cuida da bola como ninguém, enxerga o jogo com olhos de lince e faz com que a equipe inteira se sinta à vontade em quadra. Essa figura já não tem mais espaço na NBA. Recentemente, craques de bola como José Calderón, Marcelinho Huertas, Pablo Prigioni e Nicolás Laprovíttola foram preteridos por atletas dribladores e pontuadores.
Qualquer franquia evidentemente gostaria de poder contar com Russell Westbrook, James Harden, Stephen Curry, Kyrie Irving, John Wall… Todos esses nomes atendem aos novos requisitos do melhor basquete do mundo. Mais do que isso, com o estilo de jogo exigido, podem tranquilamente levar o MVP da temporada 2016/2017.
Na volta do All-Star, Marcelinho Huertas e José Calderón, inegáveis craques no basquete europeu, e com estilo muito europeu, foram “descontinuados” (por assim dizer) do Los Angeles Lakers. O brasileiro nunca teve lá muitos minutos em quadra desde que por lá chegou, mas o espanhol pelo menos poderia contribuir um pouco mais que os jovens, e sim, talentosos Jordan Clarkson e D’Angelo Russell.
Se não mais habilidosos com a bola nas mãos, encantam mais a torcida – e consequentemente – os técnicos, o time, a NBA e por aí vai. Não se trata de nenhum boicote aos “tiozões”, mas de nada adiantam passes precisos e alguns arremessos certeiros se não forem capazes de dar aquele crossover memorável e 15, 20 ou 25 pontos toda a noite. Huertas havia dado sua palavra que ficaria no time roxo e dourado e, pouco tempo depois, contrataram Calderón. Um acabou atrapalhando o outro.
A mistura “ankle breaker + clutcher” já havia vitimado Pablo Prigioni, contemporâneo desses aí no tempo e no estilo. O argentino foi “desprosseguido” (não é assim que falam no RH?) do Los Angeles Clippers em outubro do ano passado. Claro, Chris Paul é infinitamente superior ao argentino apesar de também nunca ter conquistado o anel de campeão da NBA. Mas o estilo de CP3 é mais agradável à liga e fez com que ele tivesse o sucesso que merece.
A comparação vale se levada também ao banco de reservas. Austin Rivers e Raymond Felton destroem Pablito no 1×1, mas perdem no quesito organizar o jogo. Justamente esse quesito que está se esvaindo do melhor basquete do mundo.
Curioso notar ainda o caso do argentino Nicolás Laprovíttola. O armador puro, como se diz, correspondeu quando exigido em sua brevíssima passagem pelo San Antonio Spurs. Foi “demitido” (mesmo, sem enfeites dessa vez). Não adiantaram sequer as bênçãos de Manu Ginóbili para que o compatriota continuasse na NBA na virada do ano. Por que, se a franquia texana é quem mais se aproxima do basquete europeu? A resposta passa a ser natural se analisado o potencial do ainda imberbe Dejounte Murray.
O jovem de Washington é a mais nova promessa dos Spurs. Alguém que o técnico Gregg Popovich parece querer insistir justamente por sua imensa capacidade de tirar um adversário da frente e definir a partida por exemplo. A tendência é que a franquia insista até mais em Murray em relação ao que fez com Cory Joseph por exemplo.
Para não alongar ainda mais a história, a vida também não está fácil para Raulzinho lá pelos lados de Utah. Evidentemente, que o jogo do brasileiro evoluiu ainda mais nos Estados Unidos, mas seu passado no basquete europeu o faz um estranho no ninho mesmo no Utah, que já teve o craque John Stockton.
Aliás, Stockton teria lugar na NBA de hoje?
(Fotos: Divulgação / Assessoria de Imprensa NBA Brasil; Ronald Martinez/Getty Images)