Os Warriors passam por cima de todos no terceiro quarto das partidas – exceto os Cavaliers
Tentamos explicar a 'mística' de Golden State no período e por que Cleveland vem evitando isso
A equipe do Golden State Warriors vai para o terceiro jogo das Finais da NBA com uma grande vantagem: lidera a série por 2 a 0, vencendo as duas partidas realizadas na Oracle Arena. No jogo 1, mais equilibrado do que o esperado, o time precisou da prorrogação para conquistar o triunfo – com grande ajuda de J.R. Smith, é claro.
O segundo duelo foi um pouco mais tranquilo, Stephen Curry deu show nos arremessos no perímetro, batendo o recorde de cestas de três convertidas na história da decisão da liga, com nove, ultrapassando os oito de Ray Allen em 6 de junho de 2010, no segundo jogo da final contra o Los Angeles Lakers.
De forma geral, uma das principais características do Golden State Warriors nesta temporada, até chegar à grande final do campeonato, é o domínio do time no terceiro período.
O time de Stephen Curry, Kevin Durant, Klay Thompson e cia costuma evoluir gradativamente antes do intervalo das partidas durante a temporada regular, principalmente na defesa, pois ela começa relativamente mal o jogo – tendo em base o defensive rating (número de pontos anotados por 100 posses) -, porém se recupera no segundo período, compensando a queda média de um ponto em relação aos primeiros 12 minutos da partida.
No terceiro período, no entanto, acontece o grande salto. A média de pontos evolui aproximadamente 7,9% comparando com o segundo quarto, e os Warriors melhoram ainda mais defensivamente, como pode ser constatado no crescimento do plus-minus, sendo o triplo do +/- registrado no período anterior. O net rating, a diferença entre o rating ofensivo e defensivo, sobe incríveis 131,3% no terceiro quarto.
E esse fenômeno continuou se repetindo durante a pós-temporada – ao contrário do que ocorre (naturalmente) em alguns casos, determinados setores bons dos times podem jogar pior e vice-e-versa -, e numa versão ainda mais impactante. Golden State não consegue pontuar tanto na primeira metade dos jogos, com médias inferiores em comparação à temporada regular, ainda que aumentem gradativamente (dessa vez literalmente).
Proporcionalmente, a melhoria do desempenho é ainda maior no 3ºQ. A quantidade de pontos anotados sobe 11,8% sobre o segundo período, enquanto o net rating mais do que quadruplica, demonstrando a tamanha diferença entre as performances dos Warriors no decorrer das partidas. Golden State fez 30 pontos ou mais no terceiro quarto em 12 das 19 partidas que a equipe disputou até o segundo jogo da decisão da NBA, e em 15 pontuou mais do que os adversários no período.
Por essa razão, a equipe “pisa no freio” no último quarto, não anotando tantos pontos e jogando de forma um pouco mais lenta.
Não há como traçar uma relação totalmente lógica sobre as razões de a equipe de Oakland aumentar tanto de produção no período após o halftime, pois há coisas mais intrínsecas no esporte do que as estatísticas – e os números não conseguem mostrar -, porém existe um paralelo entre os times mais efetivos marcando pontos no terceiro quarto. A média do pace factor das 10 melhores equipes da NBA com maior pontuação nesta temporada foi de 100,4, menor do que o dos períodos anteriores, o qual é igual a 102,1 – com diferença de milésimos entre os dois quartos.
Praticamente todos os times listados apresentaram a diminuição na quantidade de posses por jogo entre o 2º e o 3º quartos. Apenas o Portland Trail Blazers contrariou a tendência das outras equipes do grupo.
De certa forma, isso está interligado ao saldo entre os ratings ofensivo e defensivo, porque essas estatísticas são calculadas a partir do número de posses que o time teve, e isso facilita um pouco o trabalho da defesa, pois quanto maior pace factor, mais chances a equipe têm de sofrer pontos – assim como as de anotar aumentam, concomitantemente.
Os Warriors não renderam tanto depois do intervalo nos dois duelos contra os Cavaliers nas finais, a despeito do retrospecto positivo nos playoffs. Uma prova disso é que Golden State perdeu no período por 34 a 31, a segunda pior diferença sofrida pela equipe nesta edição da pós-temporada, no jogo 2, e teve uma vantagem de apenas seis no primeiro confronto da série.
A equipe de Cleveland não tem o terceiro quarto como o mais produtivo ofensivamente, com média de 24,7 pontos por jogo, mas o time costuma ser mais eficiente na defesa no período. Os Cavs cederam 24,9 pontos por partida depois do intervalo, a menor marca da equipe considerando os quatro períodos. Além disso, o volume de posses também aumenta no 3º quarto. O pace factor dos Cavaliers nestes playoffs é de só 93,9, um dos menores da liga na fase decisiva, no entanto esse número sobe no início do segundo tempo, indo para 95,1, o que pode ter contribuído para alavancar os Warriors no quesito.
Golden State Warriors já avançou metade do caminho para conquistar o seu terceiro título em quatro temporadas, mas é inegável que ainda há muita coisa para acontecer nessas finais da NBA. Os Warriors podem estar prevalecendo nos playoffs, fazendo grandes atuações, todavia uma coisa fugiu do padrão na equipe nesse começo da decisão: o desempenho no terceiro quarto não foi tão superior assim nos primeiros embates contra os Cavaliers.
*Por Luís Martinelli
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As opiniões neste artigo são de total responsabilidade do autor e não expressam, necessariamente, a visão do portal The Playoffs.
(Fotos: Reprodução Twitter / Golden State Warriors)