Linha do tempo: como o Toronto Raptors construiu seu título ano a ano
Entenda como o titulo dos Raptors começou bem antes de Kawhi Leonard e cia chegarem por lá
O ano é 2010. O Toronto Raptors havia terminado a temporada com 40 vitórias e 42 derrotas ficando na nona colocação e fora dos playoffs da Conferência Leste. Após essa temporada, Chris Bosh, o grande ídolo e maior nome da franquia até então, decidiu aproveitar a free agency e juntar-se a LeBron James e Dwyane Wade no Miami Heat e a história todos já sabem: chegou em quatro finais e ganhou dois títulos pelo time da Flórida. Esse ponto é o plano de fundo para começarmos a contar como os Raptors saíram do buraco e agora, em 2019, conseguiram seu primeiro título da NBA.
As temporadas após a saída de Bosh não foram nada felizes para os Raptors. Em 2010-11, o time conseguiu apenas 22 vitórias e a quinta escolha do Draft para adquirir Jonas Valanciunas (que seria um personagem importante nos próximos anos). No ano seguinte, com Dwane Casey como técnico, a temporada foi mais curta (com apenas 69 jogos) e os Raptors venceram 23 compromissos contando com a evolução de DeMar DeRozan (draftado e 2009), no Draft o time escolheu Terrence Ross (também um personagem que terá importância em trocas futuras) com a oitava escolha.
Em 2012-13, a última temporada com Bryan Colangelo como presidente de operações da equipe, o time canadense conseguiu adquirir o armador Kyle Lowry em uma troca com o Houston Rockets e, para isso, o time perdeu apenas Gary Forbes e uma escolha de primeira rodada (que virou Steven Adams). Com o armador a equipe continuou melhorando e chegou a uma campanha de 34 vitórias, ficando na décima posição.
Para a temporada 13-14 as coisas começaram a mudar para os canadenses, pois Massai Ujiri deixou o Denver Nuggets para assumir as operações de Toronto. Em seus primeiros momentos como manda-chuva da franquia, Ujiri fez uma das trocas que deram mais certo em toda a NBA, enviando Andrea Bargnani e seu gigantesco salário para o New York Knicks em troca de Marcus Camby, Steve Novak, Quentin Richardson e mais uma escolha de primeira rodada no Draft de 2016 e mais duas escolhas de segunda rodada em 2014 e 2017. Os nomes que chegaram aos Raptors não foram de grande utilidade, porém as escolhas de Draft e o espaço salarial liberado foram essenciais para o time que seria campeão em 2019.
Em quadra, a equipe contava com o crescimento e entrosamento da dupla de DeMar DeRozan e Kyle Lowry para conseguir uma surpreendente terceira colocação no Leste na temporada 2013-2014 e chegar aos playoffs, porém veio uma grande decepção, a primeira de algumas que os Raptors passariam. A franquia foi derrotada pelos Nets de Kevin Garnett e Paul Pierce logo na primeira rodada.
Em 2014-15, o time continuou sua boa evolução e conseguiu contratar Lou Willliams, que foi responsável por transformar o banco dos Raptors em um dos melhores de toda a NBA. A campanha continuou a ser boa, com 49 vitórias e uma quarta colocação da Conferência Leste. Mais uma vez o destino não foi bom para os canadenses, que foram varridos pelo Washington Wizards logo de cara. No Draft de 2015, a franquia conseguiu Delon Wright (outro que será uma peça utilizada em trocas).
Chegamos então à temporada 2015-16. Norman Powell havia sido escolhido pelo Milwaukee Bucks na posição 46, porém, Massai Ujiri foi esperto e trocou uma escolha de segunda rodada futura pelo armador. Além disso, o time assinou com o armador Cory Joseph. A campanha continuava a melhorar e o time terminou com 56-26, ficando a apenas uma vitória do Cleveland Cavaliers de LeBron James, o maior nêmesis dos canadenses. Nos playoffs, Toronto finalmente começou a tomar corpo e chegou até as finais de conferência, sendo derrotado pelos Cavs por um disputado 4-2.
Para a temporada 2016-17, os Raptors escolheram o pivô Jakob Poetl com a nona posição do Draft (vinda da troca com os Knicks por Bargnani), e com a 27 os canadenses trouxeram Paskal Siakam. Por fim, o time assinou com o desacreditado Fred VanVleet, que não havia sido escolhido por nenhuma franquia no recrutamento. Além disso, os canadenses começaram a desfazer seu núcleo e arriscaram ao trocar Terrence Ross (um dos queridinhos da torcida) pelo pivô congolês naturalizado espanhol Serge Ibaka, que amargava o ostracismo do Orlando Magic.
A temporada seguiu os mesmos rumos de sempre para os Raptors: terceira melhor campanha do Leste, DeRozan e Kyle Lowry sendo escolhidos para o All-Star Game e varrida por LeBron James e o Cleveland Cavaliers, agora nas semifinais do Leste, criando assim uma fama desagradável de “amarelão” para time e jogadores.
No verão de 2017 uma grande decisão precisava ser tomada: renovar ou não com Lowry? O armador chegava aos seus 30 anos, ainda não havia se mostrado decisivo o suficiente nos playoffs e era uma das caras do fracasso do time (uma espécie de Rodrigo Caio para os são-paulinos). Ujiri foi firme e decidiu oferecer uma renovação de três anos por US$ 100 milhões. No Draft daquele ano, o time conseguiu o ala OG Anunoby com a escolha 23.
A temporada 2017-18 seguiu o script das outras, mas uma evolução era notória. Os canadenses conseguiram a melhor campanha da Conferência Leste com sobras. DeRozan e Lowry continuavam infernais no perímetro, Ibaka e Valanciunas pareciam se conversar bem no garrafão, os jovens Siakam, VanVleet, Delon Wright e Jakob Poetl provaram serem jogadores úteis, porém nada disso se viu nos playoffs. O time mais uma vez foi varrido pelo Cleveland Cavaliers de LeBron James, que já não aparentava mais tanta dominância e isso foi o ponto de inflexão para Ujiri.
(Foto: Ezra Shaw/Getty Images)
A hora da virada definitiva
Dwane Casey havia sido eleito o técnico do ano na temporada 2017-18, porém ele foi demitido de forma até surpreendente, substituído por Nick Nurse, que havia conquistado a liga de desenvolvimento da NBA em 2013. Nurse era um dos assistentes técnicos de Casey e sua escolha chocou a muitos, dado que a esperança era de um nome de mais peso no comando dos Raptors, para justificar perder Casey.
O passo decisivo para a montagem do elenco campeão foi dado em 18 de julho de 2018. Kawhi Leonard havia solicitado uma troca para o San Antonio Spurs. O ala declarou na época (segundo o submundo da NBA) que só aceitaria ser trocado para Los Angeles Lakers ou Clippers, caso contrário não assinaria uma extensão e sairia no final da temporada 2018-19 (será mesmo, Kawhi?) de onde quer que estivesse. O ala chegou junto de Danny Green aos Raptors, e em troca os canadenses perderam seu ídolo maior, DeMar DeRozan (o que gerou tristeza em Lowry e em toda torcida da franquia), e Jakob Poetl, aquele da escolha de Draft que veio de Andrea Barganani.
A temporada regular de 2018/19, assim como as últimas, foi boa para os canadenses, que estavam disputando a melhor campanha da NBA com os Bucks, porém ainda havia o sentimento de que algo faltava à equipe. O Memphis Grizzlies decidiu que era hora de renovar sua equipe e deixou Marc Gasol disponível para as trocas. Ujiri foi ágil e ofereceu Jonas Valanciunas, CJ Miles, Delon Wright e uma escolha de segundo round de 2024 para ter o espanhol, que foi a última peça necessária para o time ser campeão da NBA.
Então, montando um resuminho de como o elenco foi montado:
– Kyle Lowry (veio em troca de Gary Forbes e uma escolha de Draft que virou Steven Adams)
– Danny Green e Kawhi Leonard (em troca de DeMar DeRozan, Jakob Poetl e uma escolha de primeira rodada)
– Serge Ibaka (veio em troca de Terrence Ross)
– Marc Gasol (veio em troca de Jonas Valanciunas, CJ Miles e Delon Wright)
– Paskal Siakam (foi escolhido com a posição 27 do Draft)
– Norman Powell (veio trocado por uma escolha de segunda rodada do Draft e escolhido na posição 46)
– Fred VanVleet (assinou como agente livre após não ser escolhido no Draft)
– OG Anunoby (Escolhido na posição 23 do Draft)
– Nick Nurse: era assistente técnico de Dwane Casey
Como vimos nesta longa história, o Toronto Raptors passou por um processo de reconstrução longo e pesado e baseou a criação do seu elenco com trocas e com escolhas baixas de Draft, não tendo que ir ao mercado assinar com um grande free agent, muito menos teve a sorte de ser agraciado com uma primeira escolha de Draft e um gênio cair no seu colo. Com isso, os movimentos certeiros da temporada 2018-2019 foram apenas a cereja do bolo. O título, mais que merecido, era questão de tempo.
(Foto: Christian Petersen/Getty Images)