O interessante jogo de xadrez entre Warriors e Cavaliers nas Finais da NBA
Trabalho de técnicos e coadjuvantes vem sendo fundamental na decisão; quem colocará o adversário em xeque?
Conversando com alguns amigos, percebi que estas Finais da NBA entre Golden State Warriors e Cleveland Cavaliers estão decepcionando um pouco o público. Acredito que todos esperavam o melhor das duas equipes no que diz respeito ao talento dos jogadores que cada um possui.
O que estamos vendo? Justamente o contrário. Técnico trabalhando para anular os pontos fortes do adversário. E coadjuvantes decidindo partidas. Por isso me ocorreu essa comparação com o xadrez, muito comum em outros esportes, mas nem sempre usada no basquete.
Mas vamos lá, prometo que não vou ficar comparando as situações de jogo com jogadas de xadrez. Apenas o todo da história, que é a analogia de mexer uma peça antecipando o movimento do adversário. Tudo começou a partir de David Blatt, nos Cavaliers. Na primeira partida da decisão, era claro o objetivo do time visitante de neutralizar o adversário em primeiro lugar. Antes de tudo, Stephen Curry não podia jogar. O trabalho foi quase bem feito, Curry rendeu menos que o esperado, só duas bolas de três no jogo. Mas Cleveland sofreu uma perda enorme com a saída de Kyrie Irving e teve de jogar basicamente com LeBron e mais 4. No fim das contas, jogo na prorrogação, mas com Golden State vencendo.
Blatt então fez um aposta ousada, apesar de se basear em um aspecto defensivo. Colocou todas as suas fichas em Matthew Dellavedova, que no jogo 1, substituindo Irving, fez zero ponto. Mas não queria Delly pontuando, muito menos armando (essas duas coisas LeBron faz). Queria transformar a vida de Curry num inferno e assim fez. O MVP da temporada foi 2 de 15 nas bolas de três e não converteu nenhum arremesso quando marcado pelo australiano, fechando com 19 pontos. Sem Curry, os Warriors buscaram outras alternativas, mas encontraram um time totalmente preparado para defender e atacar com o mortal LeBron, que fez um triple-double com 39 pontos naquele noite.
Série seguiu para Cleveland e o filme se repetiu. Dellavedova sendo o terror de Curry, LeBron pontuando alto… e dessa vez teve ainda Delly com 20 pontos. Já imaginou ter um cara que marca assim e ainda faz 20 pts num jogo? Seria Dellavedova o novo MVP da temporada? (brinks). Neste jogo, Stephen Curry marcou ainda 27 pontos, subindo bastante de produção no último quarto, mas o trabalho ruim nos quartos anteriores decretou mais uma derrota de GSW. E como já dissemos, a marcação era intensa em todos os setores. Claramente, Blatt percebeu que só venceria esta série se conseguisse ver seu time todo se entregando ao máximo e deixando para LeBron James apenas a responsabilidade de decidir, algo que ele vem fazendo.
Bom, após mais esta vitória de Cleveland, a pressão foi grande em Golden State. Muita gente já chamando Curry de amarelão, jogadores se cobrando pela imprensa, Kerr escondendo jogo na escalação (Luxemburgo fazendo escola). E falando no Kerr, foi ele o fator que começou a mudar a história deste jogo 4 antes mesmo dele começar. Demorou, mas após 3 jogos ele percebeu que esta não é uma final qualquer, que seus jogadores estavam sentindo o peso de uma primeira decisão. Ele precisava criar um fato novo. Precisava pensar também em neutralizar o adversário, oras.
Aí que chega Andre Iguodala. Que já vinha fazendo uma boa série, mas acabou sendo o cara na quarta partida. Ele entrou numa mudança tática de Steve Kerr, que tirou Andrew Bogut e subiu Draymond Green para a posição de pivô. Vendo a escalação, eu não achei que daria certo. Acreditei que os Warriors perderiam muito na briga pelas bolas no garrafão com Green e Barnes contra Mozgov e Thompson. Nisso eu tinha razão, pois realmente os dois dos Cavs dominaram o terreno, mas no geral isso não fez muita diferença. A transição ofensiva mais veloz de Golden State, fez. Iguodala deu ao time uma dinâmica diferente, jogadas de infiltração. Sobrou menos para Curry a responsa de converter bolas de três a torto e a direito. LeBron James foi também mais bem marcado. Vimos muitas dobras na marcação dele. Ele fez menos da metade dos pontos que vinha fazendo em média – com 21 pontos a mais (sua média era de 41), os Cavs teriam empatado o jogo.
Resumo da história: além da entrega maior, o que fez o Golden State buscar o empate na série foi reconhecer que precisaria neutralizar também o adversário. Algo que Steve Kerr ainda não havia precisado nesta temporada – mesmo nos momentos mais difíceis dos Playoffs, sempre o que fez a diferença foi o talento de sua equipe e de seu MVP, contra qualquer time.
Fica a lição agora para um jogo 5 totalmente imprevisível no domingo, em Oakland. Dificilmente Kerr abrirá mão da escalação que deu certo na partida anterior. E ele sabe que LeBron não deve pontuar tão pouco novamente (mas fará de tudo para isso acontecer). Blatt deve estar lendo e relendo todos os seus manuais de basquete, já deve ter assistido 15 vezes o confronto de quinta e vai fazer alguma coisa diferente para buscar a vitória, sem deixar de minar a força de Curry, Thompson e cia – incluindo Iguodala, que agora pode ser considerado uma grande ameaça.
Se tem coisas que os técnicos andam falhando muito ainda é na rotação de seus elencos. Neste jogo 4, ficou nítido o desgaste físico do Cleveland Cavaliers no fim da partida, já que basicamente só 7 jogadores vêm participando da rotação da equipe. Pô, você tem no banco Mike Miller, Shawn Marion, até Kendrick Perkins (ok, esse nem tanto, mas é também campeão da NBA)… podia dar alguns minutos a eles, são caras experientes, ajuda a descansar outros. Do outro lado, sinto Kerr também perdido nessa questão com o Golden State Warriors. No jogo 3 por exemplo, o time melhorou 200% quando David Lee entrou pela primeira vez na série. Primeira vez! Um ex-All-Star! É um cara que muda a forma de jogar, assim como Leandrinho, que podia ter mais tempo de quadra pelo seu estilo de infiltração e velocidade. Mas enfim, isso não deve mudar muito nos próximos jogos, pelo contrário.
Voltando a analogia com o xadrez, vale lembrar que quem vencer no domingo ficará a um triunfo do título. Vai pedir “xeque” ao rival. Então, não é bobagem dizer que quem levar essa terá chances enormes de comemorar o xeque-mate durante a semana.
Imperdível hein! Jogo 5 das Finais da NBA, domingo (14/6), às 21h (horário de Brasília). Transmissão ao vivo na ESPN.