Celtics: a camisa pesa, mas ter paciência é necessário
Franquia de Boston passa por um período turbulento em sua história, porém espera se reerguer
Existente desde a criação da National Basketball Association (NBA) em 1946, a franquia do Boston Celtics é uma das mais tradicionais da história do basquete profissional norte-americano, além de ser a mais vencedora, com 17 títulos. Apesar de seu absoluto sucesso, hoje o time passa por um de seus piores momentos com a reconstrução do elenco que teve início em 2012 após a quebra do “Big Three”, sem uma data precisa para a sua tão esperada conclusão.
De lendas como Bob Cousy, Bill Russell, Larry Bird e Paul Pierce a um grupo que não possui uma única referência, apenas muitas eternas promessas que não deram certo e algumas outras que podem vir a ser o novo futuro dos Celtics, agora o time conta com uma estratégia pouco ortodoxa, que tem a desaprovação de muitos torcedores, mas que se feita corretamente poderá impulsionar Boston de volta ao topo.
Antes de mencionar tal planejamento, vale a pena relembrar o esquadrão celta campeão da NBA em 2008, que conseguiu conquistar na temporada regular a primeira colocação na divisão do atlântico além da conferência leste em uma campanha absoluta de 66-15. Na escalação titular, havia jogadores como Kendrick Perkins, Rajon Rondo, Kevin Garnett, Paul Pierce e Ray Allen, nomes que não se encontram mais nessa equipe.
Nos últimos anos, Boston se viu à beira de um precipício sem fim, o que é totalmente justificável dada a saída de Ray Allen em 2012 para o Miami Heat, marcando o início desse desastroso, porém ainda esperançoso futuro. Sem Allen, o trio de ferro formado por ele, Garnett e Pierce começou a se desmoronar, assim como todo o resto do elenco.
Já que não poderiam mais contar com o maior cestinha de bolas três da história da liga, os celtas depositaram toda a sua fé no restante do elenco, porém, mal saberiam o próximo baque que viriam a sofrer com a ruptura de ligamentos no joelho de Rondo em janeiro de 2013, o que lhe afastou das quadras pelo restante da temporada. Com uma brusca queda para 2012-13, o time obteve a classificação aos playoffs ocupando a sétima posição na conferência leste, apenas para serem derrotados pelo New York Knicks ainda na primeira rodada da pós-temporada.
O período de férias desse ano também não foi dos melhores, pois Kevin Garnett e Paul Pierce junto com outros atletas deixariam o grupo para se unirem ao Brooklyn Nets, além de seu tão condecorado técnico, Doc Rivers, acabar indo para o Los Angeles Clippers. Agora era oficial: com um armador all-star baleado e sem outras estrelas e seu comandante, os Celtics haviam chegado ao fundo do poço.
Já com o processo de reconstrução na cabeça, o general manager Danny Ainge começava a mexer seus pauzinhos. O armador Marcus Smart e o ala James Young foram recrutados no draft de 2014, para tentar suprir a falta de seus principais atletas. Nada que não pudesse ficar pior, no dia 16 de dezembro, Rajon Rondo foi trocado para o Dallas Mavericks botando um ponto de exclamação nos resquícios daquele esquadrão que há quase sete anos teria conquistado a liga.
O pavio havia sido queimado e a bomba finalmente havia explodido, com Ainge tendo o futuro da franquia em suas mãos. Já não de agora, seu trabalho tem sido contestado e nos últimos anos veio negociando jogadores a rodo para obter escolhas de primeira e segunda rodada nos próximos quatro drafts, além de poder liberar alguns salários para a contratação de novas estrelas.
Apesar das recentes e controversas atitudes, o cartola foi o principal responsável pela conquista do título anos atrás, se movimentando no mercado com agressividade para obter Ray Allen do Seattle Supersonics e Kevin Garnett do Minnesota Timberwolves em 2007 para criar o Big Three (junto com Pierce, que estava lá). O maior problema para Danny hoje talvez seja arrumar atrativos suficiente para um superatleta querer escolher jogar em Boston.
Pois ao contrário de quase uma década atrás, onde “The Truth” era o rosto da franquia e Rondo uma grande promessa, agora temos Smart como substituto do armador e Young de ala, porém ambos ainda estão muito crus, assim como Tyler Zeller e Kelly Olynyk no garrafão, que possuem um bom potencial, porém ainda pecam em princípios básicos do basquete além de Jared Sullinger, que até determinado momento não conseguiu se firmar como um dos melhores power forwards da liga.
O único problema e talvez o grande erro que poderia acontecer seria montar uma nova franquia apenas em cima de atletas recém formados de suas universidades e correr o risco de transformar o time em um novo 76ers, que têm muitos talentos, porém nenhum deles consegue vingar devido a pouca experiência além de terem sido jogados na fogueira, sem nenhuma grande referência para ajudá-los.
Do draft de 2015 até o de 2018, com todas as trocas e negociações feitas, os Celtics possuem 14 escolhas de primeira rodada e 13 de segunda – com 16 dessas 27 totais sendo picks protegidas ou tendo alguma condição especial para serem consolidadas como de Boston. Ou seja, os celtas provavelmente não irão recrutar 27 atletas nesse período, mas podem utilizar as mesmas escolhas recebidas em muitos acordos para conseguirem alguma estrela via troca.
Já no mercado para a próxima temporada (15-16), a NBA terá um salary cap de U$ 66.5 milhões, o que faz com que o time de Ainge, graças às inúmeras movimentações realizadas, tenha aproximadamente U$ 33 milhões livres nos cofres para gastar na free agency. Com esse dinheiro e a situação de agentes livres, os Celtics podem conseguir contratar duas super estrelas ou no mínimo, três bons atletas.
Cogitando alguns bons nomes, LaMarcus Aldridge, Marc Gasol e o próprio Rajon Rondo serão agentes livres irrestritos, o que significa que com o fim da temporada atual podem assinar com qualquer outra equipe. Enquanto jogadores como Roy Hibbert, LeBron James, Dwayne Wade, Kevin Love, Luol Deng, Monta Ellis e Goran Dragic podem ser tornar agentes livres por opção, encerrando seus contratos com suas equipes atuais. Claro que contar com muitos nomes dessa pequena lista talvez seja um sonho, alguns até distantes, porém piso salarial, escolhas e grandes talentos que serão selecionados no recrutamento os Celtics possuem e isso, junto com algumas conversas com Danny Ainge, podem no fim se tornar um grande atrativo.
O Boston Celtics agora tem a faca e o queijo na mão para definir o seu próprio futuro. A situação é delicada? Sem dúvida que sim – mas conforme o título desta crônica – vai exigir de todos muita paciência, o que é essencial para o sucesso deste final de reconstrução e um erro, por mais que pequeno, pode vir a estragar todo o planejamento criado ao longo dos anos e jogar de vez o time no fundo da tabela por quem sabe mais quanto tempo. Portanto, o jeito é depositar todas as esperanças no que os dirigentes poderão exercer e confiar no que o não tão “louco” general manager vai fazer…