5 fatores que levaram o Cleveland Cavaliers ao título da NBA
Vamos relembrar a temporada dos Cavaliers, finalizada em sete jogos e o primeiro título de sua história
Contra a parede depois de quatro jogos na série melhor de sete das Finais da NBA, sendo praticamente dado como batido, o Cleveland Cavaliers virou pela primeira vez um 1-3 em Finais, venceu a série contra o Golden State Warriors por 4-3 no último domingo (19) e garantiu seu primeiro título na NBA, o primeiro da cidade de Cleveland em qualquer uma das quatro principais ligas norte-americanas desde 1964.
Vindo do vice-campeonato na temporada 2014/2015 contra os mesmos Warriors, os Cavaliers souberam dosar as energias na temporada regular, foram arrasadores na pós-temporada, com apenas cinco derrotas, e coroaram todo o esforço em um suado e merecido título, liderados por LeBron James e Kyrie Irving. Desde outubro até domingo, a franquia de Ohio passou por alguns altos e baixos. Lembremos os principais motivos que levaram a equipe ao patamar de melhor equipe de basquete do mundo.
Mudança de comando no meio da temporada
Finalista com Cleveland na temporada 2014/2015 em sua primeira temporada como técnico na NBA, David Blatt comandou a franquia até exatamente o meio da temporada regular, sendo demitido no dia 22 de janeiro, um dia após os Cavaliers atingirem a campanha 30-11 (estavam em primeiro no Leste), sob a justificativa de não ter comando sobre a equipe. Com a saída de Blatt, Tyronn Lue, assistente mais bem pago da NBA naquele momento, foi escolhido para assumir o posto e controlar as feras da franquia.
Jovem, Lue arejou o estilo de jogo dos Cavaliers, logo alçou Tristan Thompson, um dos principais jogadores da equipe na reta final, para o lugar de Timofey Mozgov no pivô, construiu um ataque bastante apoiado nas bolas de três, com muita movimentação de bola e alta porcentagem de acerto e batalhou por uma defesa intensa e consistente, todos feitos atingidos com sucesso ao longo da temporada. Com relação a James, que tinha problemas com Blatt, a relação era mais amigável.
Na série final, Lue manteve-se convicto em sua estratégia de marcação, fez ajustes pontuais e opções por jogadores bem corretas (Mo Williams em vez de Matthew Dellavedova e Richard Jefferson e até Dahntay Jones em vez de Channing Frye, que estava mal), acabando por superar o rival Steve Kerr.
Tristan Thompson
Falando em Tristan Thompson, o pivô canadense teve um papel nos playoffs que jamais poderia ter sido imaginado no início da temporada. Draftado em 2011, na quarta posição, e chegando em um Cleveland em frangalhos, Thompson teve uma temporada de estreia discreta, porém ganhou a titularidade plena nas duas temporadas seguidas (começou as 82 partidas de cada temporada como titular) e via um futuro promissor. LeBron James e mais reforços chegaram em 2014 e Thompson novamente voltou para a rotação dos coadjuvantes.
A evolução do jogo defensivo de Thompson foi algo notável em seus últimos anos de liga. O pivô tem mobilidade e consegue segurar os armadores nas trocas, ao mesmo tempo que é uma das grandes máquinas de rebotes da liga. Lue percebeu isso e começou a colocá-lo aos poucos no lugar do pouco móvel e igualmente fraco ofensivamente Timofey Mozgov.
O desequilíbrio de Thompson apareceu nos playoffs, fase em que Mozgov só entrou no garbage time. Na pós-temporada, o pivô teve quase 30 minutos por partida e era um fator de desequilíbrio no garrafão. Com seus 9 rebotes por jogo (sendo surreais 4,1 ofensivos) os Cavaliers protegiam o garrafão de um lado e tinham segundas chances de pontuar do outro. TT ainda contribuiu com 6,7 pontos por jogo.
Kyrie Irving
Draftado em primeiro no Draft que trouxe Thompson, em 2011, Kyrie Irving já chegou na NBA como um talento nato. Desde que chegou até hoje, o armador, nascido na Austrália, começou todos seus jogos como titular, nunca saindo do banco. Rookie Of The Year em 2012, Irving terminou sua primeira temporada com média de 18,5 pontos por partida, sua menor da carreira.
Irving jogou seus primeiros playoffs na temporada 2014/2015 e pareceu bem a vontade, terminando a participação com média de 19,2 pontos por jogo. O problema foi o armador ter uma lesão no joelho e ficar fora de combate durante as Finais daquele ano, em que os Cavaliers foram superados pelos Warriors por 4-2.
Nesta temporada, Irving, ainda mais maduro, veio para matar na pós-temporada. Melhor na defesa do que nunca (ainda com falhas, mas na melhor forma de sua carreira) e com o controle de bola, os cortes e os arremessos ainda mais afiados e mortais, KI é uma das armas ofensivas mais fatais da liga e provou ser extremamente frio e decisivo. O armador teve a média de 27,1 pontos por partida nas finais, ganhou a parada contra o MVP unânime Stephen Curry e ainda matou a bola decisiva do jogo 7, de fora, sobre Curry, a 53s do fim da temporada, decretando o inédito título.
LeBron James
Se teve um fator de total desequilíbrio na temporada, e principalmente na reta final dos playoffs, este fator foi LeBron James. O melhor jogador do mundo da década conseguiu atingir aquilo que queria quando voltou para Cleveland em 2014: dar o sonhado título para a cidade, carente de títulos há 52 anos.
Aos 31 anos, LeBron é um jogador, e uma pessoa, muito mais madura nesta altura de sua vida. Ao longo da temporada, e em pelo menos 80% dos playoffs, o ala mostrou ser aquele jogador dos últimos anos, isto é, procurando envolver seus companheiros no ataque, coordenando a defesa e cada vez mais tentando (disse “tentando”) sair do papel de centralizador e decididor de jogadas. No esquema de bolas de três de Lue, isso deu muito certo, com o astro muitas vezes levando a bola e atuando como armador, soltando a bola para J.R. Smith, Irving e Kevin Love decidirem.
Acontece que rei é rei e LeBron, competitivo que é e totalmente contra a parede com 1-3, não teve saída a não ser colocar a bola debaixo do braço e partir para a decisão, do modo mais concentrado e determinado já visto nos últimos anos. Nos três últimos confrontos contra os Warriors, James “apenas” anotou 41 pontos duas vezes e um triple-double imponente (em um jogo 7 fora de casa). Incontestável o seu prêmio de MVP e compreensíveis suas lágrimas ao ganhar o título, afinal conseguiu o objetivo que tanto buscou ao longo de sua vida: dar um título a Cleveland.
O toco de LeBron James no jogo 7 das Finais
Ainda sobre LeBron, o lance a 1:50 para o fim do jogo 7, quando o astro atravessou a quadra e bloqueou Andre Iguodala de maneira espetacular vai ficar para a história das Finais da NBA, daqueles que irão se repetir durante um bom tempo nas vinhetas da liga. O toco de James foi tão decisivo e impactante para os Warriors, que a equipe da casa não pontuou mais desde então, ficando estacionada nos 89 pontos.
O jogo estava em um momento crítico, com o placar estagnado no empate em 89. A cesta de Iguodala poderia ter mudado todo o rumo do título, o que não aconteceu, já que o toco de LeBron foi seguido pela bola de três de Irving, que decretou o título.
A imagem do toco ilustra bem o que foi LeBron James e o que foi o Cleveland Cavaliers nos últimos três jogos da série: determinado, furioso, com sede, fazendo parecer que apenas um dos lados queria o título.
(Fotos: Jason Miller/Getty Images; Reprodução Youtube; Gregory Shamus/Getty Images; Ezra Shaw/Getty Images; Ezra Shaw/Getty Images; Thearon W. Henderson/Getty Images)