Uma visão geral sobre o título do San Francisco Giants na World Series 2014
O The Playoffs analisa os principais fatores na conquista do time de San Francisco na MLB
É inebriante pensar que o San Francisco Giants venceu a World Series 2014. É completamente surreal imaginar que hoje a equipe conseguiu conquistar sua terceira Série Mundial nos últimos 5 anos. Até 2010, quando venceu a primeira das últimas três, o time estava numa seca de 56 anos sem vencer o desafio mais importante do beisebol, amargando ainda três vice campeonatos. O que mais me chama atenção nisso tudo, foi a forma com que eles venceram neste ano.
Não estamos falando do favorito ao título ou de um time que estava entre os 3 mais cotados para conquistar a competição. Estamos falando de um time que começou a temporada de forma arrasadora e simplesmente caiu de uma hora para outra, vendo seu principal rival ultrapassá-lo e conquistar o título da divisão oeste da Liga Nacional com 6 jogos de folga. Um de seus principais arremessadores, Tim Lincecum, foi de shutouts e 1 no-hitter para o bullpen.
Ninguém esperava! Essa última frase reproduz bem o que foi a conquista do time da Baía de San Francisco este ano. Não faltou emoção, garra, luta, aflição. Foi como manda o roteiro. Principalmente de um grande campeão. Vamos falar um pouco desse roteiro?
Prazer! Bruce Bochy
São sete temporadas. Mais de 660 vitórias, 630 derrotas e 3 World Series conquistadas em San Francisco. Os Giants haviam conquistado sua última série mundial há mais de 50 anos atrás, quando venceram o Cleveland Indians por 4 a 0 na série melhor de 7 e ainda habitavam a cidade de Nova York. Essa seca durou até conhecerem este que é um dos maiores treinadores da história da franquia, sem sombra de duvidas. Bruce Bochy, senhoras e senhores. Se os Giants podem comemorar hoje o que alguns chamam de DINASTIA, muito se deve ao treinador francês de 59 anos. Sim! Temos um francês!
Em 2014, mais uma vez Bochy foi um grande fator para a conquista do título tão sonhado pelas equipes que disputam a MLB. Até o dia 17 de junho, seu time liderava a divisão Oeste da NFC por 5 jogos de diferença para o segundo colocado e maior rival, Los Angeles Dodgers. Cerca de 30 dias depois, o time de Los Angeles já estava na ponta da tabela, enquanto a equipe de San Francisco caia de rendimento cada vez mais. Lesões, atuações pífias de seus arremessadores e um ataque bastante anêmico contribuíram para que o caos estive instaurado no vestiário.
Em setembro, a temporada regular dos Giants terminou com 88 vitórias e 74 derrotas, perdendo 4 dos seus últimos 6 jogos. Ninguém esperava! Começava aí um novo time, uma nova esperança… Uma nova caminhada para o título. Bruce Bochy não estava lá apenas mudando os sintomas no vestiário e motivando seu time. San Francisco avançava na pós-temporada, passando por cima de Pittsburgh Pirates, Washington Nationals e St. Louis Cardinals de forma que parecia ter esquecido a temporada regular, e chegou novamente na Série Mundial.
Enquanto muitos criticavam o experiente treinador (me põe nessa aí também) por ter usado Madison Bumgarner por 9 entradas com o jogo 5 da World Series nas mãos, Bochy não titubeou e quando mais precisou de seu principal arremessador, o francês não teve meia conversa e disparou frases simples e diretas para os jornalistas: “Ele vai jogar. Ele é forte e confio nele.” MadBum teve apenas dois dias para descansar e ir para o último e decisivo jogo da série. Bochy estava convicto do que iria fazer mais uma vez. Bumgarner destruiu! E o resto vocês já sabem.
Muitos dos atuais jogadores que estão hoje na franquia conquistaram a World Series em 2010 e 2012. Alguém acha que é fácil motivar jogadores campeões e milionários, além de terem tido um ano de certa forma decepcionante nos 163 jogos que disputaram? Nunca foi e nunca será. Não para Bruce Bochy. O francês que realmente mudou a história da franquia de San Francisco e que um dia vai estar com certeza no Hall da Fama da Major League Baseball.
MVPs de honra
Embora Madison Bumgarner fosse favorito ao título de Most Valuable Player (Jogador Mais Valioso), mais conhecido como MVP, outros dois jogadores da equipe de San Francisco chamaram atenção durante toda a caminha nos playoffs 2014 da MLB. Vamos começar com Hunter Pence. Completamente frenético, o defensor de campo externo dividiu com Omar Infante o maior número de corridas (5) na World Series. Além disso, também foi o jogador com mais rebatidas (12) e que teve melhor aproveitamento (44%) na final da MLB.
Pence é o tipo de atleta que qualquer equipe campeã precisa ter. Vibrante, guerreiro, não se assusta com a atmosfera criada pela torcida adversária e às vezes até dá uma cutucada nela. Não que isso seja o principal. O texano foi o melhor jogador de San Francisco no bastão em toda temporada regular e também o que anotou mais corridas. Sendo assim, talento é o que não falta para o outfielder de 31 anos. E com os números já ditos na World Series, era impossível não colocá-lo como candidato a MVP da série.
E Pablo Sandoval? Melhor jogador da Série Mundial em 2012, o ‘Panda’ mais uma vez mostrou que não brinca em outubro e é sempre um perigo. Ao lado de Pence, conseguiu 12 rebatidas que ajudaram o Giants a anotar corridas e ganhar os jogos na World Series. Foi um dos que mais anotou corridas (6) e obteve também um bom aproveitamento, 42,9% na série.
E no quesito defesa? Muitos não imaginam ou sequer levam em conta, mas Sandoval, apesar do físico não muito esbelto, é um monstro na defesa e nessa World Series não foi diferente. Ah, se não fosse um tal de Madison Bumgarner… Mas tudo bem. Pablito vai ficar marcado na história com a imagem de um terceira base fazendo a defesa que pôs ponto final no jogo que marcou a oitava conquista do San Francisco Giants.
Agora vem o monstro…
Meu Deus! Não tive como começar essa parte do texto de outra forma que não fosse com espanto. O que este cara fez foi algo absurdo! Madison Bumgarner, o MadBum, vinha de uma bela temporada, uma pós-temporada sensacional e de dois jogos espetaculares na World Series. Não contente, ele foi sacado do bullpen para arremessar no último jogo do ano, tendo descansado apenas dois dias desde sua última apresentação. E não foram 80 ou 90 arremessos. Ele havia arremessado 117 bolas no jogo 5 da série.
Muitos até imaginaram que ele poderia sim arremessar no jogo 7, desde que a partida fosse para entradas extras ou quem sabe, antes da nona, uma ou duas entradas. Ele jogou 5 innings e sofreu apenas duas rebatidas. Nem as falhas do campo externo dos Giants na última entrada foram capazes de abalar MadBum. Aliás, aquilo foi o caos. Eu gelei e pensei: “Bill Buckner. Bill Buckner. É a World Series de 1986.” Será que Gregor Blanco e Juan Perez também teriam que deixar a cidade?*
Mas voltando ao quesito Bumgarner, em toda a série ele anulou o ataque adversário completamente. Foi dominante ao extremo. Era olhar para o rosto de qualquer rebatedor dos Royals e ver a cara de ‘não sei o que faço’. Impossível não dar o título de melhor jogador da decisão para o canhoto de apenas 25 anos e três World Series conquistadas, com retrospecto sensacional na pós-temporada e um dos melhores já vistos na grande final do beisebol.
Ao mesmo tempo que isso me assusta por ser um fator mega positivo, não sei o que pensar sobre o futuro do arremessador. É muito talento para pouca idade. Como já falei antes, é difícil motivar esportistas multicampeões e milionários. O que Madison Bumgarner precisa ganhar mais? Um título de Cy Young? Não sei se isso é o suficiente. Além das 3 World Series e um título de MVP, ele acumula 2 aparições recentes no All-Star game (2013 e 2014) . A quantidade de prêmios pode não ser algo absurdo, mas se tratando do peso deles, se torna algo absurdamente absurdo, com o perdão da palavra. Estou realmente curioso para saber como será a próxima temporada de um dos melhores arremessadores da atualidade do beisebol.
Considerações finais
Menino Royals, não te abale. Eu gostei muito de vê-lo jogar nos playoffs. Vocês foram campeões da Liga Americana com folga e disputaram a World Series de forma honrosa, perdendo por apenas 1 jogo. Além disso, de vocês ninguém esperava também. “O time que menos anotou home runs, que menos anotou isso e aquilo”. Cadê? Nada disso foi levado em conta neste mês de Outubro. Vocês ganharam apreciadores, fãs e um amor ainda maior do então atual torcedor de Kansas City. Mostraram ao mundo que não é preciso ter muita grana para praticar um esporte em alto nível. Jamais o dinheiro vai superar o esforço, força de vontade, garra e determinação do ser humano. É questão do quanto você acredita e luta por aquilo. É vibrar a cada rebatida ou feito e se superar não apenas por você, mas pelo seu companheiro. É ser atleta no mais alto compromisso com o dever. É ser nobre e majestoso. É ser Royals. Parabéns e até 2015, Kansas City Royals.
Giants, parece clichê, mas existe outro adjetivo melhor do que GIGANTES? Muitos dizem que camisa não pesa, que isso é balela… Eu não acho. E visto que esse time tem a mesma base desde 2010, reforço ainda mais a tese de que camisa pesa para quem acredita nela. Ninguém esperava, não é?! Um time já desacreditado e uma imprensa que já não os badalava mais. Tudo isso pra dizer que sim, alguém esperava. Como não? Você, torcedor de San Francisco. Você esperava. Você é Giants. E de Gigante, todo mundo tem medo.
Saudades, MLB. Te espero em Abril. Sempre.
* Nota: Naquela ocasião, o primeira base do Boston Red Sox, Bill Buckner, estava perto de fazer a maldição de bambino terminar e finalmente os meias vermelhas conquistariam o título da Série Mundial, após sete décadas de espera. Do outro lado, os Mets precisavam ganhar o jogo 6 e levar a decisão para o game 7. Tudo empatado, entradas extras e uma bola na direção de Buckner… Miseravelmente ela passou por baixo de suas pernas e os Mets anotaram a corrida da vitória. Mais tarde, eles venceriam também o jogo 7 e Bill Buckner estaria sendo lembrado como o homem que fez o Boston Red Sox perder a World Series de 86. Uma tragédia que levou o 1B para fora da cidade por muito tempo.