Reforços são suficientes para Angels superar Astros em 2018?
Chegadas de Shohei Ohtani, Ian Kinsler e Zack Cozart colocam Los Angeles Angels junto aos melhores da MLB?
Se o Houston Astros planejava iniciar uma dinastia após conquistar, em 2017, a primeira World Series da história da franquia, encontrou um adversário de peso dentro da própria Divisão Oeste da Liga Americana. O Los Angeles Angels destacou-se nos primeiros 45 dias da intertemporada e apresentará muitas novidades aos torcedores no começo da próxima temporada. Ficam, então, as perguntas: quanto o time de Mike Scioscia melhorou? Será que os Angels brigarão em igualdade de condições com os Astros?
A franquia californiana foi a segunda colocada na AL West, mas o cartel de 80 vitórias e 82 derrotas representa uma larga distância na comparação com os texanos, que somaram 101 vitórias e 61 derrotas, 21 jogos de diferença. Sem grandes mudanças desde a World Series, os Astros devem manter-se em nível elevado, o que significa que os Angels têm de melhorar muito para sonhar com o título da divisão. Sem mais delongas, à análise: isso é sonho ou realidade?
O lineup principal de 2017, segundo o site baseball-reference.com, foi o seguinte: Martin Maldonado como catcher, C.J. Cron, Danny Espinosa, Andrelton Simmons e Yunel Escobar no infield (da primeira à terceira base) e, no outfield, Ben Revere (e, em setembro, Justin Upton) na esquerda, Mike Trout no meio e Kole Calhoun na direita. Albert Pujols foi o rebatedor designado. Excetuando-se bases roubadas, as estatísticas ofensivas, incluindo todo o elenco, foram uma decepção.
O time foi o 14º da AL em aproveitamento no bastão (24,3%), 11º em chegada em base (31,6%), 13º em home runs (186) e rebatidas triplas (14), 14º em rebatidas duplas (251) e o pior em total de rebatidas, com 1.313. Na análise do WAR (vitórias sobre substituto, na tradução literal), métrica que compara cada jogador com um substituto “mediano”, apenas Simmons e Trout brilharam, com 7.1 e 6.7, respectivamente. Kole Calhoun foi o outro rebatedor a ficar acima de dois, valor citado como o de um jogador titular, e o outfielder teve 2.1 de WAR.
As mudanças, do ponto de vista ofensivo, são grandes. Quando não arremessar, o japonês Shohei Ohtani (falaremos mais sobre ele a seguir), que saiu do Nippon Ham Fighters, da NPB, e escolheu os Angels como casa para a estreia na MLB, deve ser o rebatedor designado, e é difícil imaginar que ele terá desempenho pior do que Pujols, uma sombra do grande astro do St. Louis Cardinals da última década. Ohtani não tem parâmetro razoável para comparação, já que o nível da NPB (liga japonesa) é distinto, mas Pujols teve em 2017 WAR de 1.8 NEGATIVO, o pior de todo o elenco, com 24,1% de aproveitamento, 28,6% de chegada em base, 101 corridas impulsionadas e 23 home runs, a pior marca da carreira excetuando-se 2013, quando uma lesão limitou sua temporada.
Justin Upton chegou do Detroit Tigers no final de agosto, e se um mês foi pouco para salvar a temporada 2017, o left fielder acertou uma renovação de contrato, adicionando um ano ao acordo em troca de não usar a cláusula opt-out. Levando em conta que a produção ofensiva dos jogadores dos Angels na posição foi a pior da AL em 2015 e 2016 e a 3ª pior em 2017 (até sua chegada), qualquer número próximo à média dele na última temporada (35 home runs, 109 corridas impulsionadas, 27,3% de aproveitamento, 36,1% de chegada em base e WAR de 5.6, nível de jogador do All-Star Game) será muito bem recebida.
Danny Espinosa, o segunda base no elenco principal citado acima, foi tão mal que não completou a temporada com a franquia: em 77 jogos, foram seis home runs, 29 corridas impulsionadas, 16,2% de aproveitamento e WAR negativo de 1.3. A solução para 2018 é bem mais eficiente: mesmo com 35 anos, Ian Kinsler é bom defensivamente e com o bastão. Neste ano, ele somou 22 home runs e 14 bases roubadas pelos Tigers, pior equipe da MLB, e se o aproveitamento foi baixo (23,6%), a regularidade defensiva compensou e justificou o WAR de 2.6, acima do nível de um titular.
A outra mudança ocorre na terceira base. O principal titular da posição em 2017 foi Yunel Escobar, que fez apenas 89 jogos e teve números medianos: 27,4% de aproveitamento, 33,3% de chegada em base, sete home runs e 0.4 de WAR. O novo dono da posição é Zack Cozart, durante anos o shortstop titular do Cincinnati Reds. Ele assinou por três temporadas com a certeza de que mudará de posição, já que Andrelton Simmons é possivelmente o melhor shortstop defensivo da AL, e mesmo que tenha de adaptar-se à 3ª bas3Be, representa uma evolução ofensiva e defensiva.
Mesmo atuando por um time muito limitado, Cozart teve um ótimo ano de 2017, pontuado pela primeira seleção para o All-Star Game. Foram 24 home runs, 63 corridas impulsionadas, 29,7% de aproveitamento, 38,5% de chegada em base e, com o trabalho defensivo reconhecido, WAR de 4.9, exatamente o nível de um All-Star. Todas as marcas acima citadas são as melhores de sua carreira (o aproveitamento em 2011 chegou a 32,4%, mas Cozart fez apenas 11 jogos).
Em um cenário perfeito, com Pujols no banco, todos os titulares disponíveis e usando o WAR como base de comparação, a diferença entre os dois lineups é de 15,6 vitórias (WAR de 31.5 em 2018, WAR de 15.9 em 2017), sem contar a participação de Ohtani. A diferença para os Astros, então, seria de cinco partidas. Será que a rotação titular consegue igualar a parada?
O negócio fica mais complicado. Neste momento, a rotação de 2018 (segundo o site do próprio Los Angeles Angels) teria Garrett Richards, Matt Shoemaker, Tyler Skaggs, Andrew Heaney e JC Ramirez. Ohtani não está listado, mas certamente fará parte do grupo e, para o cálculo, adicionaremos ele ao grupo (Scioscia não descarta uma rotação com seis homens). A rotação titular de 2017 teve, de acordo com o Baseball Reference, seis arremessadores principais: Ricky Nolasco, Ramirez, Jesse Chavez, Parker Bridwell, Skaggs e Shoemaker. Por conta de lesões, porém, os dois últimos atuaram em apenas 16 e 14 jogos, respectivamente.
Bridwell foi o melhor em WAR, com 2. Ramirez teve 1.7, Nolasco contribuiu com 0.8, Shoemaker e Skaggs chegaram a 0.7 e 0.6 e Chavez, último da lista, teve WAR negativo de 0.1. O WAR somado do grupo ficou em 5.7. Com temporadas completas de Shoemaker e Skaggs e usando os dados de 2015 para Richards e Heaney (último ano completo para ambos), o WAR da rotação de 2018 ficaria em 7.8, sem os números de Ohtani. Se o japonês tiver o nível de um titular (sem ser brilhante), e somar 2 de WAR, a diferença entre as rotações chega a quatro corridas.
Pronto. Angels e Astros estariam tecnicamente empatados, dentro da margem de erro. Tecnicalidades à parte, a grande questão é de fato a rotação dos californianos. Se Houston tem Justin Verlander e Dallas Keuchel, os Angels apresentam um japonês que (apesar da ótima avaliação) nunca atuou na MLB, quatro titulares com histórico de problemas físicos em ao menos um dos últimos dois anos e JC Ramirez, que não foi, até o momento, nada perto de um ace.
Entre Richards, Heaney, Shoemaker e Skaggs, Los Angeles necessita que três (preferencialmente os primeiros da lista) estejam saudáveis durante todo o ano. Bridwell é outra opção: contratado sem qualquer pompa ou expectativa junto ao Baltimore Orioles, ele foi o melhor titular em 2017, sua primeira temporada da MLB, e merece outra chance, mas é possível que comece 2018 no bullpen, especialmente se a rotação contar com cinco membros.
Falta o bullpen. Esse setor é o mais fluído, com mudanças constantes, e o corpo de relievers dos Astros não foi exatamente brilhante na última temporada, especialmente nos playoffs. Blake Parker e Cam Bedrosian são os principais nomes neste momento, mas a quantidade de opções no mercado, incluindo agentes livres e atletas disponíveis para troca, permite que os Angels melhorem o grupo até com alguma facilidade antes do início do Spring Training.
Em suma, é permitido sonhar em Orange County. O lineup é o melhor desde que Mike Trout tornou-se o melhor jogador da MLB, superando até o time de 2014, que venceu 98 jogos e conquistou a Divisão Oeste da AL pela última vez. Ninguém sabe se o resultado será o esperado, já que a temporada é longa e cheia de surpresas, mas é preciso aplaudir o trabalho do front office comandado por Billy Eppler, que montou um bom time, capaz de competir (quase) em igualdade de condições com o Houston Astros.
Crédito das imagens: Reprodução/Twitter, Reprodução/Facebook, Divulgação/MLB.com