Quais serão os maiores desafios de Eric Pardinho?
Contrato com os Blue Jays é o primeiro passo de Pardinho rumo à MLB, mas adaptação pode ser um obstáculo
Há seis dias, o Hilton Hotel, em São Paulo, abrigava a cerimônia da assinatura do maior bônus que um jovem brasileiro já firmou com uma franquia da Major League Baseball.
Passada a euforia pelo acordo de Eric Pardinho com o Toronto Blue Jays, em breve começa o trabalho árduo. Um bom resumo foi feito por Evandro Pardinho, pai do jovem. “Completamos um sonho de 10 anos com a assinatura do contrato. Agora abrimos outro, que é a chegada do Eric à MLB”, afirmou ele à reportagem do The Playoffs.
Que ninguém engane-se: diretores dos Blue Jays, a família de Pardinho e seu agente estão conscientes de que, se o primeiro passo foi dado, ainda será necessária uma longa caminhada até que o arremessador de 16 anos chegue aos holofotes (e estádios) da MLB. As partes têm consenso também sobre dois pontos: nem tudo será fácil e é necessário deixar o adolescente confortável para que isole-se de outros problemas e foque em seu desempenho no montinho.
Evandro traçou as diferenças entre essa mudança e o momento em que Eric deixou Bastos (interior de São Paulo) para juntar-se aos melhores jovens jogadores do Brasil, no CT de Ibiúna, aos 13 anos.
“Existia um projeto que a gente conseguiu cumprir, de estar sempre perto, apoiando. Agora ele muda de país, para começar uma nova etapa. Para 2018, a gente vai sentar e montar um plano, um projeto igual ou parecido ao do Brasil”, confirmou.
Porém, Rafa Nieves, agente de Pardinho, vê um atenuante em relação à adaptação de seu cliente. “O processo de transição para uma franquia da Major League Baseball é difícil para a maioria dos jovens de 16 anos, como Pardinho, não é fácil, mas ele é muito maturo para a idade”, disse o venezuelano, antes de aprofundar-se na explicação. “Pardinho está atuando em competições internacionais e representando o Brasil há anos, foi a muitos países com a seleção, esteve com muitos jogadores da MLB”, o que na visão dele facilitaria a transição.
E a parte mais interessada no sucesso da adaptação de Pardinho, qual papel terá no negócio? Andrew Tinnish, assistente do general manager Ross Atkins e representante dos Blue Jays na assinatura do contrato, confirmou que a franquia canadense fará o possível para transformar esse em um processo tranquilo, auxiliando dentro e fora de campo para que o brasileiro concentre-se apenas em sua missão no montinho.
Tinnish destacou que o nível de competição deve ser o maior que o brasileiro já enfrentou, o que o forçará a elevar seu jogo, além de citar a questão cultural. “Sendo brasileiro, ele enfrentará desafios que atingem jovens da Venezuela, México e República Dominicana, mas que são comuns aos americanos, e nosso trabalho é facilitar isso para que, no fim do dia, ele preocupe-se com o beisebol e melhorar seu jogo”, apontou o membro do front office dos Blue Jays.
Ele elogiou o nível de espanhol de Pardinho, algo que o ajudará a quebrar a barreira da língua em uma organização que não conta com outros jogadores brasileiros, mas citou outro objetivo do ponto de vista de comunicação. “O objetivo a longo prazo é garantir que ele sinta-se confortável, que aprenda inglês para a vida diária quando chegar aos Estados Unidos. Costumamos oferecer aulas de inglês todos os dias, seja na República Domincana, seja nos times de Minor League”.
Concluindo o raciocínio que justifica o investimento em aulas de inglês como um ganho a longo prazo para a franquia, Tinnish finalizou sua fala com alguns benefícios práticos de dominar a língua no extra-campo. “Pedir comida ou ir ao banco, por exemplo. Os desafios diários não são fáceis, e tentamos aceitar que esses desafios existem para jovens como Pardinho e outros garotos que chegam de países de línguas distintas do inglês”, citou ele.
Crédito das imagens: Luis Felipe Saccini/The Playoffs e Gabriel Mandel/The Playoffs