O momento em que a minha história se fundiu com a de Derek Jeter
Gustavo Faldon conta como foi assistir, em pleno Yankee Stadium, à 3000ª rebatida de Jeter na carreira (e não foi só isso)

Derek Jeter anotou seu hit 3.000 pra cima de David Price, um home run. Hoje, já são mais de 3.400, 6º da história da MLB
Era março de 2011, eu era uns 10kg mais magro, ainda um projeto de jornalista na faculdade esperando os últimos seis meses de curso para dar adeus à universidade. Já trabalhando de estagiário na ESPN, havia programado minhas férias meses antes para ir conhecer Nova York.
A passagem já estava comprada, faltava só a realização do sonho: ver um jogo do New York Yankees ao vivo. Comprei o ingresso para os quatro jogos diante do Tampa Bay Rays entre os dias 7 e 10 de julho, no auge do verão.
No começo daquela temporada, muito se falava que Derek Jeter conseguiria provavelmente sua rebatida de número 3.000 na carreira, o primeiro jogador dos Yankees a atingir tal feito.
Conforme a temporada foi começando, foi questão de tempo para saber quando isso aconteceria. Vindo do pior ano da sua carreira (.270 de média no bastão), Jeter começou 2011 de uma forma nada animadora, beirou os .250 de média. Eis que em meados de junho ele se lesionaria e iria à lista dos contundidos pela primeira vez em quase uma década.
Pronto. Esse era o timing perfeito para ele provavelmente conseguir a rebatida número 3.000 em pleno Yankee Stadium. Na série contra Tampa Bay. Entre os dias 7 e 10 de julho. Jamais acreditei que isso seria possível.
No primeiro duelo da série, ele chegou com 2.997 rebatidas, nem precisei pesquisar, está tudo na “caixola”. Minha primeira ida ao Yankee Stadium não foi nada legal. Numa quinta-feira, Jeter conseguiu uma dupla logo de cara (2.998), mas os Yankees perderam por 5 a 1.
No dia seguinte, uma tarde ensolarada no Bronx se tornou chuva e o jogo foi adiado, lá pra meados de setembro. No sábado, novamente muito sol, todos na expectativa, casa cheia. Ele abre o duelo com uma rebatida simples que passa entre o terceira base e o shortstop.
O at-bat seguinte deixou todos de pé. E ele foi longo. Contagem cheia, várias foulballs. Até que Derek Jeter vai pro swing em uma slider do David Price bem fora da zona de strike e a manda para o outro lado do muro do left field. Euforia. Eu e mais 48 mil pessoas testemunhávamos algo histórico.
A bolinha foi parar na mão de um fã de New Jersey chamado Christian Lopez. Durante uma visita turística aos estúdios da NBC, trombei com o cara nos corredores. Incerteza da identidade e um bocado de vergonha não me permitiram tirar uma palavrinha com ele.
Já fez valer o investimento ver algo histórico com os próprios olhos. Talvez o mais curioso viesse depois.
No hostel onde estava, dias depois do feito histórico, estava programado uma noitada com os hóspedes. Era verão, 34 graus, nem tinha deixado uma calça no mochilão. Fui até a tal da Macy’s. Preguiçoso pra esse tipo de coisa que sou, vi a primeira calça que tinha na frente, tamanho 38 (acima do meu à época) e pensei “Ah, uma diazinho só dá pra ir com a calça mais larga”. 20 obamas ela me custou.
Trinta minutos antes de sair para a balada, vi que a calça não se encaixava na minha cintura, ia direto no chão. Depois fui descobrir que 38 lá nos EUA equivale a 44 ou alguma coisa por aqui. Desci, comecei a conversar com uns brasileiros sobre meu problema e um deles (Thiago, nunca me esquecerei desse nome) gentilmente me emprestou uma calça brasileira. Uhul, eu ia na balada!

Um trip inesquecível por Nova York: jogo dos Yankees, recorde de Jeter e a mulher dos meus sonhos (Foto: Arquivo Pessoal)
No caminho da porta do hostel até o metrô, rua, balada, uma brasileira me chamou atenção. Papo interessante, loira, olhos azuis, sotaque gaúcho. Ficamos conversando o tempo todo até o local.
Acabamos ficando lá na balada mesmo, fizemos um pequeno tour juntos pela cidade no dia seguinte, fui embora na madrugada. Cada um foi para o seu canto.
Por mais de dois anos, apenas mensagens por Facebook de feliz aniversário eram a “conversa”. Quis o destino que em 2013 ela se mudasse para São Paulo. E depois daquele meu convite para uma cervejinha, um ano e três meses se passaram e estamos ainda juntos.
Mais satisfação pessoal que ver um feito histórico do esporte acontecendo ao vivo e ainda ganhar uma pessoa para sua vida é impossível.
Jeter fará falta ao beisebol. Não aos Yankees somente, ao esporte mesmo. Numa era de violência, racismo, esteroides, entre outros problemas, um cara que sempre deu 110% em campo e foi fiel ao time, ao esporte, não vem todo dia.
Obrigado, Derek Sanderson Jeter, pela melhor viagem da minha vida!