[ENTREVISTA] Paulo Orlando: “Espero trazer esse título e representar nosso país”
Em bate-papo especial com o The Playoffs, brasileiro comentou seu papel nos Royals e o sonho de jogar a World Series
Escolhido para integrar o elenco principal do Kansas City Royals um dia antes do início da temporada, e com ida e voltas entre Ligas Menores e MLB, Paulo Orlando conseguiu se firmar e chegou onde nenhum brasileiro havia chegado: à World Series, a grande final do beisebol. Sua equipe inicia hoje a trajetória na decisão, encarando o New York Mets, e o brasileiro não esconde a alegria de poder ser campeão logo em sua primeira temporada nas Grandes Ligas.
Em entrevista exclusiva ao The Playoffs, Orlando analisou seu papel no elenco dos Royals, as chances de conquista e muito mais! Confira o bate-papo:
THE PLAYOFFS: E queria saber qual é a sensação de ser o primeiro brasileiro na World Series?
PAULO ORLANDO: Agradeço a Deus por tudo o que tem me dado. É só aproveitar esse momento e torcer para que outros brasileiros venham e possam disputar essa World Series, que é uma sensação imensa. É um jogo que a cada lance, a cada momento você vibra e sente que podem acontecer algumas coisas que não são esperadas, né? Espero trazer esse título e representar nosso país.
TP: Como você avalia sua participação nos playoffs? Sua importância para o time?
PO: Estou preparado para jogar na defesa. E, claro, se o placar estiver um pouco amplo, posso entrar e correr pelo Alex Rios. Está bem claro e estou preparado, treinando e também bem focado para, se caso algum jogador sentir uma dor ou outra, eu estar preparado para jogar.
TP: Qual a programação que vocês têm na pós-temporada? Vocês ficam concentrados em algum hotel ou vão para casa?
PO: Não, cada um dorme em casa. Não tem nada de concentração. É um esporte que você pode terminar o jogo e ir para sua casa. Se estiver jogando fora, você tem o seu próprio quarto. Agora mesmo [na World Series] pode ter família. Não tem nada de concentração. O que importa é quando chega no estádio, na hora do treino e na hora do jogo.
TP: Vocês chegam no estádio para o jogo na hora do treino?
PO: Treina e depois joga. A rotina é que chegamos algumas horas antes para dar tempo dos dois times treinarem. Normalmente quando nós jogamos em casa, treinamos primeiro e, quando jogamos fora, treinamos depois do time mandante. E tem uma programação bem bacana para estar preparado para o jogo.
Vocês jogaram duas partidas a mais que os Mets. Você acha que ritmo maior de jogo é uma vantagem para vocês?
PO: Alguns jogadores se sentem bem à vontade quando está jogando sem essa folga, quando pegam um arremessador que joga um pouco mais forte têm o tempo de reação normal como se estivesse jogando em uma temporada regular. Então, alguns jogadores sentem bem, mas alguns jogadores pensam em descansar mais… Aprimorar esse ajuste durante o jogo, mas isso não diferencia nada de ter ganhado, de eles terem ganhado em quatro e a gente jogado um pouco a mais.
TP: O New York Mets possui uma rotação titular muito boa. O deGrom, Syndergaard e Matt Harvey arremessaram bem o ano inteiro. Tem alguma espécie de preleção do Ned Yost para estudar melhor os arremessadores?
PO: Sempre tem que olhar alguns vídeos, algumas maneiras que eles vêm jogando desde a temporada regular. Tudo é sempre analisado aqui nas Grandes Ligas. Eu espero, claro, que os jogadores tenham planos de rebater e enfrentar os arremessadores, que são ótimos jogadores, por isso que o time dos Mets também chegou à World Series. Alguns jogadores vieram reforçar, se encaixaram bem no momento certo da temporada, e, claro, espero que os jogadores tenham analisado os arremessadores para tirar vantagem nesse aspecto.
TP: Queria saber qual foi sua reação quando viu que não iria enfrentar um arremessador? No jogo 4, quando os Royals venceram por 14 a 2 você enfrentou um jogador de campo no montinho.
PO: Colocaram um jogador de posição para entrar. Mas eu não fiquei tão surpreso assim porque, sempre que o jogo começa assim, a distância de pontos fica muito grande, o time adversário tenta poupar os seus arremessadores para o outro dia. Na verdade, eu não sabia que era um jogador de posição. Por ser num jogador de posição, até que ele joga a bola um pouco mais rápido que o normal. Mas para mim foi um arremessador normal, depois do primeiro arremesso eu vi que ele estava querendo me eliminar. Tentei dar o máximo de mim, sair com uma rebatida válida e cheguei na base para o Alcides Escobar anotar o ponto.
TP: Já conversei com Yan Gomes e com o André Rienzo e eles falam que conversam bastante entre vocês. Você recebeu mensagem deles pela World Series?
PO: Claro! O Yan e o André sempre mandam mensagem. Até quando estava na temporada regular alguns jogadores das Ligas Menores também mandam apoio. Temos um grupo no WhatsApp, sempre falamos um pouco de beisebol com muitos jogadores que ainda jogam, que amam esse esporte. Então eles sentem bastante orgulhosos de estarem compartilhando isso comigo.
TP: Quando você foi adicionado ao roster ativo no começo do ano você falou que teve uma conversa separada com o Ned Yost. Teve alguma coisa nos playoffs?
PO: Não, foi no ano passado, quando eles me adicionaram ao roster 40, entraram em contato com o meu agente para dizer que eu iria para o Spring Training e iria brigar por uma posição no time. E dependeria da estratégia do Ned Yost, se ele queria levar no começo da temporada 13 ou 12 arremessadores no bullpen. Então ele decidiu levar 12 e eu comecei no time. Ele sempre tem um carinho bacana por mim, sempre me apoia e espera uma coisa boa de mim, que foi o que aconteceu comigo durante a temporada. O contato não é tanto assim como um técnico de futebol, mas só que na medida do possível a gente sempre conversa, se cumprimenta e ele sempre fala alguma coisa assim de “Vamos lá que a gente tem que ganhar, vamos trazer isso para a torcida, o título”, e isso para mim e para todos os jogadores.
TP: Quando você foi mandado para as Ligas Menores no meio da temporada muita gente, e até o Ned Yost, disse que você não merecia isso. Aí você voltou, rebateu um walk-off grand slam e foi para os playoffs. Você acha que garantiu um lugar no roster principal?
PO: Não, não tem muito disso. Porque tem muita opção. Por exemplo, eu não merecia, ele mesmo comentou que eu não merecia ir para as Ligas Menores, só que tem algumas regras de contratos que têm que ser cumpridas e é melhor para o time, e eu entendo. Também tenho que entender isso. Não que eu goste, mas eu tenho que cumprir essas regras. Tudo pode acontecer em mais dois anos. Até eles me oferecerem um contrato, eu estou disposto a jogar as Ligas Menores Espero que não, claro, mas cada oportunidade que me derem eu tenho que ir lá e jogar o que sei. Mas espero que não tenha mais que jogar Ligas Menores, né?
TP: Seu contrato com os Royals vai até quando?
PO: Tudo depende deles porque estou no roster 40. Para me oferecerem um contrato novo eles ou podem fazer isso a qualquer momento ou, se não, esperar até a arbitragem, daqui dois anos. Normalmente, eles esperam a arbitragem para ter um jogador assim na equipe, que possa jogar nas Ligas Menores caso terem um jogador que não possa. Tudo depende deles, ou então daqui dois anos eu entro na arbitragem e posso negociar contrato.
TP: Você tem a intenção de mudar de time? Ou está feliz nos Royals?
PO: Não, intenção claro que não tenho por tudo o que o Kansas City tem me dado, desde Ligas Menores até aqui. A intenção é de trazer esse título e outros mais e disputar playoffs, mas tudo depende do que eles podem trazer para o próximo ano, trazer novos jogadores. Estou aqui para disputar e defender a camisa como tem que ser feito, como profissional mesmo.
TP: E sua família, ela vai aos jogos?
PO: Tenho uma filha, a Maria Eduarda, de 6 anos. Ela está no Brasil, minha esposa está aqui comigo. Decidimos deixar ela aí para não perder muito tempo da escolinha, que é muito importante compartilhar com crianças nessa idade. Porque aqui ia ser um pouco complicado de conviver com outras crianças.
TP: Da última vez que te entrevistei você disse que ainda não tinha ouvido uma rebatida sua com narração brasileira. Continua assim?
PO: (Risadas) Agora cheguei a ouvir. O Brasil vem crescendo no beisebol e tem alguns canais que vem transmitindo alguns jogos em português. Então minha família assiste, assim eles vão entendendo mais e mais os jogos e vem apoiando bastante agora.