[ENTENDA O JOGO] Arremessadores: as estrelas do beisebol
O The Playoffs explica hoje por que os arremessadores são considerados a principal atração de um jogo da MLB
Pra quem começa a assistir beisebol, fica difícil entender isso: por que os arremessadores são as grandes estrelas do jogo? Afinal, na teoria, são eles os responsáveis por atrapalhar o espetáculo. Ou seja, impedir que tenhamos um jogo cheio de corridas e “emoção” – motivo pelo qual muitos, erradamente, rotulam o beisebol como um esporte parado.
Mas é isso mesmo, minha gente. Pra quem acompanha beisebol há mais tempo, a graça do jogo muitas vezes está em que arremesso está por vir. Em como o cara em cima do montinho vai tentar impedir um grande rebatedor de acertar a bolinha. Em quantos arremessos aquele cara é capaz de fazer num jogo. As casas de apostas esportivas até destacam na prévia do jogo os duelos de arremessadores titulares, mais que qualquer super rebatedor.
Sim, os pitchers, nome da posição em inglês, são as grandes estrelas do jogo. Não à toa, costumam ser muito bem pagos. Dificilmente um time vai longe se não tiver uma boa rotação de arremessadores titulares e um bom bullpen. E é disso que vou falar hoje aqui na coluna Entenda o Jogo do The Playoffs.
ARREMESSADORES TITULARES
Rotação: Cada time tem, normalmente, cinco jogadores considerados os titulares – starting pitchers. Não significa que os cinco jogam juntos, pelo contrário. A ideia desse número é que haja um revezamento entre eles, para que cada um inicie uma partida diferente, afinal, na MLB tem jogo quase todo dia. Experimente você fazer cerca de cem arremessos de velocidade acima de 100 km/h com uma bolinha de beisebol e depois tente fazer isso de novo no dia seguinte. Não dá.
Ou seja, cada arremessador titular inicia uma partida diferente. Como o jogo é longo, normalmente cada um faz essa média de cem arremessos e é substituído pelo treinador, para a entrada de um reliever (ver a seguir). Claro que isso não é uma regra. Se o pitcher começar um jogo de forma desastrosa, sofrendo 5 corridas na 1ª entrada, pode sair antes mesmo de fazer 30 arremessos. Assim como, num dia feliz, ele pode fazer, digamos, 120 arremessos e jogar a partida inteira.
Vale dizer que na pós-temporada da MLB, a rotação costuma cair para 3 ou 4 arremessadores, e o intervalo de descanso diminui um pouco. Em outros países, como no Japão, o tempo de descanso costuma ser de 7 dias, o que causa certos problemas de adaptação para pitchers vindos daquele país quando contratados para uma franquia norte-americana.
Na última temporada, Jake Arrieta (Chicago Cubs) foi eleito o melhor arremessador titular da Liga Nacional no prêmio Cy Young, enquanto Dallas Keuchel (Houston Astros) recebeu a honra pela Liga Americana. Madison Bumgarner (este cara aí em cima) foi o MVP da World Series de 2014 e é um dos grandes pitchers da atualidade.
O ace: Dentro de cada rotação, um jogador é eleito o ace (ou ás). Ou seja, o melhor arremessador do time, número 1 daquele grupo de cinco. Na sequência, segue-se uma ordem dos melhores, o que significa dizer que o 5º é de fato apenas o 5º melhor arremessador titular do time. Na prática, a ordem não faz tanta diferença, pois as partidas que os melhores jogam são aleatórias, seguindo a rotação. O melhor não joga o jogo mais difícil, necessariamente. Esta ordem serve mais para definição do ace, que é uma posição de maior respeito. E vale dizer também que nem sempre o 1º de uma rotação enfrenta o 1º da outra – justamente por conta de tabelas diferentes, diferentes dias de folga pra cada equipe e por aí vai.
Duelos: Uma coisa que você já deve ter visto é o chamado duelo de arremessadores. Antes de todo jogo, aparece junto com o nome dos times, quem será o pitcher titular de cada equipe, mesmo que um não encare o outro diretamente. Da mesma forma que uma partida entre Real Madrid e Barcelona no futebol coloca Messi vs Cristiano Ronaldo como destaques, na MLB você verá SEMPRE a prévia do duelo dos dois arremessadores titulares em sites de apostas online, independente de serem tão famosos quanto um rebatedor.
Isso mostra o quão importante é o papel do pitcher para o jogo. De acordo com os dois titulares do dia, se começa a desenhar a previsão do resultado da partida.
Vitórias e derrotas, ERA, FIP, WHIP…: Várias estatísticas são usadas para dividir os melhores arremessadores. As mais comuns são o ERA (Earned Runs Average), que nada mais é que uma média de quantas corridas aquele cara cede ao adversário a cada nove entradas, e o histórico pessoal de vitórias e derrotas. Este é um pouco mais difícil de explicar, porque não julga apenas o resultado final da partida. Por uma conta (que explico melhor outro dia), a MLB define qual dos arremessadores da partida foi o mais importante para a vitória do seu time – o mesmo vale para a derrota. Quase sempre são os titulares que levam essa alcunha, mas não é regra. Ou seja, o cara pode começar 30 partida como titular, mas ser considerado com 20 vitórias e 5 derrotas pessoais, na temporada – 5 jogos foram atribuídos com vitória ou derrota para um reliever do seu time.
Existem ainda duas estatísticas que são menos faladas nas transmissões, mas tão importantes quanto. O FIP (Fielding Independent Pitching) é uma sabermétrica que funciona como um ERA melhorado, pois considera apenas corridas em que o arremessador de fato foi responsável por sofrer – o ERA também inclui lances de erros da defesa e qualquer corrida sofrida. Já o WHIP (Walks plus Hits per Inning Pitched) significa a média de arremessadores deixados em base por aquele pitcher a cada entrada, seja por rebatida ou por walk.
BULLPEN – OS RELIEVERS
Não são reservas: Por um aportuguesamento natural do esporte, às vezes chamamos os relievers de arremessadores reservas. Não podemos dizer exatamente isso pois eles não são apenas substitutos dos titulares. Eles são responsáveis por uma parte principal da estratégia do jogo.
Um time conta 7 ou 8 arremessadores de relevo (outro termo aportuguesado, mas um pouco melhor) no elenco. Entre canhotos e destros, utilizados sempre para momentos especiais de jogo de acordo com o braço forte do arremessador adversário, o bullpen de um time conta com jogadores com diferentes tipos de habilidades, arremessos variados, tudo para conseguir garantir uma vitória ou conquistá-la mesmo depois que seu melhor arremessador teve que sair.
Como arremessam menos, é comum um arremessador de relevo jogar em dias seguidos.
O bullpen: a tradução literal de bullpen seria “curral”, e na prática é algo assim mesmo. Uma cerquinha, lá no fundo do campo, onde os relievers ficam esperando serem chamados – ou não. Lá podem praticar arremessos enquanto aguardam sua vez.
Setup: Entre vários arremessadores de relevo, um costuma ser o homem de setup. Na prática, é um jogador que entra na 8ª entrada, às vezes 7ª, para segurar um placar favorável. Se o time está perdendo, muitas vezes ele segura a entrada do homem de setup, por não entender que seja necessário “gastá-lo” numa partida perdida.
O fechador: E aí temos mais uma grande estrela do jogo, o closer (ou fechador). Este cara nasceu para jogar na 9ª entrada (ou alguma entrada extra avançada), mas assim como o setup, quase sempre quando o time está vencendo por uma diferença apertada. A missão de garantir uma vitória coloca uma pressão enorme neles. Qualquer erro pode fazer o jogo virar a favor do adversário. Por isso, eles costumam ter arremessos muito rápidos e uma frieza gigante.
Save: Os relievers são medidos pelas mesmas estatísticas que os titulares, porém, para o closer, o save é o fundamental. Toda vez que ele confirma uma vitória por 1 ou 3 corridas na última entrada, é computado como um “jogo salvo” por ele. Na mesma situação, se ele sofrer a virada, acontece o chamado blown save, o que coloca a culpa da derrota em seus ombros. Na verdade, não apenas o closer pode receber esta estatística. Qualquer jogador que chegar à última entrada do jogo nesta situação de diferença de pontos, recebe o selo de “save” se não permitir empate ou virada – corridas são aceitas, desde que não tirem a vitória do time do cara.
Na MLB, Mariano Rivera (foto), lenda do New York Yankees, é o recordista de jogos salvos na carreira, com 652. Na última temporada, Mark Melancon, do Pittsburgh Pirates, dominou o quesito com 51.
JOGO PERFEITO E NO-HITTER
Uma das coisas mais raras do beisebol é o chamado jogo perfeito. Mesmo numa Liga que começou há mais de 130 anos, apenas 23 arremessadores conseguiram o feito. É considerada um jogo perfeito uma atuação em que o arremessador jogue todas as entradas da partida sem sofrer corridas, rebatidas e que ninguém chegue em base – mesmo que seja por erro de um atleta da defesa. MUITO DIFÍCIL. A última vez que isso aconteceu foi em 2012. Na verdade, três arremessadores conseguiram naquele ano: Philip Humber (então no Chicago White Sox) Matt Cain (San Francisco Giants) e Felix Hernandez (Seattle Mariners).
Já o no-hitter é menos raro, mas também difícil. Neste caso, o pitcher não pode ter sofrido nenhuma rebatida válida (quando o adversário chega em base) após todas as entradas de um jogo. Foram 294 vezes em que isso aconteceu até o final da última temporada. Destaque para Max Scherzer, que em 2015 fez isso duas vezes, sendo que uma delas deixou de ser um jogo perfeito na última entrada, por ele ter acertado a bolinha no rebatedor.
O MOMENTO MAIS “CONSTRANGEDOR” DO ESPORTE
Uma das coisas mais bizarra e ao mesmo tradicional do beisebol é a troca de arremessador. Para oficializar a substituição, o manager da equipe deve entrar em campo e ir até o montinho para retirar o seu “pupilo” do jogo, já tendo escolhido um reliever para substituí-lo. O estádio todo para e assiste ao momento, que costuma ser bem constrangedor, em especial quando ele sucede jogadas ruins do pitcher, como por um exemplo um home run sofrido. Normalmente, isso acontece no meio do jogo, seja por cansaço ou atuação ruim do cara, mas pode vir bem antes se um desastre na pontuação da partida estiver ocorrendo.
REBATER OU NÃO REBATER?
Outra informação que não pode ser esquecida é que, quase sempre, pitchers não são bons rebatedores. Afinal, ganham muito para tirar bons rebatedores de ação e pouco tempo têm para treinar rebatidas. Porém, existem duas regras diferentes na MLB. Na Liga Americana, os arremessadores não rebatem, existindo a figura do rebatedor designado (DH – designated hitter), jogador que não atua na defesa, apenas rebate no lugar no pitcher. Já na Liga Nacional, o arremessador rebate, mesmo se não for bom. Quer dizer, alguns até são bons, mas quase sempre não, porque não são treinadospra isso. Por isso, faz parte da estratégia, muitas vezes, substituir o pitcher mais cedo, não por cansaço ou desempenho, mas para colocar um rebatedor para atuar na hora do ataque, colocando um reliever em seu lugar na hora de defender.
Quando um time da Liga Americana enfrenta, em casa, um da Liga Nacional, os dois times podem usar um rebatedor designado. Quando ocorre o inverso, os arremessadores dos dois times rebatem. E esta é uma das grandes polêmicas atuais da MLB. Recentemente, o comissário Rob Manfred disse haver chances reais de estabelecer a figura do DH também na Liga Nacional.
Em todas as demais ligas do mundo, costuma ser opcional o uso do rebatedor designado, mas quase sempre é adotado. Além da questão já abordada sobre a qualidade dos pitchers no bastão, o uso do DH serve como estratégia de proteção para as estrelas do montinho, para evitar que se cansem demais, sofram boladas ou alguma lesão – mais um motivo para quem defende a mudança na Major League Baseball.
(Fotos: Flickr, Reprodução MLB.com, Reprodução Youtube, Wikipedia)
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