Ataques a Adam Jones levantam a dúvida: como a MLB trata o racismo?
Relatório analisa como Liga se comporta em relação a racismo e preconceito de gênero na contratação de executivos e atletas
A Major League Baseball agiu de forma rápida e contundente no lamentável episódio de racismo envolvendo o outfielder Adam Jones, do Baltimore Oriole, que na segunda-feira (1) ouviu no Fenway Park, durante jogo contra o Boston Red Sox, um termo deplorável utilizado nos Estados Unidos contra afro-americanos e afro-americanos. No entanto, se atua para acabar com o racismo das portas para fora, um estudo mostra que a Liga tem muito o que fazer em seu interior, ou seja, nos cargos diretivos.
As duras palavras de Rob Manfred, comissário da liga, foram bem posicionadas. Na manhã seguinte ao caso, ele emitiu nota sobre a situação, afirmando que “as palavras e atos racistas contra Adam Jones no Fenway Park na última noite são completamente inaceitáveis e não serão toleradas em qualquer estádio”. Manfred destacou que tais ações devem ser punidas com expulsão obrigatória nos 30 estádios da MLB, podendo responder por seus atos.
Apesar de C.C. Sabathia (arremessador do New York Yankees) afirmar que outros jogadores de origem afro-americana já foram ofendidos em Boston e os Red Sox terem sido o último time a romper a barreira da cor (a franquia utilizou pela primeira vez um afro-descendente em 1959, 12 anos após Jackie Robinson ser incorporado ao elenco do Brooklyn Dodgers), os atos lamentáveis de segunda-feira foram causados por uma minoria, e a torcida mostrou isso no dia seguinte, ovacionando Jones no momento do primeiro at-bat do outfielder visitante.
Outros casos de racismo ocorreram nos últimos anos, mas fora dos estádios, sendo um dos exemplos a presença de “valentões” do Twitter, que criticaram Yoenis Cespedes após o cubano, então no Oakland Athletics, conceder entrevista em espanhol após vencer o Home Run Derby de 2013.
Um fato pouco notado em meio ao episódio envolvendo Jones, porém, é a postura interna da MLB: em 18 de abril, três dias após a estreia de Robinson (data em que a Liga recorda sua luta contra o racismo) completar 70 anos, foi lançado o relatório anual sobre diversidade do The Institute for Diversity and Ethics in Sport at the University of Central Florida. O estudo apontou retrocesso na luta contra o preconceito de sexo e racial na contratação de executivos e managers para a atual temporada, na comparação com o ano anterior.
A MLB como um todo recebeu 82 pontos em relação à identificação e contratação de integrantes de minorias raciais para cargos de direção, contra 90.5 em 2015. Quando a causa analisada foi a questão de gênero, a Liga recebeu 70 pontos, contra 74.3 no relatório anterior. A nota média baixou de 82.4 para 76 pontos. Na escala alfabética, muito comum nos Estados Unidos, a MLB recebeu notas B na questão racial, C na questão de gênero e C+ na média.
A nota do escritório central da Major League Baseball ficou bem acima da média: A- para questões raciais (mais de 28% dos funcionários são de alguma minoria) e C- em questões de gênero, pois apenas 28% dos cargos são ocupados por mulheres. Responsável por comandar as áreas de recursos humanos e diversidade da MLB, Dan Halem disse, de acordo com o Washington Times, que iniciativas adotadas após a chegada de Manfred ao posto de comissário trarão melhores números nos próximos anos.
Enquanto celebra (com razão) a chegada de jogadores com novas origens (apenas na semana passada, foram duas conquistas, com Gift Ngoepe tornando-se o primeiro africano a chegar à MLB e Dovydas Neverauskas sendo o primeiro atleta da liga nascido e criado na Lituânia), a Major League tem muito a ensinar às franquias, já que o relatório alerta para a falta de integrantes de minorias nos principais postos de suas 30 equipes.
A nota da MLB para a identificação e contratação de integrantes de minorias raciais para managers foi um F. Apenas três dos 30 comandantes estão ligados à alguma minoria: Dusty Baker (Washington Nationals), Rick Renteria (Chicago White Sox) e Dave Roberts (Los Angeles Dodgers), muito abaixo do recorde histórico de 33% (10 de 30), registrado em 2009. Entre os general managers, o número chega a quatro: Farhan Zaidi, dos Dodgers, Kenny Williams, dos White Sox, Mike Hill, do Miami Marlins, e Al Avila, do Detroit Tigers. Nove general managers foram contratados após Avila (de 2015 até hoje), e nenhum era integrante de minoria racial ou mulher.
Por fim, ficou curioso para saber quantos são os afro-americanos (jogadores de origem hispânica não entram na conta, pois fazem parte de outra minoria racial na visão norte-americana, os latinos) atuando na MLB? C.C. Sabathia, ao comentar o caso de Adam Jones, falou em 62 jogadores. No começo da temporada, os “jogadores de cor”(termo traduzido de forma literal a partir do original “players of color”, e que inclui latinos) somavam 42,5% de todos os jogadores, já os afro-americanos representavam 7,7% dos elencos, segundo Richard Lapchick, autor do relatório, que não vê chance de crescimento rápido no futuro. “O aumento no número de jogadores afro-americanos continuará ocorrendo de forma lenta”, resumiu.
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