[ENTREVISTA] Caleb Santos-Silva fala sobre próximos planos da MLB para o Brasil
Em papo com o The Playoffs, Caleb aponta importância da Academia MLB Brasil para o crescimento do esporte no país
Neste sábado (28), o Brasil avança mais um degrau no projeto de melhoria das condições para a formação de talentos no beisebol. Será inaugurada, no CT de Ibiúna, a Academia MLB Brasil, projeto encabeçado pela Major League Baseball e que substitui o Elite Camp, garantindo aos novos talentos do esporte treinamento de alto nível durante todo o ano, tudo com o objetivo de levar ainda mais jogadores do país para as 30 franquias da MLB.
Responsável pelo projeto, o coordenador internacional de desenvolvimento da Major League Baseball, Caleb Santos-Silva, garante que não é uma troca de um projeto pelo outro, mas sim a expansão do Elite Camp que, em vez de durar 10 dias, se prolongará durante todo o ano, o que deve aumentar o nível dos jovens treinados no local.
Ele recebeu a reportagem do The Playoffs em uma sala no estádio Mie Nishi, o principal palco do beisebol no Brasil, e falou sobre os planos da MLB para o Brasil, a possibilidade de o país receber uma partida no futuro, o interesse pelos jovens talentos brasileiros, o desempenho da seleção na classificatória do World Baseball Classic e a integração com a NFL e a NBA para ampliar o interesse nos chamados “esportes americanos”. Confira:
THE PLAYOFFS – A MLB substituiu o Elite Camp pela Academia MLB Brasil em Ibiúna. Quais são as diferenças entre os dois projetos? O que o beisebol do Brasil ganha com a mudança?
Caleb Santos-Silva – O Elite Camp foi muito bom para os jogadores que estavam crescendo na categoria de base, sempre com a esperança de receber a convocação para o Elite Camp. Mas a gente sabe que, passando de um projeto de uma semana e meia para um anual, completo, integral, conseguimos controlar e dar continuidade aos treinos que eles estão recebendo, além de garantir que os beneficiados serão os melhores atletas.
Em outubro de 2016, fizemos peneiras para saber quem serão os integrantes da Academia MLB Brasil e quem receberá as bolsas, neste ano são 11 bolsas, baseadas em talento e necessidade, e ajudará a ter os melhores atletas para o desenvolvimento do programa e, depois, assinar com alguma franquia ou conseguir uma bolsa de estudo e continuar defendendo a seleção brasileira. Não vemos a Academia MLB Brasil como troca, e sim como evolução, um Elite Camp ao longo do ano.
THE PLAYOFFS – Como está a situação do Eric Pardinho? Qual é a impressão que ele causou no Perfect Game e durante a classificatória do WBC?
Caleb – O Eric Pardinho tem um agente representando ele, e muitas franquias estão entrando em contato e demonstrando interesse. Ele ter um representante negociando por ele é bom, mas as franquias não podem fazer nada até o começo de julho, quando começa o período para negociações internacionais. É muito bom para o beisebol que ele receba a melhor representação possível, e quem vai ganhar o contrato é ele, pelo desempenho em campo.
O que é até mais emocionante é que ele não é o único jogador brasileiro que está despertando interesse das franquias da MLB. Tem também o Heitor Tokar, o Victor Coutinho, Vitor Watanabe, que ao longo dos próximos seis meses também vão evoluir e desenvolver-se, isso será interessante para o beisebol brasileiro.
THE PLAYOFFS – Como você avalia a atuação do Brasil na classificatória do WBC? Há alguma definição sobre a realização do campeonato em 2020/2021?
Caleb – O classificatório do Panamá, em 2012, e a fase principal em 2013, foram momentos muito bons para o beisebol brasileiro. Isso acabou caindo na nossa mão para divulgar e massificar o beisebol, e na época ninguém esperava que o Brasil se classificasse, depois foram para o Japão e jogaram muito bem. Por causa disso, e do sucesso do Paulo Orlando, Yan Gomes e André Rienzo na Major League Baseball, a mídia brasileira está procurando, indo aos jogos, querendo falar com os atletas, e não só os brasileiro.
Claro, se o Brasil tivesse garantido a vaga no WBC de 2016, seria ainda melhor, já que hoje estamos mais preparados para aproveitar essa situação, mas mesmo assim foi possível aproveitar a classificatória do Brooklin para divulgar e disseminar ainda mais o esporte. Sobre a próxima edição, não estou muito por dentro das conversas, sei que existem planos para o torneio de 2020/2021, mas todo mundo ainda está focado no WBC de 2017 e as decisões serão tomadas só depois do torneio.
THE PLAYOFFS – Há um ano, você disse que havia planos para a abertura de um escritório no Brasil e que esse processo não era rápido. Houve algum avanço/mudança neste período? Quais são as áreas em que a MLB deve investir no Brasil nos próximos anos?
Caleb – Desde que começamos a massificar o jogo no Brasil, pensamos e estudamos a possibilidade de abrir um escritório, após inicialmente usar o espaço na Confederação Brasileira de Beisebol e Softbol. Há uma nova direção, uma nova estratégia, já que olhamos para mercados diferentes, e o começo da nova era da MLB, com o Rob Manfred como comissário e muitos outros diretores chegando.
Nosso foco mudou aqui no Brasil, focaremos mais no desenvolvimento de talento, com a Baseball Academy e o desenvolvimento de treinadores, enquanto ajudamos a CBBS e os clubes a melhorar. Por enquanto, não é o momento para abrir um escritório, mas isso não quer dizer que isso não pode ser rediscutido no futuro.
THE PLAYOFFS – A falta de um bom estádio sempre foi obstáculo para o Brasil sediar um jogo de Spring Training ou a etapa classificatória do WBC. Há alguma expectativa de que o Mie Nishi seja reformado? O CT de Ibiúna pode ser uma alternativa?
Caleb – Sempre, quando olhamos os diferentes espaços que poderiam servir como esse estádio, há algumas dificuldades, e o CT de Ibiúna fica meio afastado da cidade. O melhor lugar para esse estádio seria o Mie Nishi, pela visibilidade que tem, é central, é “o berço” do beisebol no Brasil, é o palco da Taça Brasil e das principais competições, tem muita história, e seria a melhor opção.
Em 2015, um especialista em construção estádios, Murray Cook, veio aqui ao Mie Nishi, fez vistorias, mediu, e ele sabe o que deve ser feito para adequar o espaço, mas seria necessário muito investimento, se começarmos a fazer isso, necessitaremos de muitos parceiros para viabilizar isso. A proximidade com a Marginal Tietê é uma coisa boa, mas também dificulta, porque não há muito espaço para ampliação.
Ainda existe esse desejo, até para ver competições internacionais: dos quatro times que participaram do World Baseball Classic de 2013 e que dependiam de requalificação, México e Austrália sediaram suas chaves na classificação, Espanha e Brasil não tinham estrutura.
THE PLAYOFFS – Você ficou sabendo da construção de um novo campo em Tatuí? Chegou a conversar com os envolvidos, a ver o projeto? Há alguma possibilidade de a MLB envolver-se no projeto?
Caleb – É muito interessante (o projeto), eu queria ir a Tatuí visitar agora, mas com o começo do ano e a abertura da Baseball Academy, não vai ser possível, pretendo visitar, talvez em abril. Estamos muito interessados, até pelas fotos que o Luis Camargo está me enviando, queria até ver o projeto primeiro e poder envolver os especialistas, que possuem o know-how, assim não seria necessário reformar depois.
Estamos à disposição para ajudar em futuros projetos, já estamos em contato para ver como podemos ajudar com material, bases, home plate, para que seja um nível de alto rendimento, estamos muito interessados no resultados em Tatuí.
THE PLAYOFFS – Nos últimos anos, vimos um aumento da penetração da NFL e da NBA no Brasil. Existe algum intercâmbio entre as três ligas, troca de ideias e discussão sobre projetos comuns?
Caleb – Nos últimos anos, estudamos como massificar o esporte no Brasil. Tenho feito reuniões no Rio de Janeiro com o Arnon de Mello, que é diretor do escritório da NBA no país, e ele foi muito aberto no sentido de compartilhar o que eles têm feito, e nós que ainda estamos encaminhando isso estamos também dispostos a ajudar, porque quanto mais a cultura americana possa ser abraçada e consumida no Brasil, melhor para todas as modalidades.
A gente fica de olho no que os outros esportes estão fazendo e temos interesse quando é possível fazer algo alinhado. Um exemplo foi quando Paulo Orlando e Cairo Santos se conheceram em Kansas City, dois brasileiros que atuam em esportes não-tradicionais [aqui] na mesma cidade se conhecendo.
THE PLAYOFFS – Em 2014 e 2015, houve eventos para reunir a comunidade do beisebol no início da temporada regular e na World Series. Esse projeto será retomado?
Caleb – Como houve uma reestruturação no escritório da MLB, esses eventos ficarão a cargo do departamento de Licenciamento Internacional e Patrocínio Internacional. No passado, quando ocorreram esses eventos, esse departamento o fez junto com o de Desenvolvimento de Talentos. Agora, será separado, mas sei que há planos para fazer isso com outros parceiros também, a New Era inclusive.
Como houve uma série de mudanças no nosso escritório no ano passado, não foi possível fazer, mas sabemos quanto isso foi bom para a visibilidade do esporte, por isso vamos ver a possibilidade de fazer os eventos de novo.
THE PLAYOFFS – A MLB pensa em trabalhar de alguma forma o modelo de fantasy, já que os fantasies de futebol americano e basquete são cada vez mais comuns no Brasil?
Caleb – O fantasy da MLB foi o primeiro a começar, e nos Estados Unidos está entre os mais praticados, junto com o da NFL. A MLB tem um site próprio de fantasy e muita gente joga em outros sites, se algum deles decidir fazer um site em português, seria ótimo para atrair quem gosta desses jogos, eu acho que esse é um outro jeito para se aproximar e interagir com o esporte. Mas acho que, por enquanto, a primeira coisa que devemos fazer é investir em mídias sociais, o lado digital, e o fantasy deve vir depois.
THE PLAYOFFS – O beisebol brasileiro é muito concentrado em São Paulo. A MLB apoia o projeto do beisebol escolar no Rio de Janeiro e o projeto do Náutico no Recife. Quais são os planos para a expansão do esporte fora de São Paulo?
Caleb – Nós gostamos de apoiar projetos como esses porque massificam o conhecimento do jogo e incentivam novos praticantes. Estamos tendo muita abertura nas prefeituras, na Grande Recife há muita gente empolgada e se esforçando para que o esporte cresça lá. Nas outras cidades também, no Rio de Janeiro, com muitos meninos envolvidos, a gente acha importante apoiar e vai continuar fazendo isso.
Crédito das imagens: Rafael Pezzo/Equipe The Playoffs