Os próximos desafios de Gary Bettman na NHL – Parte 1
Como o comissário da liga mais visada para investimentos nos últimos anos deve agir para evitar outro lockout
Gary Bettman pode não ser o personagem mais querido entre os fãs de hóquei – fato comum entre todos os chefões das grandes ligas esportivas pelo mundo -, mas temos que admitir que este empresário e advogado de 65 anos, tem cumprido com a promessa do dia 3 de fevereiro de 1993, quando assumiu o cargo mais importante da National Hockey League e comentou: “Eu acho que existe uma grande percepção de que precisamos de um desenvolvimento no ponto das relações públicas e do marketing. É o meu foco fazer a liga crescer”.
Além de ampliar para 31 a quantidade de equipes com o Vegas Golden Knights, a NHL tem promovido inúmeras ações expandindo a marca para outros continentes. O que tem chamado a atenção de grandes empresários, proporcionando a Bettman novos caminhos para a evolução da liga, mantendo o hóquei sempre competitivo no mercado.
Mas nem tudo são rosas. O contrato de CBA (Collective Bargaining Agreement – acordo coletivo com os atletas) se encerrará em 2021-22. Com a postura gananciosa que o comissário tem apresentado quando se trata de finanças, um ar de depressão pré-guerra pode estar começando a rondar os ares da NHL. Não nos esqueçamos que em sua gestão, a liga já passou por três lockouts (94-95, 04-05 e 12-13). O cenário piora com o desgaste gerado após o anúncio de que a NHL não permitirá que seus jogadores participem das Olimpíadas de Inverno de 2018, na Coreia do Sul, fato que gerou um desconforto transparente entre alguns dos maiores ídolos.
A melhor alternativa para que a renovação do acordo de CBA, que envolve os contratos dos jogadores, portanto, a NHLPA e toda a confusão com as Olimpíadas, é liderar uma negociação bilateral, trabalhando para criar mais oportunidades de crescimento da liga, e lucrando com isso. Bettman sabe onde está pisando, no entanto, este é um assunto delicado por se tratar de interesses dos jogadores, que devem pressioná-lo na intenção de obter mais autonomia nas decisões da liga. O aumento do cap salarial de cada time, entre outros desafios financeiros também serão pauta destas negociações.
Os contratos televisivos, que acabam em 2020-21 – um ano antes do encerramento do atual CBA -, podem ser o grande trunfo deste novo ciclo. Fechar bons acordos televisivos e conduzir corretamente o andamento das negociações do acordo coletivo será como dirigir um carro com a família toda numa viagem de férias. Não basta apenas dirigir com segurança, ele vai precisar manter todos felizes ao mesmo tempo durante o processo.
O retorno do interesse da ESPN americana traz um pouco de nostalgia nesta situação. Um ano antes de assumir o cargo, Bettman acompanhou o processo de expansão da NHL para a Flórida e para a Califórnia. Esta segunda, gerou o Mighty Ducks of Anaheim – atual Anaheim Ducks -, e teve sua história totalmente envolvida com os planos da Disney de criar a ESPN West, e se apoiar nos contratos televisivos para prosperar.
Nesta semana, a aprovação da reforma da KeyArena em Seattle e tudo o que envolve essa megaoperação, financiada por milhões de dólares, foi destaque entre os jornais do mundo. Não é preciso dizer que Seattle é um dos dez maiores mercados televisivos dos Estados Unidos. Se não bastassem as coincidências, um dos possíveis donos da equipe pode ser Jerry Buckheimer, diretor de cinema e televisão. Não que ele traga os contratos de TV necessários, mas o prestígio e o envolvimento direto com o mercado são no mínimo fatos curiosos. A ironia fica por conta de um consenso geral de que o hóquei não é o melhor produto para a TV se compararmos com as outras grandes ligas norte-americanas. Mas este é um tema para outra rodada de cerveja.
Com a valorização de várias franquias atuais anunciada também esta semana pela Forbes, não nos espantemos se os empresários do noroeste dos Estados Unidos desembolsarem cerca de US$ 700 milhões para adquirir os direitos de uma nova equipe na chuvosa Seattle, que já tem sinal verde para ter a próxima franquia da liga. Esta quantia representa o valor pago por todas as franquias somadas nestes 100 anos de NHL – e ainda sobra um pouco -, excluindo obviamente o valor de US$ 500 milhões pago por Bill Foley, para colocar um time de hóquei entre os casinos de Las Vegas.
Vale ressaltar que na expansão ocorrida em 2000, o Minnesota Wild e o Columbus Blue Jackets depositaram US$ 80 milhões nos cofres da liga, o que representa um aumento de 625% em 17 anos. E se o grupo de investidores de Seattle precisar mesmo desembolsar os US$ 700 milhões, teríamos um aumento de 71,42% em um ano.
Seattle não é única cidade que está de olho na possibilidade de fazer parte do circo da NHL. Tilman Fertitta, milionário e dono do Houston Rockets, da NBA, foi enfático, menos de dois meses atrás, ao dizer que tem sim o desejo de levar o hóquei para o Toyota Center. Bettman sabe muito bem disso. Apesar de ser considerado um mercado pequeno, Quebec ainda sonha com a chance e aposta no conglomerado que lidera as negociações entre a NHL e a Quebecor, que é dona do grupo TVA, no que seria o retorno dos Nordiques. Portanto, também tem ligações com o mercado da comunicação.
Nós estaremos acompanhando passo a passo, os movimentos de Gary Bettman neste período, torcendo para que a NHL continue crescendo e que passe bem longe de um outro lockout.
Na semana que vem, vamos explorar melhor as possíveis expansões e realocações, mostrando os nomes, logos e o que pode acontecer nos próximos anos com as equipes. Até lá!
Foto: Reprodução Twitter
*Por Danilo Fredo
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