Quarterbacks: a linha tênue entre ser lenda e decepção
Em sua coluna de estreia, Raphael Fraga traz o panorama dos jogadores da posição e a tendência de um futuro promissor
A virada do milênio nos trouxe classes de QBs com nomes que dominaram a liga durante anos. Entre 2000 e 2005 tivemos Eli Manning, Philip Rivers e Big Ben Roethlisberger (2004), Alex Smith e Aaron Rodgers (2005), Carson Palmer (2003) e Drew Brees (2001). Também não podemos esquecer que Tom Brady entrou na NFL vindo do sexto round do Draft em 2000 e segura até hoje o status de um dos melhores em atividade.
Esses craques venceram Super Bowls, ganharam prêmios de MVP, quebraram recordes e conquistaram milhares de torcedores pelo mundo. Por mais de dez anos eles se tornaram intocáveis como os melhores QBs de toda liga. Mas como todos nós meros humanos, a idade também chega aos grandes guerreiros do futebol americano e em 2017 temos um Big Ben ponderando a aposentadoria e um Saints que favorece o jogo terrestre enquanto Drew Brees vai sendo menos protagonista.
Times que tinham uma unanimidade na posição, considerando um jovem talento para se preparar para o futuro. Brady e Rodgers hoje olham no retrovisor e defendem a liderança contra novas promessas que voam na liga, com braços fortes e pernas frescas com a juventude que ameaça os estabelecidos.
Após vários fracassos e decepções de jogadores bem cotados antes de serem escolhidos no Draft, os scouts parecem ter acertado a mão desta vez, pois o ano de 2017 pode entrar para história da NFL por marcar o início de uma nova geração de quarterbacks superstars.
Talvez esses veteranos têm se mantido no topo graças a péssimas classes de QBs que seguiram nos últimos 10 anos. Claro que de lá pra cá tivemos Andrew Luck, Russell Wilson, Kirk Cousins (2012), Matthew Stafford (2009), mas nenhum desses chegou perto dos gigantes da posição. Em comparação também tivemos nomes de primeiro round como Sam Bradford (2010), JaMarcus Russell (2007), Mark Sanchez (2009), Blake Bortles (2014) e como não lembrar a lendária classe de 2006 que contou com Vince Young, Matt Leinart e Jay Cutler, todos escolhidos nas 11 primeiras escolhas do ano, todos com status de futura estrelas, todos fracassos.
Por anos aguardamos a eventual troca de bastão e por anos vimos os veteranos se estabelecendo como lendas enquanto times sem QBs faziam aquele belo rodízio. Mas nas últimas temporadas temos nomes que parecem se estabelecer na posição e com eles também vemos as novas potências da NFL. Em 2014, tivemos Derek Carr transformando os Raiders em uma forca pela primeira vez desde a aposentadoria de Rich Gannon. Em 2015, Jameis Winston e Marcus Mariota entraram pra liga demonstrando lampejos de genialidade. E em 2016, fomos apresentados a Carson Wentz, que hoje concorre a MVP da liga e transformou os Eagles em uma das maiores forças da NFC.
No mesmo ano surgiu Dak Prescott, que entrou pra liga no quarto round e conquistou a posição de Tony Romo, comandando o melhor ataque dos Cowboys no milênio; além de Jared Goff, o menino da Califórnia que indicava ser um bust no primeiro ano e hoje comanda o ataque que mais pontua na liga.
Como não enxergar uma nova geração de líderes na posição quando analisamos as atuações de Deshaun Watson antes da contusão? O QB que tinha tudo para quebrar todos os recordes de um calouro na NFL antes da triste contusão que encerrou seu ano. Pode ser muito cedo para dizer isso, mas parece que nos playoffs de 2017 a nova geração vai estar comandando os grandes ataques aéreos da NFL.
Com toda a minha admiração e respeito a Brady, Rodgers e Brees, mas hoje já podemos respirar aliviados e imaginar a liga sem esses astros em breve e com bons substitutos. Os próximos anos ainda indicam no mínimo duas classes de alto nível na posição de QB no Draft. Ano que vem não me surpreenderia ver nomes como o explosivo vencedor do Heisman Lamar Jackson sair nas primeiras escolhas e promessas como Baker Mayfield (que me lembra muito um jovem Drew Brees), o tradicional pocket passer Luke Falk, Josh Rosen, Josh Allen, Mason Rudolph e o grande talento de USC Sam Darnold, que será da classe de 2019.
A abundância de talentos que entrarão na liga nos próximos anos conta uma história de uma nova NFL brotando. Times como Cleveland, Jets e Broncos, que há anos procuram um quarterback, serão forçados a draftar ou incendiar a ira dos torcedores que acompanham os talentos surgindo e transformando franquias.
Já equipes como Giants, Steelers, Cardinals e Ravens, com veteranos visivelmente em decadência, precisam de juventude ou se arriscam a ter a posição de QB como uma deficiência. Indiscutivelmente esta é a posição mais difícil do futebol americano em se reforçar, por isso tanta cautela na hora de movimentar a peça mais badalada do jogo.
Mas uma coisa é certa, estamos na beira de uma nova era na NFL, de novos astros e de um novo jogo. Será Wentz e Goff a nova rivalidade Manning x Brady da NFL? Será que Winston e Mariota vão se reerguer após um ano abaixo das expectativas? Deshaun Watson volta no mesmo nível? O futuro dos Browns terá Jackson ou Darnold finalmente dando estabilidade a posição?
Muitas dúvidas e algumas certezas em um futuro próximo da liga e a garantia que daqui uma década novas lendas serão consagradas e belas promessas desiludidas.
(Fotos: Christian Petersen/Getty Images; Reprodução Facebook/Philadelphia Eagles)
*Por Raphael Fraga
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