Os Saints possuem o melhor ataque da NFL graças a… Kyle Shanahan! Entenda
Na coluna desta semana, Raphael Fraga explica como o sistema criado nos Falcons de 2016 é utilizado agora em New Orleans
Durante anos acompanhando a NFL, podemos ver algumas tendências ou “modas” que mudam o jeito que o jogo é visto ao longo dos anos. Fomos do favorecimento a ataques que focam no jogo aéreo, à padronização da “Tampa 2” após a vitória dos Buccaneers em 2003, para tight ends correndo rotas iguais aos recebedores, aos QBs mais ágeis com tendências do jogo de college.
De alguns anos para cá tivemos uma popularização do comitê de running backs na liga. Estamos longe de ter aqueles RBs que carregam a bola 30 vezes por jogo e cansam a defesa como tínhamos no início do milênio. Os “Adrian Petersons” são raros na liga de hoje em dia com exceção óbvia do próprio AP, que encontrou em Arizona um dos poucos times que favorecem o seu estilo “correr até entrar no ritmo” e Le’Veon Bell, um dos principais corredores da liga.
Porém, a tendência de hoje em dia é ter dois running backs com finalidades diferentes, um para jogadas que requerem mais jardas e outro para empurrar a linha na red zone. Isso em si não é uma novidade da liga – como não lembrar da famosa dupla Willie Parker e Jerome Bettis que com esse tipo de estratégia levantou o Vince Lombardi em 2006, nos Steelers?
Mas desde o ano passado temos uma nova moda na liga, quando Kyle Shanahan, coordenador ofensivo do Atlanta Falcons na época, implementou uma tendência de ataque que culminou na segunda jornada da franquia ao maior jogo do ano. Graças a um 2015 surpreendente, Devonta Freeman se firmou como um nome de peso na liga, empurrando o calouro Tevin Coleman pra baixo no depth chart dos Falcons; mas Shanahan aprendeu uma coisa importante com seu pai, o lendário Mike Shanahan: como utilizar todas as armas que um ataque tem em sua disposição.
Então ele decidiu inovar. A equipe contava com um QB em boa fase, que com a perigosíssima arma de longa distância chamada Julio Jones forçava os times a respeitar o jogo longo do ataque, teoricamente abrindo espaço para o jogo terrestre, mas não satisfeito com uma vantagem básica com os corredores, Shanahan criou um esquema que maximiza todo o talento da sua dupla de RBs.
O que realmente separou os Falcons dos outros times da liga foi a movimentação. Freeman carregava a bola com frequência e cansava a defesa, forçando o time a respeitar o jogo terrestre, porém também era um recebedor competente. Coleman era muito bem utilizado nos passes curtos e também corria com a bola com uma certa frequência e sempre com efeito. O resultado forçava a defesa a sempre jogar com um pé atrás na marcação dos dois; pois quando Coleman entrava em campo, não tinha garantia de passe e quando Freeman alinhava atrás do Ryan não sabíamos se vinha uma corrida ou um passe de screen.
E logo, quando a defesa se dedicava em fechar esses passes curtos, Jones abria para uma recepção longa. O jogo físico, e com muita velocidade, confundiu defesas e deu a Matt Ryan o prêmio de MVP no melhor ano da sua carreira.
Sean Payton viu seus Saints abrirem o ano 0-2, com os problemas defensivos como a grande deficiência desse time. Porém o ataque, que no ano anterior acompanhava os pontos sofridos pela defesa graças a bombas de Brees para seus recebedores, não clicava como nos últimos anos e 2017 prometia ser um ano de muito sofrimento.
Com a contratação de Adrian Peterson e o draft de Alvin Kamara, era evidente que Payton buscava auxiliar Brees com o jogo terrestre em 2017. Mas depois da segunda derrota do ano Payton decidiu implementar a fórmula “Shanahan Falcons 2017”.
Fora Adrian Peterson, um running back veterano com estilo mais clássico, que não era um fator no jogo aéreo, o gameplan foi das mãos de Drew Brees para um time que joga fisicamente na linha ofensiva, agredindo a linha do oponente. Mark Ingram, útil e rápido, é o corredor primário, carregando a bola com mais frequência e aproveitando os espaços abertos pela ótima linha ofensiva; já Alvin Kamara é o back do screen pass (que é o jogador sempre recebendo passes curtos e escolhendo seus matchups para correr por jardas positivas).
O que traz mais perigo nesse ataque é a mesma coisa que levou os Falcons ao Super Bowl ano passado: o mistério da exata função dos RBs em campo, sendo que os dois correm bem e recebem bem. A defesa joga com um pé atrás, e quando é pega desprevenida, acabam encurtando o espaço e levando uma big play do time de New Orleans. A estratégia é desgastar a defesa adversaria até o ponto em que o time simplesmente atropela com o jogo terrestre.
Combinando essa tática com as melhorias defensivas, que por sinal são impressionantes, olhando para a equipe que tivemos no último ano e nos primeiros dois jogos da temporada, e com um QB de Hall da Fama no comando, New Orleans hoje é o meu time favorito para desbancar os Eagles e representar a NFC no Super Bowl.
Entrando na reta final da temporada regular, podemos ecoar o canto que abre os jogos dos Saints no Superdome “Who dat say dey gonna beat dem Saints?” (algo como: quem disse que eles pode vencer os Saints?). A resposta nesse momento é: ninguém pode.
(Foto: Divulgação/NFL.com)
*Por Raphael Fraga
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