De Favre a Big Ben, as histórias de cinema da NFL
Na coluna desta semana, Raphael Fraga conta histórias da liga que se encaixariam perfeitamente em clássicos de Hollywood
Mais do que qualquer outro esporte, o futebol americano nos propõe momentos de puro drama, aqueles que parecem escritos em um roteiro de Hollywood. Talvez isso seja pelo fato dos melhores jogadores do planeta estarem na mesma liga, ou pela proximidade e frequência dos jogos entre rivais, pelas pausas no relógio antes de uma ultima jogada que define uma temporada ou pelo simples fato de termos poucas partidas em uma temporada, aumentando a importância de cada confronto.
A verdade é que a NFL foi, é e será repleta de roteiros épicos, que criam heróis e vilões a cada domingo no grid de ferro.
Favre e Elway – “Batman vs Superman – A origem da justiça”
Minha primeira experiência com a NFL ocorreu no dia 25 de janeiro de 1998, no Super Bowl entre o forte Green Bay Packers contra uma equipe de Denver que estava mais para zebra do que Bronco. Sem muito conhecimento sobre o jogo eu fui tomado pelo contexto em si, que mais parecia um roteiro de cinema.
Assim como no filme, vimos dois heróis em confronto. De um lado tínhamos os Packers, com um Bett Favre jovem e extremamente talentoso, que se divertia em campo e parecia fadado a vencer mais um Super Bowl (foi campeão em 1997). Do outro estava John Elway, um veterano QB que tinha números de lenda, porém o recorde no Super Bowl era repleto de derrotas pesadas.
A partida me apresentou a Terrell Davis, running back que não havia sido draftado e tomou conta do backfield, correndo como se sua vida dependesse daquela vitória. Um jogo que captou meu interesse a cada jogada em que Elway corria para um first down, se esticando todo e levando uma pancada forte provando toda sua raça. Ficou marcado para sempre na minha memória.
Kurt Warner – “À procura da felicidade”
Alguns anos depois, mais uma equipe de heróis improváveis me conquistou de vez para o esporte. Dick Vermeil entrava para o seu terceiro ano como HC dos Rams, um treinador que após vencer tudo com UCLA e ter conquistado a torcida mais exigente da liga em Philadelphia (levando os Eagles para um Super Bowl), desabou diante do stress e ficou 14 anos longe dos gramados antes de aceitar o cargo com os Rams.
A temporada 99 começou cheia de esperanças com as contratações de Trent Green e Marshall Faulk, mas parecia ir por água abaixo após o primeiro se machucar na pré-temporada. Aí para seu lugar entrou um QB desconhecido. A única experiência de Kurt Warner na liga foi um dia de training camp com os Packers antes de ser cortado e ir jogar Arena Foortball e NFL Europa.
Assim como o protagonista do filme vivido por Will Smith, que havia perdido tudo e estava sem perspectivas de futuro, Warner poucos anos antes tinha abandonado a carreira e trabalhava em um supermercado. Em uma temporada mágica, levou incrivelmente os Rams ao Super Bowl com um dos melhores ataques na história da liga e junto com o lendário treinador, que parecia destinado a nunca vencer o prêmio supremo do esporte, ergueram o primeiro e único Vince Lombardi de uma das franquias mais antigas da NFL.
Drew Brees – “Capitão América: Guerra Civil”
Mas a NFL propõe algumas situações que vão bem além de atuações individuais ou grandes lances. Em 2009, Saints e Vikings se enfrentaram na final da Conferencia Nacional em um dos jogos mais violentos na história recente da liga. Em um duelo que contava com vários jogadores que certamente terão um busto em Canton (hall da fama), como Drew Brees e Adrian Peterson no auge de suas carreiras.
Antes desacreditado, seria um final digno de Hollywood: Brett Favre vencendo um Super Bowl em Minnesota, um final digno para um dos maiores guerreiros da historia da liga. Porém no seu caminho estava a defesa agressiva de Greg Williams, que trouxe à tona o caso “Bounty Gate”, em que jogadores dos Saints ganhavam bônus por machucar os rivais.
Como na história da Marvel, a cidade estava devastada, no caso de New Orleans por conta do Katrina, que trouxe muitos problemas ao povo, que usou o Superdome como abrigo. Surpreendendo a todos, Brees e seus companheiros trouxeram alegria à sua cidade, levantando o Vince Lombardi pela primeira vez.
Eli Manning – “Logan”
Colocado no banco dos Giants de maneira controversa na última semana, Eli Manning também é o personagem principal de alguns dramas da liga. Herói ou vilão, dependendo do seu ponto de vista, como não lembrar de Eli desviando de defensores de New England e acertando um passe magistral para David Tyree, que segurou a bola no capacete, lance capital em um jogo que encerrou a temporada perfeita dos Patriots?
A história vivida por Hugh Jackman na telona mostra o personagem, um então herói dos mais fortes, dado como decadente e entregue ao seu destino. Acredito que Eli ainda nos trará momentos interessantes. Aposentadoria? Novo clube? Qual clube?
Podemos ter em 2018 a redenção dele por exemplo em Jacksonville, onde ele reencontraria o seu ex-comandante Tom Coughlin, ou por que não seguir os passos do irmão mais velho e se juntar ao Denver Broncos. A saga de Eli Manning ainda terá mais capítulos para o nosso entretenimento.
Pittsburgh Steelers – “Os Imperdoáveis”
Na temporada de 2017-18 também temos algumas tramas em andamento. No estilo de um longa do velho oeste de Clint Eastwood, os Steelers lembram o filme de 92 “Os Imperdoáveis”, com Big “Ben” Roethlisberger no papel de Clint Eastwood. Como o astro no filme, o veterano passou a temporada nos dizendo que estava cansado do papel de pistoleiro da liga. Um jogador que sempre foi exemplo de raça e superação, Big Ben estava assim, mais focado na sua família e nas pescarias da offseason.
Mas ele voltou para mais um ano. Depois de um início ruim, no momento mais baixo, a pífia atuação frente aos Jaguars com cinco interceptações (pior marca da sua carreira), Big Ben disse aos repórteres: “talvez eu não tenha mais condições”. Aí veio o domingo seguinte, o então invicto Kansas City Chiefs no Arrow Head Stadium, para reforçar o nosso tema velho oeste. Após uma bela atuação e uma vitória improvável, ele disse: “talvez esse Cowboy tenha mais um tiroteio”.
De lá pra cá vemos o QB dos Steelers como nos velhos tempos. Confiante, raçudo e com aquele braço que trouxe dois anéis pra Pittsburgh. Como em “Os Imperdoáveis”, o cowboy larga a ideia da aposentadoria e mostra por que ele é um dos pistoleiros mais temidos do velho oeste. E que final brilhante seria Big Ben encerrando sua carreira com o terceiro anel do Super Bowl, vingando a derrota humilhante para os Patriots na temporada passada.
Mesmo quem não torce para os Steelers ficaria intrigado, se não satisfeito com um final desses. O último tiroteio do velho cowboy, antes de cavalgar para o pôr do sol, um final digno para um guerreiro que nos proporcionou tantos momentos incríveis nos últimos anos. Pegue sua pipoca, se ajeite na poltrona e prepare-se para mais um desfecho de cinema na NFL.
(Fotos: Divulgação/NFL.com)
Por Raphael Fraga
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