Cine The Playoffs: Jerry Maguire
Relação utópica entre agente esportivo e wide receiver dos Cardinals mostra que o mercado atual tem muito a aprender
Jerry Maguire (Tom Cruise em uma de suas melhores interpretações) representa o anti-agente esportivo. Viveu anos como um tubarão nesse mundo, enriquecendo a qualquer custo seus clientes e a si mesmo, até que um dia reverte essa situação com uma epifania só explicada pelo vazio de sentimento em sua profissão. Jerry, então, escreve um longo e sentido memorando acusando problemas e iluminando soluções para um mercado que parece não dar a mínima para o que o esporte realmente representa na vida das pessoas.
Por mais que tenha sido aplaudido por colegas – “Finalmente alguém teve a coragem de dizer!”, confessa um de seus pares –, é questão de tempo para que sua fama libertária coloque-o no olho da rua da agência que ajudou a construir, com pouca ou nenhuma reputação restante. Com ele, seguem apenas um peixe de aquário, a recém escudeira/assistente/futura-esposa Dorothy (Reneé Zelwegger) e um cliente, o wide receiver do Arizona Cardinals Rod Tidwell (o incrível e hilário Cuba Gooding Jr.).
A história de amor que vai sendo construída ao longo do filme torna-se o ponto alto da trama – seja entre Jerry e Dorothy, Jerry e Ray (o filho de seis anos de Dorothy) ou Jerry e Rod. Essa última relação, inclusive, é a que mais chama atenção pela lealdade demonstrada entre agente e cliente nas situações mais adversas. O que lhes resta, concluem, é continuar a fazer o que sabem fazer melhor para que os resultados surjam. Trata-se de uma aposta de fé.
E é justamente por isso que o maior trunfo de Jerry Maguire (EUA, 1996, Dir. Cameron Crowe) é também seu grande revés. Por mais que o filme conquiste fãs por traduzir de forma brilhante e verdadeira o que é uma crise de consciência e seus possíveis benefícios a médio/longo prazo, é preciso admitir que a produção faz um retrato utópico, ou seja, cria e alimenta em nosso imaginário uma realidade praticamente inexistente no mundo real.
Torcemos para que tudo dê certo – o amor perfeito entre o casal protagonista, a conquista das vitórias pessoais e profissionais de Rod, a plenitude emocional que todos os personagens adquirem –, e vemos na tela que o feel good movie cumpre muito bem o que promete em termos criativos. Mas, no rolar dos créditos, não sai da cabeça do fã de esportes que o que acabamos de assistir é a exceção da exceção.
Não tem problema. Se na vida real não existem agentes esportivos bonzinhos e clientes/atletas que não se dobram por contratos mais recheados, em Jerry Maguire isso é possível. Talvez o mercado aprenda um pouco com o memorando de Jerry, antes que as tenebrosas negociações esportivas acabem com tudo o que o esporte tem de perfeito.
Assista o trailer de Jerry Maguire: