Chiefs e Rams: o Super Bowl que merecemos
As duas melhores equipes da temporada nos fazem sonhar com uma grande decisão da NFL
Entrando para a sexta semana da temporada somente duas equipes seguem invictas. Na NFC, o Los Angeles Rams e na AFC, o Kansas City Chiefs. Dois times montados de forma completamente diferente, porém ambos contam com os ataques mais explosivos da NFL. O início fulminante dessas equipes nos faz sonhar em um Super Bowl espetacular entre dois rivais que até alguns anos atrás travavam o duelo de Missouri, quando os Rams ainda jogavam em St. Louis.
Um eventual confronto entre as duas forcas da NFL teria o roteiro interessante de travar um duelo tático entre o head coach mais jovem da liga e um dos mais veteranos. Andy Reid, por sinal, nasceu na Califórnia e chegou a aparecer em um jogo dos Rams no MNF quando tinha somente 13 anos, trajado com o uniforme da equipe de Los Angeles participando de uma disputa de “Punt, Pass, Kick”. Um dos treinadores mais respeitados na liga, Reid teve muito sucesso nos Eagles, onde perdeu um Super Bowl para os Patriots, e hoje comanda efetivamente a equipe dos Chiefs.
Sean McVay entrou para a NFL como um foguete em 2017, o HC mais jovem na história da liga e o melhor atualmente tem orquestrado a maior reviravolta na história da liga. Ele já e considerado um gênio ofensivo e tem tudo para revolucionar o esporte no comando dos Rams nos próximos anos. McVay assumiu um time sem uma identidade vencedora e conseguiu mudar essa cultura em pouco tempo, mas é indiscutível que a sua maior conquista foi a forma com que ele conseguiu transformar Jared Goff de um potencial bust para um candidato a MVP.
Goff veio para os Rams como a primeira escolha do Draft de 2016. Nativo da Califórnia e formado na Universidade de Cal, o time de Los Angeles optou pelo menino local em vez de Carson Wentz, que acabou saindo pros Eagles na próxima escolha. Ele entrou para a liga com a expectativa normal de um QB selecionado com a primeira escolha, porém demorou pra engrenar. Sob o comando de Jeff Fisher, o camisa 16 parecia inseguro e tinha indícios de que seria o tal bust.
Até que no seu segundo ano, sob o comando de McVay, Goff foi evoluindo e demonstrando por que os Rams acreditaram tanto nele no Draft. Se em 2017 ele foi um QB seguro no esquema ofensivo de McVay, se preocupando mais em não errar as jogadas e acertando os passes mais abertos nas rotas geniais que confundiam defesas e deixavam recebedores livres, em 2018 Goff, mais confiante, tem acertado passes com precisão sobrenatural. Demonstrando que tem um braço digno de uma primeira escolha, o Jared Goff de 2018 se sobressai no esquema do seu HC e não tem medo de arremessar a bola em passes de alta dificuldade.
Patrick Mahomes teve uma trajetória bem diferente ao chegar na NFL. Escolhido na décima posição do primeiro round, ele foi o segundo QB selecionado no Draft de 2017. Após uma troca, os Chiefs subiram para escolher o menino de Texas Tech, uma opção criticada por muitos analistas que consideravam Deshaun Watson bem superior. Alguns acreditavam que ate DeShone Kizer era melhor que ele. Mahomes passaria seu primeiro ano atrás de Alex Smith no depth chart dos Chiefs. Smith que teria um dos melhores anos da sua carreira já sabia que iria embora no final do ano. A troca que levou o veterano para os Redskins demonstrou a confiança que Andy Reid tinha em seu jovem QB.
Os relatórios que saíram do training camp não eram positivos. Mahomes parecia ter dificuldade em aprender o esquema ofensivo da NFL. Porém seu braço com força comparada a Brett Favre continuava chamando atenção e sua habilidade física de escapar do pocket e criar espaço já nos dava a esperança de um Chiefs divertido em 2018. Mas a realidade foi bem acima do que até os torcedores mais otimistas esperavam. Mahomes não só quebrou recordes, mas também guiou os Chiefs a cinco vitórias consecutivas em jogos eletrizantes, superando as deficiências defensivas do seu time. No seu primeiro ano de titular, Patrick Mahomes já pode ser considerado uma realidade na NFL.
Ambas as equipes não contam somente com grandes head coaches e grandes jovens quarterbacks, mas também com grupos de recebedores sensacionais. De um lado os Chiefs reforçaram seu grupo com a aquisição de Sammy Watkins. O ex-jogador dos Rams faz uma dupla dinâmica com Tyreek Hill (já escrevi um blog inteiro sobre o quanto admiro Hill), jogadores que complementam muito bem a força do braço de Mahomes com sua velocidade impressionante. Se não há alguém aberto pelas pontas, os Chiefs ainda têm um dos melhores tight ends da liga em Travis Kelce. Pesadelo para defesas, Kelce causa desvantagens na marcação graças ao seu tamanho, e tem a capacidade de dominar um jogo como somente Rob Gronkowski faz pela posição hoje na NFL.
Os Rams não contam com um TE do nível do Kelce, porém possuem um trio de recebedores que não fica atrás de muitos grupos na liga. Cooper Kupp, no seu segundo ano, talvez tenha as mãos mais seguras do time. Um alvo predileto de Goff, Kupp corre rotas precisas e tem uma ótima habilidade no slot. Robert Woods joga em várias funções de wide receiver. Veloz e um ótimo complemento bloqueando pelo jogo terrestre, Woods é um WR2 com habilidade de um WR1. E para completar, os Rams contam com a sua grande aquisição ofensiva no ano: Brandon Cooks tem demonstrado nos últimos anos que é um dos melhores WRs para rotas longas na liga. Um upgrade substancial na posição de Watkins, Cooks é a arma de “home run” no ataque aéreo de Los Angeles. Difícil escolher quem tem a vantagem no jogo aéreo entre as duas equipes aqui analisadas.
Mas o duelo também acontece no jogo terrestre. Ano passado, Kareem Hunt, dos Chiefs, terminou o ano como o running back que mais conquistou jardas pelo chão. Hunt pediu para jogar a última partida do ano só para ultrapassar Todd Gurley, dos Rams, nessa estatística, já que Gurley foi poupado do ultimo confronto da temporada regular.
O atual melhor jogador ofensivo da liga, Gurley continua dominando defesas em 2018, com 415 jardas pelo chão e 230 pelo ar. Ele talvez seja a melhor ameaça dupla da NFL hoje. Ainda existe um debate sobre quem é o melhor na posição, porém ninguém debate que o RB de Los Angeles merece estar na conversa entre os melhores. Hunt por sinal não tem sido tão explosivo como ele foi em seu primeiro ano. Com 376 jardas pelo chão e somente 66 pelo ar, Hunt às vezes acaba ficando de lado para o ataque dos Chiefs, que tem optado por deixar a bola nas mãos de Mahomes. Porém, ninguém duvida da qualidade do RB e no potencial que ele tem de também ficar entre os melhores da liga.
A verdade é que esses são os dois melhores ataques da liga, comandados por talvez os dois principais nomes ofensivos entre os técnicos da liga hoje. Os Chiefs operam mais como um slugger no beisebol, todo arrebate buscando um HR. Os Chiefs jogam de peito aberto e sem medo de errar, com um QB que bota a bola no espaço e confia na velocidade de seus recebedores. Fica evidente que esse time tem a capacidade para pontuar diante de qualquer defesa da liga. Enquanto os Rams são mais medidos e precisos. Parecem um cirurgião, operando com cortes precisos as defesas adversárias e encontrando espaços para finalmente abrir o jogo em uma jogada longa para a end zone. Se os Chiefs são capazes de derrubar o adversário com somente um soco, os Rams vão envolvendo o adversário antes de derrubá-los. Pense Tyson contra Ali.
E claro, o futebol americano é muito mais que somente ataques. As defesas são tão importantes se não mais do que o ataque. É nesse quesito que os Rams levam a vantagem clara. Um grupo que conta com grandes nomes com Aaron Donald, Ndamukong Suh e Marcus Peters (que veio dos Chiefs) vai impor respeito diante de qual quer equipe. Porém nos últimos jogos temos visto uma defesa dos Rams que sofreu muitos pontos diante de Vikings e Seahawks. Desfalcados de algumas peças importantes como Aqib Talib e com Peters jogando no sacrifício, a defesa que era para ser uma das melhores da liga antes da temporada começar não tem jogado ao nível dos nomes que tem no elenco. Enquanto isso, a defesa dos Chiefs, que parecia uma peneira no início do ano, tem se encontrado nos últimos jogos. Sem grandes nomes, Bob Sutton (coordenador defensivo) tem tramado ótimos esquemas para aproveitar o máximo dos jogadores do seu elenco. Caso arrume de vez o setor, Kansas City irá impor medo em qualquer time da liga.
O que mais empolga é que essas duas equipes se enfrentarão no México em um estádio Azteca lotado em algumas semanas. Seria esse jogo uma prévia do Super Bowl? Tem muita coisa para acontecer até chegar lá, mas se os Chiefs vencerem os Patriots neste final de semana eu oficialmente os coloco como meu candidato a representar a AFC no Super Bowl, coisa que eu já fiz com os Rams na NFC. O fato é que hoje são as duas equipes mais divertidas para assistir aos domingos.
E fica fácil deixar a imaginação correr a enxergar um duelo de Super Bowl, onde teremos o possível primeiro título que escapou até aqui da carreira do veterano Reid, ou a consagração do jovem gênio McVay. Um duelo entre dois dos jovens QBs mais brilhantes da liga no momento, ambos com a capacidade de botar números sensacionais no placar semanalmente. A verdade é que não é sempre que temos os dois melhores times no Super Bowl, porém nesse ponto da temporada, um duelo entre Los Angeles Rams e Kansas City Chiefs é o que merecemos como amantes da NFL numa possível final.
Fotos: Reprodução Twitter/Kansas City Chiefs; Adam Glanzman/Getty Images
*Por Raphael Fraga – comentarista de NFL para o USA na Rede e radialista para a Nossa Rádio USA em Boston. Me siga pelo Twitter @Fragafootball.
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