As 6 chaves para o título do Philadelphia Eagles
Em seis pontos, entenda como os Eagles espantaram o tabu e venceram o épico Super Bowl LII contra os Patriots
1º de janeiro de 2017. Em um jogo que nada mudaria na classificação da Divisão Leste da NFC, o Philadelphia Eagles bate o Dallas Cowboys (já campeão da divisão) por 27 a 13, no Lincoln Financial Field, e fecha a temporada 2016 da NFL com 7 vitórias e 9 derrotas, na lanterna da divisão e fora dos playoffs pela terceira temporada consecutiva. Doug Pederson fica perto dos 50% de aproveitamento em sua temporada de estreia e o quarterback Carson Wentz, que chegou com o peso da segunda escolha no Draft, encerra seu primeiro ano na NFL com números razoáveis (62,4% de passes completos, 3.782 jardas, 16 touchdowns, 14 interceptações, rating de 79,3, o sexto pior da NFL).
Acelera a fita: 4 de fevereiro de 2018. Em um jogo fantástico e que muda a história da franquia, os Eagles vencem o Super Bowl LII, batendo Tom Brady, Bill Belichick e o New England Patriots por 41 a 33 e fazendo do US Bank Stadium um longínquo subúrbio de West Philadelphia, área em que Will Smith foi criado no icônico seriado ‘Um maluco no pedaço’. O que mudou nesses 400 dias? Quais são as chaves para o título da franquia da Pensilvânia? Confira algumas delas.
(Foto: Mike Ehrmann/Getty Images)
1 – Proteja sua casinha
O investimento do front office para melhorar a defesa durante a intertemporada foi grande. Chris Long chegou de Boston, logo após conquistar o Super Bowl LI com os Patriots. Timmy Jernigan veio do Baltimore Ravens, Ronald Darby foi trazido do Buffalo Bills, e as três primeiras escolhas no Draft visaram a melhoria defensiva: Derek Barnett, Sidney Jones e Rasul Douglas. As caras novas mudaram a qualidade de uma unidade que foi apenas regular em 2016.
O time cedeu em média 306.5 jardas por jogo na temporada regular, contra 342.8 no ano anterior. O número total de pontos caiu de 331 (20.7 por jogo) para 295 (18.4 por partida), as interceptações saltaram de 16 para 19 e, se forçou um fumble a menos (15 a 14), a unidade conseguiu 38 sacks, quatro a mais do que na última temporada. Com menos pontos cedidos e mais turnovers, a vitória fica mais perto. E a regularidade continuou durante os playoffs.
Na vitória sobre os Falcons por 15 a 10, a defesa limitou Matt Ryan a 210 jardas e o poderoso duo Devonta Freeman + Tevin Coleman somou 86 jardas. Na final da NFC, com o Minnesota Vikings apontado como favorito, ainda mais após o ‘Milagre de Minneapolis’, a defesa brilhou de novo, forçando três turnovers e permitindo apenas 70 jardas por terra. Keenum até lançou 271 jardas, mas a defesa brilhou intensamente no segundo e terceiro quartos, sendo fundamental para que o time abrisse a larga vantagem que transformou o final do jogo em um verdadeiro ‘garbage time’.
(Foto: Reprodução Twitter/NFL)
2 – Mantenha os adversários longe
A linha ofensiva dos Eagles foi considerada a 12ª melhor de 2016 pelo Pro Football Focus. Nada mal, mas longe de ser excepcional. Em 2017, praticamente sem mudar os nomes, e perdendo seu principal jogador na área (o left tackle Jason Peters, lesionado), a franquia subiu para a primeira posição no ranking da linha ofensiva. Consequência direta de uma ótima temporada do center Jason Kelce. O lado direito foi formidável, com Lane Johnson (RG) e Brandon Brooks (RT) no top 3 de suas posições, e Stefen Wisniewski, left guard titular a partir da semana 3, foi extremamente regular.
Se a substituição de Peters por Halapoulivaati Vaitai, o mais fraco elemento da linha, trouxe uma queda de rendimento, Vaitai redimiu-se com partidas brilhantes contra Minnesota Vikings e New England Patriots. O resultado, como sempre, fica claro na análise fria dos números: foram apenas 33 sacks cedidos em 2017, três a menos do que na temporada anterior, e 98 QB hits, contra 107 em 2016. Em três jogos de playoffs, a unidade permitiu apenas dois sacks, um na Semifinal de Conferência contra o Atlanta Falcons e outro na Final da NFC contra o Minnesota Vikings.
3 – Na falta de tu, não vai tu mesmo!
Os Eagles abusaram da free agency para melhorar seu ataque e ampliar as armas de Wentz. Não houve mudanças entre os tight ends, com a manutenção do ótimo trio de Zach Ertz, Brent Celek e Trey Burton. O jogo corrido ganhou um novo titular, LeGarrette Blount, e o corpo de recebedores mudou da água para o vinho: se no último jogo de 2016, os principais alvos foram Paul Turner e Dorial Green-Beckham, a chegada de Alshon Jeffery e Torrey Smith trouxe variedade e jogadores experientes e prontos a provar que ainda tinham muita lenha a queimar.
Aproveitando o trio formado por Jeffery, Smith e Nelson Agholor, remanescente da temporada anterior e que tornou-se uma arma importante, Wentz ganhou também Corey Clement, running back que foi muito acionado em terceiras descidas. No meio da temporada, a diretoria ainda trouxe Jay Ajayi, formando outra cobra de três cabeças, agora no jogo corrido. Com Ajayi e Blount revezando-se, os dois permaneceram saudáveis e descansados, prontos para causar muitos danos e complicar qualquer chamada da defesa adversária, tantas eram as opções.
Ter um banco forte pesou também no momento de maior adversidade dos Eagles na temporada, a lesão de Wentz, na semana 14. Ao contrário do que ocorreu com o Oakland Raiders em 2016, porém, quando Derek Carr lesionou-se e Connor Cook, seu substituto, não manteve o nível, os Eagles tinham um bom backup. Nick Foles (para mim, pessoalmente, o melhor reserva da NFL) assumiu o comando do ataque, voltou à ótima fase de 2013 e mostrou como amadureceu desde sua estreia: sem precipitar-se, soube aproveitar todas as armas que recebeu e fez uma pós-temporada fantástica: 77 passes completados em 106 tentados (72,6%), seis touchdowns, uma interceptação (no Super Bowl e, honestamente, sem qualquer responsabilidade do QB) e um fantástico rating de 115.7, acima até de Tom Brady (108.6).
Foto: Reprodução Twitter/Zach Ertz
4 – Conheça os caminhos
Uma estatística exibida durante o Super Bowl LII chamou a atenção. Quando o jogo começou, Tom Brady somava sete aparições no principal jogo da temporada da NFL, e o elenco completo dos Eagles somava… sete aparições. Um detalhe, porém, foi ignorado: dos sete, cinco deles (Blount, Smith, Chris Long, Dannell Ellerbe e Corey Graham) chegaram para esta temporada, aportando exatamente a experiência que o elenco precisava para superar a época mais nervosa da temporada.
Misturando veteranos com os remanescentes da última temporada, os Eagles dominaram um aspecto fundamental do futebol americano: a execução. De nada adianta planejar e chamar as jogadas adequadas se quem está dentro do campo não faz o que deveria. A afinação dos Eagles foi incrível: procure alguma jogada em que o ataque de Philadelphia esteve fora de sintonia durante o Super Bowl, algum passe absurdo, algum erro de comunicação. Eu não achei. Nem mesmo a interceptação, que poderia tranquilamente ser um lindo passe de Jeffery tivesse levantado a mão direita, e não a esquerda.
5 – Cerque-se de gestores competentes
A primeira temporada de Doug Pederson no comando dos Eagles foi bem razoável, com 7-9. A segunda, porém, foi um espetáculo. Enquanto teve Wentz em campo, a franquia brilhou, com um jogo de encher os olhos, especialmente no ataque. Quando seu maior astro lesionou-se, Pederson soube exigir de Foles apenas o que o seu QB reserva podia oferecer, e recuperou o bom jogo que o agora MVP do Super Bowl mostrou no próprio Eagles em um passado não tão distante.
Do outro lado da bola, Jim Schartz acertou a defesa, diminuiu buracos e extraiu o máximo dos novatos e dos reforços. Além disso, de forma extremamente inteligente, montou um rodízio que garantiu aos seus titulares um físico invejável na hora em que o caldo engrossou. Durante os playoffs, os melhores nomes estiveram em campo praticamente o tempo todo e, como mostramos acima, os resultados foram muito bons, especialmente contra Falcons e Vikings.
E se você acha que a defesa foi mal no Super Bowl… eu concordo com você, em partes. Nos principais momentos, ela apareceu: parou os Patriots na linha de 8 jardas no primeiro drive ofensivo de Tom Brady e seus companheiros, segurou New England novamente dentro da linha de 10 jardas na campanha seguinte (aquela do erro no field goal), impediu que a tentativa de 4ª descida fosse concluída com êxito em outra campanha e, claro, brilhou com Brandon Graham forçando o fumble recuperado por Derek Barnett no único sack do jogo.
(Foto: Hannah Foslien/Getty Images)
6 – Execute. Execute. Execute.
A lição do Atlanta Falcons no Super Bowl LI foi clara: ter uma estratégia de jogo melhor do que Bill Belichick não é suficiente. Ser brilhante quase o jogo todo não é suficiente. Você só bate o New England Patriots no ápice da temporada da NFL se for perfeito, tanto criando quanto executando. E os Eagles chegaram lá exatamente por conta dessa perfeição.
Pederson foi perfeito ao criar jogadas que exploraram o ponto fraco da defesa de Matt Patricia, a cobertura da secundária. Com Malcolm Butler fora, Eric Rowe foi queimado no começo do jogo ao marcar Alshon Jeffery. Quando Stephon Gilmore foi deslocado para a cobertura, Foles começou a achar Nelson Agholor, Zach Ertz e Torrey Smith, já que estes passaram a enfrentar Rowe, Patrick Chung e Johnson Bademosi.
Foles, por sinal, teve uma noite fantástica, com tempo no pocket (fruto de uma ótima proteção da linha ofensiva, com destaque para Halapoulivaati Vaitai), paciência, calma para fazer as leituras e uma mão certeira. Igualar o maior quarterback da história da NFL é difícil, e Foles conseguiu. Os passes para os touchdowns de Jeffery e Clement foram brilhantes, e a coragem no passe para Zach Ertz na 4ª descida para uma jarda (na própria linha de 45) faltando apenas cinco minutos só não é maior do que a perfeição do passe, colocado no limite para que o playmaker fizesse sua parte e movesse as correntes.
Se Philadelphia não foi um ataque perfeito em situações de 3ª descida, convertendo 10 de 16 tentativas com ótimas chamadas, a diferença na execução apareceu também na tricky play que, de lado a lado, era quase igual. Só que Tom Brady dropou e, em uma arriscada 4ª descida na linha de 1 jarda, Corey Clement e Trey Burton executaram o passe para Foles com extrema perfeição.
O time de especialistas também apareceu, apesar do erro de Jake Elliott no primeiro extra point do jogo. Não lembra? A última campanha do jogo começou na linha de 9 jardas, fruto da execução defensiva quando os Patriots tentaram outra tricky play no retorno. A última campanha defensiva não foi perfeita, tampouco a última jogada. Pessoalmente, achei que a Hail Mary de Brady ficou perto demais do sucesso. No entanto, naquela jogada, o que importava não era a perfeição. Era o passe incompleto. Ele veio, assim como o troféu Vince Lombardi e o fim do incômodo jejum. Parabéns, Philadelphia Eagles, legítimo (e merecido) vencedor do Super Bowl LII!
(Foto: Hannah Foslien/Getty Images)