[ENTREVISTA] Conheça Izabela Nicoletti, armadora brasileira que jogará em Florida State
Destaque no High School dos EUA, Izabela é tida como 4ª melhor atleta que chega à NCAA
Aos 17 anos, a armadora Izabela Nicoletti é vista como uma grande joia do basquete feminino brasileiro. Não é para menos. A jovem, que joga na Neuse Baptist Christian School, em Raleigh, Carolina do Norte, está ranqueada como a segunda melhor armadora e quarta melhor jogadora da classe de 2018 para entrar no basquete feminino universitário da NCAA, segundo a ESPN norte-americana.
No final de junho, a armadora, que estava para escolher em qual universidade pretendia continuar sua carreira acadêmica e esportiva, se comprometeu em seguir por Florida State, equipe da divisão I da NCAA que obteve bom resultado no último torneio, parando em South Carolina, que viria a ser as campeã, no Elite Eight.
Izabela já teve passagens notáveis pelas seleções de base brasileiras, com destaque para os 24 pontos, sete assistências e cinco rebotes que teve contra os Estados Unidos na histórica vitória brasileira por 72 a 63 nas semifinais da Copa América Sub-16 de 2015. A equipe norte-americana era tricampeã da competição na ocasião.
O The Playoffs realizou uma entrevista exclusiva com Iza sobre o presente e futuro de seu basquete e o que ela espera de seus próximos passos na modalidade. Confira o bate-papo com a jovem armadora brasileira a seguir:
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The Playoffs – Primeiro, gostaria que você se apresentasse para o público que não te conhece muito bem ainda. Onde nasceu e foi criada, como e onde começou a jogar basquete e como foi parar no High School dos Estados Unidos?
Izabela Nicoletti – Izabela Nicoletti Leite, nascida em Americana-SP. Comecei a jogar basquete através de minha irmã, Mariane Nicoletti Leite, e minha prima, Natália Nicoletti. Isto quando tinha cinco anos e tudo com as técnicas Grasiele e Anne Freitas. Joguei pelo programa da Unimed Americana minha vida toda, mas quando eu tinha 14 anos o projeto de base acabou, e então eu teria que mudar de cidade para jogar. Por essa razão, eu resolvi mudar por completo e tentar algo nos Estados Unidos. Fui para lá através da ajuda do técnico Erick Hemming (técnico da academia Carolina Waves, primeiro time nos EUA, que a levou à Neuse School) e da família que eu moro lá, a família Hughes.
TP – Nos EUA ouve-se muito o termo “swagger” (de extrema confiança) quando falam do seu estilo de jogo e chegaram até a te chamar de mini-Diana Taurasi (armadora do Phoenix Mercury e maior cestinha da história da WNBA), principalmente por causa desse aspecto e outras coisas, como o espírito competitivo e a sede por grandes jogadas. Você acha que essas são suas principais características e o que fazem de você o que é hoje? São características que traz desde sempre ou desenvolveu ao longo do tempo?
Iza – Com certeza a palavra swagger é a que me define, pelo fato de eu jogar com ousadia e sempre feliz em estar em quadra. Sou muito confiante e não gosto de perder nem no par ou ímpar. Acho que isso é o que me faz sobressair, pelo fato do meu amor pelo esporte. Isso eu sempre tive. Desde pequena todos me conhecem pela alegria quando jogo e o fato de não querer perder.
TP – Como é sua rotina de treino/estudo para o basquete? Você acompanha e estuda as jogadoras da WNBA, quanto aos movimentos, posicionamento, postura dentro e fora da quadra, entre outras coisas? Quem são suas jogadoras e jogadores preferidos?
Iza – Minha rotina é bem corrida. Dias de semanas eu acordo às 7h, minhas aulas são das 7h30 até as 15h05. Saio da escola (Neuse Christian Academy) e já tenho treino lá mesmo. Pratico até às 18h e vou para academia, onde faço um treino sozinha com a ajuda de preparadores físicos do Brasil. Depois disso fico na quadra fazendo trabalhos individuais com o meu pai americano, Kevin Hughes, que também é meu técnico. Após isso tudo vou pra casa, estudo e durmo. Acompanho muito NBA e WNBA e sempre assisto a vídeos, levando-os para a quadra comigo para treinar. Diana Taurasi e Stephen Curry são os meus favoritos, acho que por serem da mesma posição.
TP – Em entrevistas recentes, li que você escolheu Florida State porque a comissão te deixou bem à vontade, a universidade teve boas experiências com estrangeiras e você gostou muito de lá. Gostaria de saber um pouco mais sobre a escolha. Quando você viu que era em FSU o seu futuro? Seus pais também tinham preferência por Florida State? Foi tranquila a decisão ou no fim tinha outra opção que você estava bem em dúvida, como Michigan, Tennessee ou UCLA?
Iza – A decisão foi muito difícil. Tive muitas universidades no começo e acabei optando por ir visitar Michigan, Tennessee, UCLA e Florida State. Nessas visitas meus pais me acompanharam. Todas as universidades foram muito boas, mas acho que eu me apaixonei por Florida State por causa dos técnicos do lugar e pelo fato de serem uma das melhores no basquete e estudos. Meus pais amaram Florida State também e isso ajudou muito na minha decisão. Creio que se eu quero ser a melhor, tenho que jogar com as melhores e no melhor lugar.
TP – Com quem você já teve contato em Florida State e o que ouviu do pessoal? Alguém como a técnica Sue Semrau, ou alguma jogadora, como a Leticia Romero? Conhece alguém pessoalmente de lá?
Iza – Sim, passei dois dias na minha visita lá e conheci todas as jogadoras e técnicos. Passei dois dias com eles. Florida State é uma universidade bem conhecida pelo basquete feminino.
TP – Quais aspectos do seu jogo você acha que são os mais deficientes no momento, os quais você acha que deve focar mais no desenvolvimento?
Iza – Acho que tenho que melhorar bastante na minha parte defensiva. Quero ser mais rápida, pular mais. Tenho muito o que melhorar para chegar onde quero.
TP – O fato de estar entre a 3ª e 4ª melhor prospecta nacional para o college te jogou algum tipo de pressão durante a temporada? Se sim, isso te motivou e melhorou seu jogo ou acabou sendo um obstáculo no desenvolvimento dele?
Iza – Acho que isso foi bem tranquilo. É algo super legal ser ranqueada como a quarta melhor do país pela ESPN, mas isso não deixa de ser algo somente no papel. Sempre soube que o ranking não ia me ajudar em nada, então nunca deixei isso atrapalhar o meu desenvolvimento.
TP – Como você vê o momento do basquete brasileiro, especialmente o feminino, tanto dentro como fora das quadras? Você acha que pode contribuir mais dentro da seleção brasileira (base e até adulta) com essa passagem (high school para o college)? Se sim, de qual forma?
Iza – Meu foco agora é continuar treinando e esperar por oportunidades. Eu tinha o sonho de jogar mais um mundial Sub-19, mas infelizmente não aconteceu pelo fato dos problemas da CBB com a FIBA. Agora que o Brasil não está mais suspenso eu sonho em poder ir para as próximas seleções, tanto a adulta como a de base. Sempre meu sonho foi representar meu país em uma Olimpíada e isso nunca vai mudar. Acho que agora, ir para uma universidade onde jogarei em outro nível me ajudará muito para ganhar experiência, poder trazê-la para o Brasil e ajudar nas próximas seleções.
(Fotos: Reprodução Facebook Izabela Nicoletti; e Reprodução Facebook / Neuse Christian Academy)