Presente e futuro: o que acontece com os Cavaliers e quais as perspectivas
Time sem vontade e com altos e baixos põe em xeque futuro da franquia; entenda o momento dos Cavs
A vitória do Cleveland Cavaliers sobre o Boston Celtics por 102 a 99 na estreia da temporada, ainda no dia 17 de outubro de 2017, mostrou para os torcedores que aquela era a rivalidade da Conferência Leste e aqueles eram os times que deveriam brigar pela primeira posição, algo herdado da temporada passada. Cerca de 50 jogos por time passaram e o novo Boston, olhado com um pouco mais de restrição, tornou-se realidade e lidera o Leste, enquanto que Cleveland parece ter entrado em uma montanha-russa logo após a partida de estreia.
E a montanha-russa não tem sido fácil. O começo claudicante iniciou-se com 4-6, na primeira semana de novembro, mas o time respondeu rápido e bateu 24-9 no fim de dezembro, auge dos Cavs na temporada. A partir daí, a descida foi grande, ou melhor, tem sido grande. Desde a derrota no dia de Natal (109 a 95 para o Golden State Warriors), a equipe acumula a campanha de 6-13 (25º entre todas as franquias, no período) e, nesta quarta-feira (07), está na terceira posição do Leste, com 30-22, mas somente 0,5 jogo à frente do Milwaukee Bucks, quinto colocado.
A sequência da equipe desde o Natal é terrível. Visivelmente apática em quadra, com a defesa sofrível e com diversos episódios da ira de LeBron James durante os tempos, a equipe sustenta seus piores números na temporada de longe. Nas 19 partidas disputadas, os Cavs sofreram 113,3 pontos de média (incluindo 127, 127 e 133 pontos sofridos em três jogos seguidos e absurdos 148 contra o Oklahoma City Thunder), permitindo 90,7 arremessos de quadra tentados, com 48,6% de conversão (30º entre todos os times, isto é, o pior do momento). Para efeitos de comparação, no período, os Cavs converteram média de 104,8 pontos por jogo, com 84,6 arremessos tentados e 44,1% de conversão (27º no período).
Ainda mais, desde o Natal, a equipe é uma das piores entre todas em praticamente qualquer estatística avançada. Em termos de offensive rating (média de pontos a cada 100 posses de bola), o time está em 24º, com 103,4 pontos, considerando defensive rating, Cleveland está na 29º posição, permitindo surreais 111,2 pontos a cada 100 posses do adversário, à frente apenas do Phoenix Suns.
Os números traduzem bem a passividade defensiva da equipe, frente a um ataque que piorou muito no último mês. Mais do que números, o que é possível observar nos jogos de Cleveland, além da passividade, é a falta de sintonia entre os jogadores e a falta de comunicação, características que parecem traduzir o clima geral da franquia. Episódio que escancarou a situação na franquia de Ohio foi a reunião no vestiário após a derrota acachapante para o Thunder no dia 20 de janeiro, em que os jogadores teriam questionado Kevin Love e a veracidade sobre a indisposição que o tirou da partida.
À época, os Cavaliers ainda perderam para o San Antonio Spurs na rodada posterior e agonizavam com a campanha de 3-10 desde o Natal (27-19 no total). Este foi o momento em que o Tyronn Lue resolveu mudar o quinteto, tirando a titularidade de Jae Crowder, jogando Love para a 4 e promovendo Tristan Thompson para o time titular na 5. A mudança aparentemente surtiu efeito e a equipe venceu três das quatro partidas seguintes, antes da humilhante derrota de sábado (03) por 32 pontos contra o Houston Rockets. Esta é a cara da temporada dos Cavaliers, com alguns altos, mas baixos desesperadores.
Isaiah Thomas é um símbolo do momento também. Vindo de uma temporada de 28,9 pontos de média por partida, com 46,3% de conversão nos arremessos de quadra e 37,9% nas bolas de três, o armador despencou na atual. Jogando sete minutos a menos em média, o baixinho acumula 15,2 pontos, mas aproveitamentos extremamente baixos. São 36,4% de conversão nos arremessos de quadra, sendo pífios 23,7% nas bolas de fora. Além disso, as deficiências defensivas de Thomas estão evidentes em Cleveland. Em Boston, Brad Stevens conseguia esconder Thomas com Marcus Smart, Avery Bradley e até mesmo Crowder, mas em Cleveland, com ausência de mão de obra e um sistema favorável, o armador sofre noite após noite.
Ademais, informações de Jason Lloyd, do The Athletic, nesta terça-feira (06), dão conta do distanciamento entre LeBron e a alta cúpula de Cleveland, mais precisamente, o proprietário, Dan Gilbert, e o general manager, Koby Altman. A relação, ou a falta dela, iniciou-se quando David Griffin, antigo general manager, fora mandado embora, mais a troca de Kyrie Irving pouco depois. Fato é que o último ano de contrato de LeBron (temporada 2018/2019) é uma player option e, pelo andar da carruagem, as notícias podem não ser boas para os torcedores. Apesar dos atritos, o ala está em uma temporada formidável, com médias de 26,3 pontos, 8 rebotes e 8,6 assistências.
Administração e jogadores já falaram sobre a vontade de manter Lue à frente do time, porém, a postura em quadra parece a de um time que quer fazer de tudo para tirar o comandante, criando um ambiente controverso e totalmente aberto. De fato, colocar a culpa nas costas de Lue e pedir por uma troca de técnico seria uma saída fácil para buscar uma mudança, jogando com a torcida, porém penso em outros cenários, mexendo com o elenco.
Dois cenários, totalmente distintos, mas bem possíveis, podem ser vistos para Cleveland neste momento: uma mudança radical no elenco, visando a briga pelo título ainda nesta temporada, ou a tentativa de reconstrução olhando para o futuro.
O atual elenco está de fato condenado, por isso, para brigar por um título agora, os Cavs deveriam cercar LeBron de armas que encaixem a seu jogo. No mercado, à beira da trade deadline desta quinta-feira (08), Lou Williams, DeAndre Jordan e Kemba Walker são nomes disponíveis que teriam impacto imediato no elenco. Para isso, fatalmente, a franquia teria que abrir mão da escolha de primeira rodada do Draft 2018 do Brooklyn Nets, algo delicado, já que LeBron tem a possibilidade de sair na offseason e a escolha será alta.
Se escolher abdicar de resultados imediatos (digo, possivelmente, pelos próximos cinco ou mais anos) e mirar no futuro, trocar LeBron James pode ser uma saída. Em um pacote envolvendo o astro, os Cavs buscariam jogadores jovens promissores e escolhas de primeira rodada, partindo para uma reconstrução definitiva. O problema é este prazo. Para Cleveland, mercado reconhecidamente difícil de abocanhar agentes livres, os anos de vacas magras podem perdurar mais do que o esperado, vide o que até uma franquia grande como o Los Angeles Lakers vem passando.
Nesta terça-feira (06), a equipe levou terríveis 65 a 31 do Orlando Magic no segundo tempo e amargou mais uma derrota. Os Cavs voltam às quadras nesta quarta-feira (07), quando enfrentam o Minnesota Timberwolves, em casa.
(Fotos: Reprodução Facebook / NBA; Reprodução Facebook / Cleveland Cavaliers; Reprodução Twitter / Cleveland Cavaliers)