Meus votos para a classe 2019 do Hall da Fama do Beisebol
Não tenho direito a voto na eleição do Hall da Fama do Beisebol. Se tivesse, em 2019 eu escolheria...
No ano passado, aproveitando a longa intertemporada da MLB e o fato de o Hall da Fama do Beisebol ser talvez o mais relevante entre as quatro grandes ligas do esporte norte-americano, fizemos uma brincadeira aqui no The Playoffs: inspirado no pedido do leitor Marcelo Magnabosco, em nosso grupo de Whatsapp, eu simulei uma cédula e, como se fosse um eleitor do Hall da Fama, votei nos nomes que indicaria da classe de 2018.
Achou que a divulgação dos escolhidos em 2019 chegaria sem esse momento? Achou errado. Vou repetir o exercício, e provavelmente haverá diferenças nas listas, consequência de dois fatores: a mudança no grupo de candidatos, com novos nomes chegando e outros deixando a lista, e alterações na forma como o eleitor vê a situação. Acreditem, é exatamente assim que funciona na eleição ‘real’, comandada pela Baseball Writers’ Association of American (BBWAA), entidade que reúne os jornalistas que cobrem o esporte.
À lista, então!
(Foto: Al Bello/Getty Images)
Mariano Rivera
Sim, o maior closer da história da MLB. “Mo” revolucionou a posição, que já ganhava importância, e tão importante quanto, o panamenho foi brilhante por quase duas décadas, com a mesma franquia, o New York Yankees, (a mais analisada pela imprensa), brilhou nos playoffs e basicamente utilizava só um arremesso, o cutter. Alguns números que justificam a escolha: 2.21 de ERA em 19 anos de carreira, desempenho 105% melhor do que a média da MLB, 652 saves (maior marca da história), 13 participações no All-Star Game, cinco temporadas no top-5 do Cy Young, apenas 71 home runs cedidos em quase 1.300 entradas.
Roy Halladay
Halladay era o melhor arremessados da MLB quando comecei a acompanhar o esporte. Segundo e último a conseguir um no-hitter nos playoffs, brilhou com o Toronto Blue Jays quando a franquia era saco de pancadas na AL East, mudou-se para Philadelphia, ajudou os Phillies a conquistar a sonhada World Series e levou o Cy Young nas duas ligas, algo raro. Fechou a carreira com 3.38 de ERA, 31% acima da média da MLB, oito participações no All-Star Game, um jogo perfeito e 203 vitórias. Halladay morreu tragicamente em um acidente de avião há cerca de um ano, e sua ausência na cerimônia de indução será sentida.
Edgar Martinez
Vale aqui o texto escrito em 2018: Um dos melhores rebatedores designados dos últimos 30 anos. OPS+ 47% melhor do que a média da MLB, sete participações no All-Star Game, quatro prêmios Silver Slugger. Espetacular percentual de chegada em base na carreira (41,8%) e médias de 41 rebatidas duplas e 99 corridas impulsionadas por ano. Praticamente não defendia e, ainda assim, tem o 112º maior WAR da história. Um talentoso jogador, até agora prejudicado por ser DH em grande parte da carreira, que tem a última chance, pois sairá da lista após esta eleição ao cumprir os 10 anos de prazo. A eleição de Martinez servirá como base para a escolha, em alguns anos, de David Ortiz.
Mike Mussina
Mussina é visto com desconfiança por quem foca os votos em números clássicos, pois não ganhou Cy Young e tem um ERA considerado elevado (3.68). No entanto, é importante lembrar o contexto: ele atuou a vida inteira na forte AL East, ganhou seis Gold Gloves, disputou cinco vezes o All-Star Game, tem desempenho 23% melhor do que a média da MLB no período em que jogou e era um bom nome nos playoffs, com 3.42 de ERA em 23 jogos.
Curt Schilling
Dono de (muitos) comentários polêmicos, o ex-arremessador certamente perde votos quando fala mais do que devia, mas o que fez no montinho justifica o voto. Foram 20 anos de carreira, com ERA de 3.46 (27% acima da média da MLB), seis seleções para o All-Star Game, três ‘vices’ no Cy Young, três títulos de World Series, sendo co-MVP em 2001, e um pico de 10 temporadas fantástico entre 1995 e 2004, com ERA de 3.25 e desempenho 40% melhor do que a média da liga.
Omar Vizquel
Um mago defensivo, que merece o voto até para provar que nem só de ataque é feito um time de beisebol. O venezuelano 9atuou como shortstop por mais de 20 anos, levando 11 Gold Gloves, nove delas em sequência a partir de 1993 (as duas últimas vieram aos 38 e 39 anos), com contribuição defensiva tão grande quanto a ofensiva de acordo com as métricas, algo raro (e que, verdade seja dita, mostra como ele não era uma grande ameaça cada vez que rumava ao batter’s box).
Todd Helton
O Coors Field certamente inflou as estatísticas do infielder, e isso pode dificultar sua vida perante os jornalistas mas, entre 2000 e 2005, Helton foi um dos melhores rebatedores da MLB, com média de 34,4% de aproveitamento, 49 duplas, 34 home runs e mais de 115 corridas impulsionadas a cada ano. No total, mesmo anulando os benefícios trazidos pela altitude, Helton teve números 33% superiores à média da MLB, disputou cinco vezes o All-Star Game, levou três Gold Gloves e quatro Silver Slugger.
Ausências
Esses seriam meus sete votos. Se você está procurando por Barry Bonds e Roger Clemens, deixo abaixo o texto do ano passado, explicando a razão que me faz não colocar os dois na lista: eu não sou ingênuo ou purista de imaginar que não há doping no esporte atualmente. Sim, há casos de doping na MLB. A quantidade era muito maior (acredita-se) quando Bonds isolava bolinhas pelo San Francisco Giants e Clemens encaçapava vitórias por New York Yankees, Toronto Blue Jays e Houston Astros, entre outros.
É difícil, porém, conceber que jogadores pegos no doping e envolvidos em escândalos que atingiram níveis federais, entrem no Hall da Fama. É a mesma razão pela qual Manny Ramirez dificilmente será eleito. A comparação não é a ideal, mas se a participação em um esquema de apostas deixa de fora Pete Rose, recordista de rebatidas na história da MLB, o doping será a kryptonita de Clemens e Bonds. De certa forma, ambos pagam (e, talvez, pagarão por anos) o preço por tentar ser mais espertos que os demais, algo que a sociedade norte-americana não costuma aceitar bem.
Isso quer dizer que ambos não serão eleitos? Não. A lista de membros da BBWAA muda a cada ano, e os novos eleitores são, segundo a imprensa dos Estados Unidos, mais propensos a votar nas duas lendas, minimizando os escândalos. O desempenho justifica a entrada de ambos no Hall da Fama. O caso é tão polêmico que, talvez, você veja um artigo meu em 2020 justificando os votos no outfielder e no arremessador. Em 2019, porém, a justificativa é por deixar os dois fora da minha fictícia cédula.